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Cratera ‘engole’ quatro caminhões

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BURACO - Desabamento em obra do metrô paulista assustou e pode ter vítimasSão Paulo (AE) – Um deslizamento de terra no canteiro de obras da Estação Pinheiros, da Linha 4 do metrô, abriu ontem, às 14h55, uma cratera de 80 metros de diâmetro por 30 de profundidade, que engoliu quatro caminhões, dois carros e provocou a interdição da Marginal do Pinheiros. Bombeiros temiam que o afundamento tivesse soterrado um microônibus com seis pessoas. Pelo menos 79 famílias de ruas próximas ficaram desabrigadas e foram levadas para hotéis. Até o início da noite, os bombeiros haviam retirado da cratera apenas o motorista de um dos caminhões. A primeira informação era de que ele estava bem.

Bombeiros usaram cães farejadores e pediram a helicópteros de TV que se afastassem para que o barulho não abafasse pedidos de socorro. O microônibus da empresa Transcooper, com motorista, cobrador e quatro passageiros, continuava desaparecido às 21 horas. Funcionários da cooperativa informaram que o último registro captado por GPS do veículo foi na Rua Capri, a mesma onde estava estacionado o Fiesta preto do designer Cadu Junqueira, engolido pela cratera.

As causas do deslizamento – o 10º acidente da Linha 4 – ainda serão investigadas. O secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, descartou a hipótese de explosão acidental. Operários que estavam no canteiro de obra contaram que houve dois desmoronamentos. “O primeiro foi às 14h45. A terra começou a cair, mas foi pequeno. O pessoal da segurança pediu para evacuar o local, pouco depois caiu tudo”, contou o motorista Roque Udson.

O frentista José Esmeraldino, que também estava dentro do túnel com outras 15 pessoas, disse que todos saíram quando pedras começaram a cair do teto. Já Jorge Luiz Andrade Bordaz, morador da Rua Capri, contou que estava vendo televisão quando ouviu o túnel desabar e viu o piso de casa afundar. Sua porta teve de ser arrombada para que ele, os pais e um sobrinho pudessem sair.

“Estou impressionado com o buraco. Olhando daqui parecem carrinhos de brinquedo”, disse o governador José Serra (PSDB), que só apareceu à noite, e garantiu que não há risco de a obra parar. “Haverá soluções de engenharia para isso.” Serra declarou também que o governo dará todo apoio às famílias que tiveram suas casas prejudicadas e a possíveis vítimas.

“A obra vai ficar pronta no primeiro semestre de 2009”, prometeu o presidente do Metrô, Luiz Carlos David, garantindo a manutenção do cronograma. O prefeito Gilberto Kassab (PFL), que classificou a obra do metrô como a mais importante da cidade, chegou de helicóptero ao local. E avisou que, por precaução, a via local da Marginal ficará interditada por tempo indeterminado. Já a expressa, fechada entre 15h25 e 16h10 e entre 18 horas e 19h30, foi liberada. “O isolamento está feito num raio de 200 metros do acidente”, explicou Kassab.

O  maior medo dos técnicos à tarde era que a grua de 50 toneladas também despencasse. A previsão de chuva aumentava o temor. À noite, caminhões fariam 400 viagens carregados de concreto pela contramão da Marginal.

Carro de tatuador é destruído

São Paulo (AE) – O tatuador Rodrigo Sanches Pinto, de 29 anos, acostumou-se a administrar duas tensões de seus clientes. Além do nervoso natural diante da agulha, as pessoas sempre se assustam com as explosões das obras da Estação Pinheiros do Metrô, cujos estrondos são ouvidos diariamente no estúdio. “Isso aqui treme todo dia. Até de madrugada, em casa, que é aqui perto, eu ouço o barulho”, diz o tatuador.

O estúdio fica na Rua Pais Leme, uma das quatro ruas que contornam o buraco aberto ontem. Num corredorzinho externo é possível ver várias rachaduras e ondulações nas paredes. “Foram as bombas”, acredita o tatuador.

Ontem à tarde, agulha em mãos, olhos no cliente, o tatuador largou tudo e se abaixou ao ouvir o barulho do desabamento. “Primeiro ouvi o som de um cabo de aço se quebrando, depois uma coisa pesada caindo no chão e depois um estrondo maior”, contou. Segundos depois, a luz acabou.  O tatuador correu até a porta e viu a grua girando muito rápido, sem ninguém dentro. “Pensei que ia cair. Até que o contrapeso virou para o lado, equilibrou e ele parou.” De cima do muro do corredor externo, na seqüência, ele testemunhou vários deslizamentos e rachaduras atravessando as ruas e chegando às casas dos vizinhos.

