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Covid pressiona abertura de leitos

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Luiz Henrique Gomes
Repórter
Quando o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus foi confirmado no Rio Grande do Norte, no dia 12 de março, autoridades de Saúde do Governo do Estado e da Prefeitura do Natal convocaram a imprensa para apresentar um plano para conter a pandemia. Naquele momento, 60 leitos críticos (de Unidade de Terapia Intensiva ou semi intensivo) foram apresentados e considerados seguros para dar assistência aos futuros infectados, apesar do reconhecimento de que a pandemia poderia exigir mais. Dois meses depois, o Estado possui 156 leitos críticos em funcionamento, praticamente 100 a mais que o planejado em março. Desses, 149 (82%) estão ocupados. O coronavírus avançou para além da capacidade de atendimento da rede pública de saúde em pouco tempo.
Nesta semana, deverão entrar em operação aproximadamente 40 leitos de UTI contratados junto à LIGA pelo Governo do RN. Respiradores foram enviados ao interior
Até esta segunda-feira, 25, mais de 4,7 mil pessoas no Rio Grande do Norte tinham sido infectadas pelo novo vírus e registradas nas estatísticas oficiais do Estado. O número de mortos pela doença chegou, no mesmo dia, a 212. A rede de saúde pública expandiu, mas convive com a ocupação total dos leitos nas regiões metropolitana de Natal e na região Oeste, as duas mais afetadas pela pandemia. Apesar dos 156 leitos críticos, 26 pessoas estavam em estado grave ou muito grave internados em unidades municipais à espera de transferência para assistência intensiva.
O plano de contingência apresentado no dia 12 de março foi revisto pelo menos duas vezes para adequar as estratégias da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN). A versão mais atualizada do plano de contingência é do dia 7 de maio, quando o Estado possuía 1.821 infectados confirmados e 86 mortes. Ele conta com 257 leitos de UTI planejados para serem abertos nos próximos meses em 35 unidades de saúde (públicas e privadas contratadas). Em março, o plano contava com 11 unidades.
Entretanto, a abertura dos leitos encontra dificuldades. No plano de março, por exemplo, o Hospital Rafael Fernandes, em Mossoró, foi incluído entre hospitais de retaguarda com leitos clínicos (para casos de menor complexidade) que poderiam ser acionados caso o número de internações crescessem no Hospital Regional Tarcísio Maia, escolhido como referência para a Covid-19. A região de Mossoró foi a primeira a ter todos os leitos públicos críticos específicos para a Covid-19 ocupados no hospital de referência, mas o Hospital Rafael Fernandes permaneceu sem ter leitos até a semana passada. Para a região, a Sesap/RN precisou contratar leitos de entidades privadas e evitar o colapso total.
Dificuldades
Na semana passada, o secretário-adjunto da Saúde, Petrônio Spinelli, afirmou que o Estado enfrenta dificuldades principalmente de recursos humanos, por falta de equipes médicas. Mais de 400 profissionais foram contratados emergencialmente nos últimos dois meses, mas o número é limitado para expandir a rede na velocidade ideal. “Às vezes, o nosso problema não é respiradores, mas uma falta muito grande de recursos humanos e outros pequenos detalhes”, afirmou Spinelli.
Em calamidade financeira desde janeiro de 2019, o Estado também desistiu de planos para abertura de leitos emergenciais considerados “economicamente inviáveis”. No início de abril, um Hospital de Campanha na Arena das Dunas chegou a ser licitado com a previsão de 53 leitos de UTI, mas as propostas foram recusadas pela Sesap/RN por serem consideradas acima do teto estipulado em edital.
Para o comitê técnico formado pela pasta com a participação de infectologistas, epidemiologistas e outras especialidades, a estratégia mais viável para a abertura de vagas de atendimento e internação é a contratação de leitos particulares. Essa estratégia começou a ser adotada há pouco mais de 30 dias. Atualmente, 39 leitos de UTI são de hospitais privados que foram contratados.
Taxa de isolamento social cai no RN ao longo de 2 meses
Os medidores de distanciamento social para conter o coronavírus, registrados pela plataforma InLoco, indicam que o Rio Grande do Norte não tem uma adesão de pelo menos 50% da população em dias de semana pelo menos desde o dia 25 de março. Desde essa data, o índice de cumprimento das medidas alcançou metade da população somente em feriados e finais de semana, quando normalmente parte dos serviços fecham e os movimentos nas cidades diminuem. Neste domingo, 24, por exemplo, a adesão chegou a 52%.
Prefeitura do Natal recebeu 40 respiradores e camas elétricas do Governo Federal para montar leitos de UTI no Hospital de Campanha
Para a Sesap/RN, o aumento exponencial do número de casos, que partiu de dois mil para quatro mil em seis dias, é justificado pela adesão abaixo do mínimo, aliada às aglomerações geradas no fim de abril pelo pagamento do auxílio-emergencial. “Vivemos uma ‘ressacada’ do auxílio-emergencial, e é muito importante entender o impacto que ele teve no nosso quadro atual”, avaliou o secretário-adjunto, Petrônio Spinelli, no dia 15 de maio.
