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Cresce número de alunos estrangeiros na UFRN

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Roberto Lucena – repórter

Quem percorre pelas salas e corredores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) percebe que, nos últimos anos, a presença de alunos oriundos de outros países aumentou consideravelmente. Antes restrito à países da África e América Latina, a celebração de acordos com universidades internacionais expandiu e, no intervalo de seis anos, o número de intercambistas aumentou dezessete vezes. A cada semestre, europeus, latinos e até mesmo chineses desembarcam na maior universidade do Estado.
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Atualmente, a UFRN mantém acordos de cooperação acadêmica com 23 países e mais de 70 instituições de ensino superior. O último documento assinado nesse sentido foi com a Guangdong University of Foreign Studies (GDUFS). O objetivo do acordo, segundo o documento assinado por ambas universidades, é “promover intercâmbio e colaboração cultural e educacional entre as partes envolvidas enquanto parceiros educacionais”. Entre as atividades que podem ser desenvolvidas, estão pesquisas e publicações conjuntas, visitas, compartilhamento de materiais acadêmicos, produção conjunta e realização de cursos e programas.

Mas na prática, no cotidiano universitário, o intercâmbio proporciona aos estudantes outros conhecimentos que não estão previstos ou combinados nos acordos. “É uma experiência muito rico para os alunos que chegam e para aqueles que têm contato com os intercambistas. A troca de informações, conhecimento de uma cultura e língua diferente da nossa é importante para a formação do aluno”, conta Djalma Arlindo Marinho Pereira, responsável pelo setor de Mobilidade Acadêmica da Secretaria de Relações Internacionais e Interinstitucionais  (SRI) da UFRN.

A maioria dos acordos em vigência da UFRN é com universidades da França e Portugal. Além destes países, Argentina, Alemanha, Espanha, Canadá, Estados Unidos, entre outros, têm protocolos assinados com a universidade. A última turma de alunos intercambistas chegou a Natal em agosto passado. Atualmente, são 68 alunos de diferentes países. Nesse número, não estão contabilizados os alunos de origem africana. “No caso dos alunos de origem africana, o tempo de permanência é maior. Eles fazem o curso completo, como orienta um programa do Ministério da Educação”, explica Djalma. “Os alunos das outras universidades, passam seis meses ou um ano em Natal”, completa.

Diogo Raposa, 23 anos, cruzou o  oceano Atlântico e desembarcou no Aeroporto Augusto Severo em fevereiro passado. Chegou ao Brasil em pleno carnaval. O estudante de Aquicultura veio com a intenção de passar seis meses. “Mas resolvi ficar mais um semestre para dar continuidade aos estudos para meu mestrado”, explica. Diogo é português e, reservando-se as devidas proporções, assim como seus conterrâneos que aqui chegaram há 512 anos, também ficou surpreso com o país. “Não esperava essa receptividade do povo. Pouco conhecia sobre o Rio Grande do Norte e a expectativa que tinha, confesso, não era boa. As notícias que lia não me animavam, no entanto, posso dizer que aqui é muito bom”.

A estudante de Administração, Melody Ferraro, só volta para a cidade de Santa Fe, distante 600 quilômetros de Buenos Aires, em novembro. No entanto, a argentina de 21 anos já pensa em retornar ao país. Da próxima vez, definitivamente. A “hermana” não esconde o amor que sente pelo Brasil e conta que a rivalidade entre os países não atrapalha. “Acho o Brasil um país muito agradável. A universidade é muito boa”, diz.

A maioria dos estudantes intercambistas mora na zona Sul da cidade. Capim Macio e Ponta Negra são os bairros preferidos. O motivo é a oferta de imóveis e, claro, a proximidade com a praia mais famosa de Natal. O problema é o custo de vida. Nem todos ganham bolsa de estudo e precisam bancar a permanência no Brasil. O custo mensal, em média, é de R$ 2 mil. “Por causa disso, muitos europeus acabam fazendo intercâmbio na própria Europa. Nós tivemos que economizar e escolhemos vir para o Brasil. Não me arrependo”, diz Daniel Sierra, 23 anos, estudante de Educação Física, resumindo o que pensa uma turma de mais três espanhóis que estudarão em Natal até o fim deste ano.

UnP recebeu, este ano, 80 alunos estrangeiros

A Universidade Potiguar (UnP) também recebe alunos de outros países. Os alunos de Natal também têm a oportunidade de estudar no exterior e, assim, acrescentar um diferencial no currículo. Apenas no último ano, o Governo Federal registrou um aumento de 32,8% no número de vistos emitidos, um dado que se amplia conforme o país se confirma como um dos mais estáveis economicamente e melhor posicionado no cenário internacional.

Neste semestre, a UnP recebeu cerca de 80 novos intercambistas, vindos de países da Europa e América Latina. O coordenador do International Office da UnP/Laureate, Rodrigo Lopes, explica que “hoje o intercâmbio é um instrumento para que o estudante possa ter uma visão muito maior de sua futura profissão, ao conhecê-la inserida em diferentes culturas. Não apenas por dominar outro idioma, mas também por possuir uma compreensão mais aprofundada de outra cultura, o intercambista possui em sua formação um destaque maior”, diz.

