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Crise de alimentos eleva pressão na América Latina

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AMÉRICA LATINA - Especialistas condenam o uso do milho como matéria-prima para fabricação de biocombustíveisLondres (AE) – O chefe para a América Latina da consultoria britânica Exclusive Analysis, Carlos Caciedo, avalia que a crise dos alimentos deve aumentar as pressões sociais e as turbulências políticas na América Latina. Para o especialista, a América Central será a região mais afetada. “A questão é explosiva”, afirmou hoje em evento na Canning House, em Londres. Ele avalia que a população pobre é a mais atingida pela disparada dos alimentos. Em 2007, citou, os preços subiram 15%, mas a renda não avançou na mesma proporção. O resultado é a redução do poder de compra. Para Caciedo, os grande produtores agrícolas se beneficiam das novas condições, mas isso não se aplica ao restante da população, hoje majoritariamente nas cidades.

O especialista também vê a possibilidade de maior pressão da população para que os governos controlem os preços, o que geraria problemas fiscais. “O aumento dos protestos contra o preço da comida é uma ameaça real.”

 Segundo o executivo, as implicações políticas da crise são importantes. No México, a questão das tortilhas provocou manifestações, afetando a popularidade do presidente Felipe Calderón e levando o governo a introduzir benefícios para a produção. Para Caciedo, o controle de preços não é uma boa política. “A população mais pobre é beneficiada num primeiro momento, mas ao longo do tempo a produção acaba sendo desestimulada”, afirmou. Na Venezuela, citou, a produção de frango caiu devido aos baixos valores de venda estipulados pelo governo.

Mesmo a Argentina, que se beneficiou do boom das commodities, hoje enfrenta crise política relacionada ao campo. “O governo elevou os impostos sobre as exportações para dividir os ganhos dos grandes fazendeiros com o restante da população”, afirmou. “Mas as implicações políticas são enormes e (a presidente) Cristina Kirchner está pagando um preço elevado, sua popularidade já desabou.” O especialista acredita que a América Central é a região mais vulnerável à crise dos alimentos. Isso porque esses países não têm posição fiscal forte e não exibiram o mesmo crescimento econômico que nações como Brasil, Peru, Colômbia e Argentina.

A inflação é outra conseqüência negativa para toda a região. “Apesar de as moedas estarem se fortalecendo, será preciso elevar juros, o que desacelera a economia e pode aumentar a pobreza.” A solução para a crise dos alimentos, acredita, deve vir do aumento da oferta e da produtividade. Para ele, a boa notícia é que a América Latina hoje se encontra em melhores condições de enfrentar a questão do que no passado, devido à situação fiscal mais robusta de grande parte dos países e do aquecimento da atividade econômica.

Brasil será a ‘Arábia Saudita verde’

Londres (AE) – O Brasil será a “Arábia Saudita ‘verde’” a partir da revolução dos biocombustíveis, acredita o chefe para a América Latina da consultoria britânica Exclusive Analysis, Carlos Caciedo. Para ele, o etanol nacional é o mais eficiente e por isso representa o “caminho para o futuro”. O especialista excluiu a cana-de-açúcar da lista de culturas que hoje contribuem para a crise nos preços dos alimentos. O tema dos biocombustíveis dominou o interesse dos presentes à palestra de Caciedo sobre os impactos da alta dos preços dos alimentos na América Latina, realizada pela manhã no instituto Canning House, em Londres. 

Segundo o executivo, é a produção de energia a partir do milho e da soja que pode ser vista como um dos motivos que têm puxado as cotações das commodities – e não o álcool brasileiro. “Há escopo suficiente para o Brasil elevar a produtividade do etanol sem ampliar a área plantada”, disse. “O País é o único que possui mercado doméstico para o produto e não precisa dar subsídios aos produtores.” Caciedo afirmou que a taxa de importação colocada pelos Estados Unidos para o etanol também contribui para distorcer os preços do mercado de milho, cultura utilizada pelo país. “O Brasil poderia atender toda a necessidade dos Estados Unidos, mas isso não vai acontecer porque é ano de eleições e o lobby americano é muito forte.”

Além da taxação colocada pelos EUA e também pela União Européia, ele acredita que outro desafio para a expansão internacional do etanol brasileiro são as dificuldades logísticas. Segundo ele, só o Brasil tem uma rede interna de distribuição para o produto. Outros países teriam de gastar para construir a estrutura logística.

Produção precisa de 20 bilhões de dólares por ano

Roma (AE-AP) – A comunidade internacional precisará destinar US$ 20 bilhões por ano para incrementar a produção de alimentos e combater o aumento da fome e da inanição no mundo, agravadas pela alta nos preços dos combustíveis e dos alimentos, disse nesta quarta-feira o secretário-geral da Organização das Nações Unidas , Ban Ki-Moon. Ban disse, durante o encontro da ONU sobre a crise nos preços dos alimentos, que grande parte dessa soma “deverá vir dos países mais preocupados com a crise,” mas serão necessárias contribuições do Banco Mundial, do Fundo Monetário e da Organização Mundial do Comércio, além dos bancos de desenvolvimento.

Os delegados e líderes participantes ao encontro  têm se dividido, no entanto, sobre o papel dos biocombustíveis no aumento dos preços dos alimentos. Os preços mais altos da comida estão provocando agitação política e social em vários países africanos e asiáticos. “Nós precisamos de mais pesquisas e análise sobre essa questão.” Fazer combustíveis a partir de milho, açúcar e outras matérias orgânicas custaria grãos e comida que poderiam alimentar pessoas e animais. “Essa é uma das causas, mas “seu impacto precisa ser avaliado em cada país,” informou. Ban disse ter recebido uma petição assinada por 300 mil pessoas no mundo inteiro que “pede aos líderes ação rápida para acabar com a crise dos alimentos.”

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