Para Marise Reis, médica infectologista e integrante do comitê técnico da Sesap/RN, as medidas de distanciamento social do Rio Grande do Norte causaram um impacto positivo nas primeiras semanas, mas houve um ‘cansaço’ por parte da população nas semanas seguintes. “Essa é a consequência de você tomar ações iniciais rapidamente: as pessoas também se cansam mais rápido. Isso precisa ser contornado”, avaliou Reis à TRIBUNA DO NORTE no início de maio.
Respiradores possibilitam abertura de novos leitos
No domingo passado, 26, o Estado abriu 34 dos 40 leitos planejados para tratamento de Covid-19 no anexo do Hospital Dr. Luiz Antônio, da LIGA Contra o Câncer, nas Quintas. Ao todo, 20 leitos clínicos e 14 leitos de UTI foram abertos, resultados de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Governo do Estado e LIGA Contra o Câncer, com participação dos Ministérios Público Federal, Estadual e do Trabalho. A chegada dos novos respiradores vai possibilitar a abertura dos 6 leitos restantes, de acordo com a Sesap/RN, o que tem previsão de ser feito até esta quarta-feira, 27. 
Agora, as atenções do Governo estão voltadas para a abertura de novos leitos no Hospital João Machado, também em Natal, onde o objetivo é abrir 20 de UTI e outros 40 de enfermaria com respiradores para atender aos pacientes com Covid-19.
Além da LIGA e do João Machado, os demais respiradores recebidos pelo Governo do Estado devem ser distribuídos para Mossoró (5) e para o Seridó (5). “Essencialmente, o que nós queremos é obedecer a lógica de expansão de leitos de acordo com a demanda que vai aparecendo”, destacou Petrônio Spinelli.
A ocupação dos leitos será feita a partir do sistema Regula RN, da Sesap/RN, que concentra os pedidos de transferência de pacientes para leitos Covid-19.  Segundo o secretário estadual de saúde, Cipriano Maia, as unidades reforçarão a assistência do sistema público. “É também importante reforçar que continuaremos na luta para fortalecer o sistema de saúde do RN, buscando abrir mais leitos em todas as regiões de saúde do Estado”, afirmou.
A parceria entre o governo estadual e a LIGA será por até seis meses. O documento estima que podem ser aplicados até R$ 22 milhões, sendo parcelas de até R$ 3 milhões mensais ao longo dos meses em que o contrato durar. Outros R$ 4 milhões foram investidos nas obras físicas, aquisição de equipamentos, insumos e medicamentos, além do custeio da mão de obra e de operação.
Hospital de Campanha
O prefeito de Natal, Álvaro Dias, anunciou, nesta segunda-feira, 25, a chegada de 40 respiradores e 20 camas elétricas, que serão usados no tratamento dos pacientes com a Covid1-9 dentro do Hospital de Campanha de Natal.
Os respiradores, enviados pelo governo federal, serão distribuídos da seguinte forma: 20 para os leitos de UTI e 20 respiradores de transporte. Já as camas, adquiridas com recursos próprios da Prefeitura do Natal, serão usadas também para equipar os leitos de UTI.
 “Com a chegada destes equipamentos, a UTI do nosso Hospital de Campanha estará funcionando plenamente ainda esta semana, trazendo um pouco mais de tranquilidade dentro deste mar de turbulências causado pelo coronavirus”, destacou o prefeito.
O chefe do executivo municipal ainda ressaltou a aquisição de mais equipamentos. “Adquirimos, junto à Philips, mais 50 respiradores que, assim que chegarem, irão equipar as unidades da rede municipal de saúde”.
Álvaro Dias comentou, ainda, a busca por recursos para a área da saúde. “Estou indo hoje (ontem) à Brasília atrás de recursos para que possamos continuar enfrentando essa pandemia. E confio muito que iremos conseguir, pois contamos sempre com a boa vontade do governo federal”, declarou.
Nesta segunda-feira, o Hospital de Campanha de Natal tinha 15 pacientes internados recebendo tratamento contra a Covid-19.
Profissionais lidam com nova realidade
A presença do novo coronavírus na região Oeste levou pânico aos profissionais de saúde pelo desconhecimento da doença. Segundo a diretora do Hospital Regional Tarcísio Maia, Herbânia Ferreira, “os servidores ficaram realmente apavorados, alguns precisaram de acompanhamento psicológico”. Muitos testaram positivo para coronavírus. Ao longo dos dois meses da pandemia, lidar com a doença foi uma das principais mudanças nos serviços de saúde. “Isso foi sendo resolvido com a qualificação [dos profissionais] em cursos e oficinas”, afirmou.
Mossoró foi a primeira cidade do Rio Grande do Norte a registrar uma morte por coronavírus, no dia 28 de março. A vítima foi Luiz di Souza, professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). A morte chamou atenção das autoridades para a gravidade da região Oeste, que chegou a estar entre as dez regiões do país com maior coeficiente de mortalidade pelo novo coronavírus.
A explosão dos casos levou à uma corrida aos hospitais, mas a situação, hoje, é mais compreendida pela população, afirmou Herbânia. “Muitos pacientes chegavam ao hospital no início com crise de ansiedade, confundindo os sintomas com o da Covid-19. Nós somos uma unidade regulada. A porta de entrada de pacientes são as UPAs, mas muitos procuravam aqui diretamente. E a gente depois via que era uma crise aguda de ansiedade. Agora isso tem acontecido com menos intensidade”, declarou.
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