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Cresce procura por imóveis em condomínios horizontais

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Roberto Lucena – Repórter

Não há muros dividindo as casas. Ao redor das construções, apenas as chamadas cercas vivas, formadas por plantas bem cuidadas onde pássaros descansam antes de bater asas novamente. O silêncio é quebrado apenas pelas crianças que brincam nos jardins gramados, sob o olhar vigilante das babás. O cenário se completa com ruas bem cuidadas, bem sinalizadas e cuja limpeza impressiona quem visita o local. Não há barulho de buzinas nem o trânsito caótico.  Não é à toa, os corretores de imóveis classificam os condomínios horizontais como “paraísos”.

Jardins bem cuidados, casas sem muros, limpeza e segurança são características desses condomíniosEm Natal, esse tipo de empreendimento imobiliário cresce a cada ano. Não há números oficiais, mas não é difícil perceber que eles ocupam cada vez mais espaços e despertam o interesse daqueles que desejam morar em ambientes maiores do que apartamentos e mais seguros que as residências comuns.

A chegada dos filhos também é fator determinante para mudança de local de moradia. Esse é o caso da dona de casa Cleide da Silva. Desde que casou, Cleide sempre morou em  apartamentos. Há dois anos, com o nascimento da filha, resolveu sair de Petrópolis, zona Leste de Natal, e escolheu o Bosque dos Poetas, em Nova Parnamirim, para morar. “No apartamento não tinha espaço para criar minha filha. A área de lazer era muito limitada. Aqui [no condomínio] é bem diferente. Temos muito espaço verde e a área de lazer é bem maior”, diz.

O Bosque é um condomínio horizontal que se enquadra na categoria “alto luxo” e está localizado num espaço conhecido como “Cidade dos Bosques”, em Parnamirim. São 350 lotes que variam entre 375 a 1.000 metros quadrados e ocupam uma área total de 360 mil metros quadrados. Não há mais lotes a venda na construtora e quem deseja um espaço no local,  precisa procurar uma imobiliária e desembolsar pelo menos que R$ 225 mil pelo lote de menor tamanho. “Quando foi lançado, o preço inicial era de R$ 115 mil e as vendas se encerraram logo. Foi um sucesso de vendas”, afirma o diretor da construtora responsável, Marcelino Guerra.

Cada proprietário paga R$ 250 de taxa de condomínio.

Os condomínios de alto padrão oferecem piscinas, sauna, academia, salão de festas, salão de jogos, trilha ecológica, quadra de squash, quadra poliesportiva, segurança eletrônica e humana 24 horas. Este último quesito, aliás, é um dos principais atrativos desse tipo de empreendimento.  Quem visita condomínios do tipo precisa ter paciência com as medidas de segurança adotadas. É exigido a entrega de algum documento de identificação  e o visitante precisa explicar a pelo menos dois seguranças o motivo da visita. “A segurança também foi um dos motivos que optei por sair de apartamento e me mudar para condomínio horizontal”, diz Cleide.

Sobre as desvantagens de morar num espaço como esse, a dona de casa é taxativa. “O único problema é o trânsito. Mas isso não é culpa do condomínio. Essa região [Nova Parnamirim] cresceu demais e não pensaram no problema do trânsito. É sempre estressante chegar em casa”, conta Cleide.

O modelo de condomínios horizontais não é recente. De acordo com a urbanistas e professora da Universidade de São Paulo (USP), Camila D’Ottaviano, os primeiros condomínios surgiram na década de 70 na capital paulista. Festejado pelos proprietários, o “modelo de vida norte-americano” é criticado pela estudiosa. “Como urbanista, acredito que o principal problemas desses condomínios é o fato de que viram as costas para a cidade. Ao invés de termos áreas de uso público, temos áreas de lazer coletivas, fechadas e muradas. Será que queremos que nossas cidades virem ruas com grandes muros, interrompidos apenas por grandes portarias, onde os espaços de convivência estão sempre trancafiados atrás dos muros?”, questiona.

O assunto será debatido, nesta segunda, às 10h, na Biblioteca Central Zila Mamede, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em um seminário que contará com a presença da professora. O tema do encontro será “Condomínios fechados – os prós e os contras”.

Casas de campo são a nova aposta do mercado

O sossego do campo com a comodidade da proximidade com o centro urbano. Essa é a promessa dos condomínios de campo oferecidos pelas construtoras. O novo modelo de moradia fixa ou somente nos fins de semana, já ganha novos adeptos em Natal e, de acordo com os construtores, promete ser a nova febre de vendas  nos próximos meses. Somente na Festa do Boi, iniciada ontem, pelo menos duas grandes construtoras montaram estandes para oferecer esse tipo de empeendimento aos clientes.

De acordo com o presidente de uma das maiores construtoras do Estado, Sílvio Bezerra, o público natalense escolheu esse novo tipo de empreendimento motivado, entre outros fatores, pela segurança. “O natalense está abandonando suas casas de praias. Ninguém quer ir com medo de ser assaltado. Com exceção do veraneio, as casas ficam fechadas durante todo o ano. As casas de campo, em condomínios fechados, são uma alternativa que despertar interesse”, afirma.