Nenhum agente público pediu para ele deixar o estúdio, como ocorreu com alguns vizinhos, mas Sanches Pinto fechou tudo e saiu de lá. Amanhã ainda não sabe o que vai fazer. Se não tiver energia, não consegue trabalhar. Se a luz voltar, não decidiu se arrisca. “Dá medo, né?” O designer Cadu Junqueira estava voltando do almoço para sua mesa de trabalho, na Editora Abril, quando ouviu um barulho de explosão e uma colega gritou: “Olha o caminhão caindo!” Ele viu o buraco se formando.

Junqueira desceu correndo pelas escadas de emergência do prédio e foi na direção de seu Fiesta Preto, que estava estacionado na Rua Capri. “Mas não pude vê-lo, quando cheguei a área estava sendo interditada.” Voltou para casa de carona e ligou a televisão. Mas, pelas imagens aéreas, não conseguiu encontrar o veículo. “O carro não estava mais lá, desabou junto com a rua”, lamenta.

Ele tem seguro, mas o contrato cobre furto, colisão e incêndio. “Não fala nada sobre desabamento. A seguradora disse que estudaria o caso, mas que primeiro eu deveria fazer um B.O.”, informa.  Na delegacia, o designer descobriu que precisava dos documentos do carro para fazer o boletim. “Só que os documentos estavam dentro do carro. Não adiantou eu mostrar IPVA nem documento de compra. Agora, vai saber quando vão tirar o carro de lá para eu arrumar tudo isso.”

Obra está em área de alto risco

São Paulo (AE) – Primeiro presidente da Companhia do Metropolitano, entre 1970 e 1977, o engenheiro Plínio Oswaldo Assmann, de 73 anos, disse que os técnicos do Consórcio Linha Amarela assumiram um grande risco ao optarem pela obra subterrânea no trecho às margens do Rio Pinheiros. Por ter sido várzea, o terreno naquele ponto é alagadiço, o que faz aumentar as chances de deslizamentos de terra. 

Assmann fala com a propriedade de quem já esteve diante de um solo com as mesmas características. Durante a construção da Linha 3 (Vermelha), diz ele, os técnicos do Metrô tiveram de alterar o projeto previsto para a região da Baixada do Glicério, no centro de São Paulo, justamente por temerem um acidente como o ocorrido ontem. “Aquela região fica vizinha ao Rio Tamanduateí e também tem um solo muito difícil de se trabalhar. Na ocasião, avaliamos os riscos, conversamos com o prefeito Figueiredo Ferraz (no passado, a companhia foi subordinada à Prefeitura) e decidimos construir um elevado”, lembra Assmann.

A retificação do Rio Pinheiros e posterior ocupação da várzea transformou o subsolo da região em uma caixinha de surpresas, explica o geólogo e professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo Cláudio Riccomini, que pesquisa o subsolo da capital. Segundo ele, o acidente foi uma fatalidade provocada pela dificuldade em conhecer certas particularidades do subsolo de uma região como aquela. “O Metrô nunca poupou investimentos em sondagens”, afirma o geólogo.

A pedido do Grupo Estado, Riccomini analisou a cratera pelas imagens da TV. O solo do buraco tem três faixas, explicou o geólogo. A primeira, escura, de mais ou menos 1 metro de largura, é formada de solo orgânico. Logo abaixo, vem uma faixa de 5 a 7 metros de areia, seguida de um material mais duro. “O problema é essa areia”, diz Riccomini. “É um material frágil, friável, ou seja, não compactável”, afirma. Tanto a argila quanto a areia são elementos típicos de margem de rio. “É algo que está ali há centenas de anos. Não é de agora.”

Retificado a partir da década de 40, as margens do Pinheiros eram sinuosas e não retilíneas como . Riccomini conta que a característica do rio era a de “meandrante” – cujo curso muda constantemente de lugar. Essas alterações foram levando ao depósito de argila e material orgânico em diversas partes da região. Por isso, fazer escavações levando em consideração a distância da margem do rio não funcionam no local. “Com a retificação e a ocupação das margens, ficou impossível de saber exatamente o que tem no subsolo”, afirma Riccomini.

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