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Cresce atividade de bikeboys em Natal; rotina incerta e arriscada

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Ícaro Carvalho
Repórter

“Rapaz, posso falar com você, se for rapidinho. Tô esperando uma entrega”, é o que diz Gabriel Dantas, 20 anos, entregador de aplicativos que utiliza uma bicicleta em um shopping de Natal, quando aguardava para receber hambúrgueres, sua próxima entrega do dia. Ele faz parte de uma nova modalidade, que se expandiu em Natal nos últimos meses, e tem atraído natalenses desempregados ou em busca de ganhos extras. Com jornadas de trabalho que variam de 5 a 8 horas por dia, com ganhos entre R$ 100 e R$ 200 por semana, além de exercer uma atividade sem regulamentação, os ”bikeboys” se arriscam no trânsito e competem com as motos do mercado de delivery para entregar a comida quentinha aos clientes.

Entregas por bicicleta se expandiu em Natal nos últimos meses e tem atraído natalenses desempregados ou em busca de ganhos extras
Entregas por bicicleta se expandiu em Natal nos últimos meses e tem atraído natalenses desempregados ou em busca de ganhos extras

#SAIBAMAIS#A reportagem do jornal TRIBUNA DO NORTE mapeou lugares e conversou com vários ciclistas durante essa semana para saber mais detalhes da nova profissão que tem tomado conta das vias de Natal, que carece de rodovias específicas para os ciclistas. Nos corredores da capital, eles precisam brigar pelo espaço com os carros, ônibus e motos.

Posicionados nos estacionamentos de shoppings, supermercados e nas principais avenidas, os ciclistas ouvidos pela reportagem trabalham em dois horários: na hora do almoço, das 11h às 15h; e no período da tarde, variando das 14h ou 15h até às 22h e 23h. Além de passar o dia pedalando, eles precisam voltar para casa também em cima da bicicleta. A maioria mora em outras zonas da cidade.

Em Natal, pelo menos quatro empresas ofertam esse serviço de delivery com a utilização das bicicletas: Ifood, Uber Eats, Rappi e Bee. As bags (como os trabalhadores chamam suas mochilas térmicas) utilizadas pelos ciclistas são cedidas em eventos e ações ou compradas junto às empresas. O valor, que vai de R$ 40 a R$ 80 na Rappi, e é de R$ 75 na Uber, é pago em viagens, ou seja, o ciclista começa a trabalhar “devendo” à marca para poder obter os lucros iniciais. Os ciclistas também podem comprar bags usadas e fazer entregas para outros apps, independente da mochila que estiver portando. Para ter cadastro nos aplicativos, os entregadores precisam ter acima de 18 anos e passam por uma avaliação prévia junto às empresas.

Os perfis dos entregadores de bicicletas são dos mais variáveis. Os ciclistas ouvidos pela reportagem são homens entre 18 e 40 anos, usam o aplicativo como única forma de ocupação ou como fonte renda extra e trabalham de dois a seis dias por semana. O modo de se vestir e a estrutura da bicicleta também mudam: alguns usavam capacete, luvas, calças e camisas de manga longa, enquanto outros usavam bermudas, bonés e chinelos. A reportagem não viu nenhuma ‘bikegirl’. As empresas não exigem equipamentos de segurança.

O fator “falta de respeito no trânsito” por parte dos motoristas foi citado por todos os entrevistados, o que mostra a falta de espaços adequados para os ciclistas. De acordo com a Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU), a capital potiguar tem 67,73 km de estrutura cicloviária. A expectativa é ultrapassar os 200 km até o final do ano que vem.

Dessa estrutura, são 19,32 km de ciclovias; 19,16 de ciclofaixas; 14,9 km de faixas compartilhadas com ônibus; 12,8 km de ciclofaixas divididas com pedestres e 1,55km de ciclorrotas, no anel viário da UFRN.

Falta de regras deve ser discutida pelo Legislativo

Quem vê com preocupação o crescimento da modalidade em Natal é o advogado especialista em Direito do Trabalho, Glaydson Soares. De acordo com Soares, a falta de regramento mínimo e a não regulamentação precisam ser vistas pelo poder legislativo.

“Esse modo de trabalho não tem nenhum regramento mínimo. A nossa legislação ainda está omissa. O poder legislativo tem que evoluir para buscar um regramento mínimo, estabelecendo quanto esses autônomos teriam que trabalhar, carga horária, valores, e isso nos traz preocupação”, aponta.

Em Natal, a Câmara Municipal de Vereadores informou que não há nenhum projeto de lei em discussão para regulamentar uma política pública da atividade.

A reportagem procurou o  Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Norte, que afirmou ainda não existir nenhum procedimento para apurar a recente atividade na capital potiguar.

“Nós não temos nenhum procedimento concluído e provavelmente nem em andamento ainda a respeito dessa atividade de entregadores de bicicletas. O que poderia ser em tese, risco de problema, é se há vínculo de emprego ou se a atividade gera vínculo. Essa atividade ainda não foi por nós mapeada”, disse Calisto Torres, chefe da Fiscalização da Secretaria de Inspeção do Trabalho.

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