A empresa de Sílvio vai lançar, até o fim do ano, o empreendimento denominado “Chacará Bonfim”, um condomínio construído às margens da Lagoa do Bonfim que tem como diferencial áreas de lazer voltadas para os esportes náuticos e espaços para os praticantes de esportes hípicos. “Será o espaço ideal para a família que não quer passar o fim de semana na praia ou em casa. Vamos unir o que há de melhor no sentido de conforto, segurança e diversão”, garante Sílvio Bezerra.

O conforto tem seu preço. Os primeiros 400 lotes, com 1.200 a 4 mil metros quadrados, podem custar até R$  520 mil. “Não lançamos o empreendimento ainda. Estamos na fase de incorporação. Mas já temos 170 clientes interessados em um lote”, diz.

Um pouco mais perto do Centro de Natal, menos caro, mas com a promessa de ter o mesmo nível de segurança, lazer e conforto oferecido no Bosque dos Poetas, a Ecomax está comercializando lotes no Bosque do Coqueiral. O empreendimento está sendo erguido às margens da RN-313 e possui 338 lotes com o mínimo de 360 metros quadrados cada um. Por R$ 126 mil, é possível comprar um espaço. As obras das áreas comuns devem ficar prontas em 2013, só então, os proprietários poderão construir as casas. “No pré-lançamento, vendemos 94 unidades. Na Festa do Boi, vamos oferecer o condomínio e acreditamos que as vendas serão encerradas em breve”, avalia Marcelino Guerra, gerente comercial da Ecomax.

De acordo com Marcelino, os clientes que já compraram um lote no local, afirmaram que a intenção não é apenas ter uma casa de campo para descanso nos fins de semana. “Eles querem morar lá. São executivos, advogados, empresários  que não aguentam o mais o trânsito e barulho de Natal. Querem mesmo é descansar”, diz.

Classe média adere à tendência

O incômodo da falta de espaço e as regras rígidas dos condomínios de apartamento foram os motivos que fizeram o casal formado pela enfermeira Cadidja Batista e o empresário Alisson Martins escolherem um imóvel dentro de um condomínio horizontal. A casa escolhida está localizada dentro de um dos 15 condomínios que existem na avenida Maria Lacerda, em Nova Parnamirim. Sem o luxo  dos condomínios mais caros, mas com as vantagens de segurança e espaços de lazer, esse tipo de empreendimento também tem seu espaço no mercado imobiliário. Diferentes dos espaços luxuosos, os condomínios populares são comercializados já com as casas construídas seguindo um modelo padrão. “Cansei de morar em apartamento. Minha infância sempre foi em casa e por isso decidi morar nesse condomínio”, diz Cadidja.

O imóvel foi comprado em abril do ano passado após quatro meses de procura pelo espaço ideal. Pela residência de 123 metros quadrados, o casal pagou R$ 180 mil. “A maioria dos imóveis que visitamos eram apartamentos muito pequenos. Achamos essa casa e decidimos pela compra”, conta Alisson.

No condomínio que eles moram, cada proprietário paga R$ 200 pela manutenção da área de lazer composta por uma piscina e churrasqueira. O serviço de limpeza e iluminação dos espaços comuns também são pagos com esse valor. A entrada no ambiente é controlada pelos seguranças que monitoram o local 24 horas por dia. “A entrada só  é liberada com a autorização de algum morador. Isso também é uma vantagem muito boa”, avalia Cadidja.

A falta de mais espaços para as crianças é um defeito apontado pelo casal. Não se ver crianças correndo pela única rua do condomínio porque é proibido jogar bola e, até pouco tempo, não era permitido andar de bicicleta no local. “Havia reclamação porque as bolas acabavam batendo nos carros e as pessoas não gostavam. O uso da bicicleta foi liberado”, diz Cadidja.

Por enquanto, o casal não pensa em ter filhos, mas no futuro, quando estes vierem, serão criados no local onde hoje eles moram. “Não queremos sair daqui. As regras que temos que seguir são as mesas que teríamos que seguir caso morássemos em casa de rua comum: não fazer barulho até mais tarde, por exemplo. Gostamos daqui  e estamos satisfeitos”, diz Alisson.

A secretaria municipal de Meio Ambiente e do Desenvolvimento Urbano (Semur) de Parnamirim não soube informar quantos condomínios horizontais existem na cidade. Da mesma forma, a secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) de Natal desconhece os números. Em Parnamirim, sabe-se apenas que, somente esse ano, foram encaminhados 122 processos de alvará de construção e legalização, certidão de características e habite-se multifamiliares, o que representa 11 mil unidades habitacionais. “Em Natal não há mais espaço. As empresas precisam migar para outros municípios em busca de espaços para construir os condomínios”, diz Marcelino Guerra.

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