Como faz parte da rede internacional de universidades Laureate, a UnP oferece aos seus alunos a possibilidade de acesso a um modelo de ensino globalizado, com facilidades para estudar em diversas partes do mundo. Do mesmo modo, ao receber discentes de instituições estrangeiras, abriga em suas salas de aula uma abrangente troca de conhecimentos acadêmicos e de culturas.

Atualmente, há estudantes vindos do México, Peru, Chile, Portugal, Espanha, entre outros, a procura de desenvolver um segundo idioma e suas habilidades de relacionamento interpessoal. É o caso do espanhol, Eugenio Tejerino, 22 anos, que chegou ao Brasil há pouco tempo e já experimentou diferenças dentro da sala de aula. “Acho que o que mais chama atenção é a relação do professor com o aluno. Aqui eu acho que é mais próxima e que o professor está sempre disposto a ajudar. Isso é importante porque quero levar não só conhecimento daqui, quero poder aprender a como conviver com pessoas diferentes”, disse o aluno do 7º período de Odontologia.

A oportunidade de conhecer não apenas por suas belezas naturais, mas também o aspecto dinâmico que o profissional brasileiro possui, está atraindo cada vez mais universitários para o país. Para Angela Yllanes, 20 anos, a sua experiência de intercâmbio é uma ferramenta para dar diferencial ao seu currículo. “No Peru, o Brasil é um país admirado e o seu povo também. No meu tempo aqui espero conhecer mais da sua cultura e poder me relacionar melhor com pessoas. Com certeza é uma experiência muito importante para a minha vida profissional”, explica a peruana que paga disciplinas nos cursos de Administração e de Publicidade.

Quem também reforça a importância do intercâmbio é a brasileira Laryssa Lucena, estudante do 6º ano de Relações Internacionais, que passou um ano na Universidad Europea de Madrid, na Espanha. “Eu digo que a experiência mudou a minha vida. Eu conheci pessoas do mundo inteiro e apesar dos desafios que enfrentei o aprendizado foi muito válido. Tivemos palestras com professores de renome, então isso agregou muito para o meu currículo”, afirmou.

Chinesas vieram aprender português

Cerca de 20 mil quilômetros separam NaHu, Zhen Hong Xu, YinAi He, Jiali Chen e Jie Chen de suas casas. Elas chegaram a Natal no dia primeiro de agosto. Antes, enfrentarem 34 horas de voo com apenas duas paradas, uma em Dubai, nos Emirados Árabes, e a outra em São Paulo/SP. As cinco estudantes são as primeiras chinesas que a UFRN recebe após acordo consolidado com a Universidade de Guangdong, ainda em 2010. De acordo com elas, clima, alimentação e comportamento de alunos e professores dentro de sala estão entre as diferenças mais marcantes entre os países.

O objetivo do intercâmbio, com duração prevista de um ano, é aprender a Língua Portuguesa. Tarefa que já teve início, há dois anos, na universidade chinesa localizada na cidade de Cantão. Por conta das aulas, elas conseguem se comunicar sem muitas dificuldades. Para facilitar a comunicação, a primeira atividade dentro da sala de aula na UFRN foi escolher “um nome brasileiro”. Assim, NaHu, 19 anos, é chamada de Sônia, Zhen Xu, 21 anos, é conhecida como Sílvia, YinAi, 20 anos, responde por Fernanda, Jiali, 20 anos, foi batizada como Carolina e Jie Chen, 21 anos, é Laura.

Todas estão no curso de Letras e têm em comum o desejo de serem intérpretes no país de origem. “Queremos trabalhar em alguma empresa brasileira instalada na China”, diz Sônia. Antes da viagem, as estudantes procuraram informações sobre o Brasil. Mas as notícias eram superficiais. O regime comunista, com restrições em diversas áreas, as impediu de tentar fazer amizades antes de desembarcarem país. “Sabíamos do samba, Amazônia, futebol e que Natal era uma cidade com sol”, revela Sílvia. Passados menos de dois meses, a rotina na “cidade quente” tem apresentando novidades às chinesas. Uma delas, totalmente desconhecida e inimaginável no país oriental: greve. “Estamos precisando ir à Polícia Federal, mas eles estão em greve. Ainda não regularizamos nosso documentos por causa disso. É muito estranho”, diz Carolina.

A alimentação é outra barreira. “É bem diferente. Tem muito feijão”, conta Fernanda. Outra diferença que incomoda um pouco as meninas é o comportamento dentro de sala de aula. “Aqui as pessoas conversam muito na hora da aula. Os professores também falam de outras coisas. Na China é diferente. Todos ficam calados e chegam na hora. O pessoal atrasa muito no Brasil, mas sinto que são todos muitos felizes, os amigos de turma são bem simpáticos”, conta Sônia.

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