Brasília – A crise no setor aéreo, primeiro na Varig e agora nos aeroportos, está prejudicando o turismo internacional. Informações obtidas pela reportagem e que serão encaminhadas ao Ministério do Turismo indicam uma queda de 15% no número de desembarques internacionais em outubro deste ano, comparado com o mesmo mês do ano passado. Entre janeiro e outubro de 2006, a redução é de 6% em relação a 2005. Embora os dados incluam brasileiros que voltam do exterior, é um indicativo também da redução de visitantes estrangeiros que chegam ao País. Os números oficiais de 2006 só serão divulgados em 2007, mas o número de turistas estrangeiros deverá ficar bem longe da meta de 7 milhões de visitantes, fixada pelo governo no início deste ano. Em 2005, vieram ao Brasil 5,358 milhões de estrangeiros.
Os dados oficiais da Embratur indicam redução significativa no número de vôos internacionais que passam pelo Brasil. Em janeiro, eram 720 vôos semanais. Em outubro, foram 660. Entre janeiro e setembro deste ano houve uma redução de oferta de 500 mil assentos em vôos internacionais. Apesar do caos nos aeroportos, com atrasos e cancelamentos de vôos quase diários, a presidente da Embratur, Jeanine Pires, diz que a crise da Varig teve mais impacto no turismo internacional. Entre julho e agosto, no auge dos problemas da companhia aérea, a média de vôos internacionais caiu para 610 por semana. “Só em julho, deixaram de ser oferecidos quase 120 mil assentos nos aviões. Agora não tem havido tantos atrasos nos vôos internacionais. Mas é óbvio, que, quando o turista chega ao Brasil, pode ter algum impacto (por causa do atraso nas viagens domésticas)”, reconhece Jeanine.
No mercado interno, os turistas já começaram a cancelar os pacotes para o Natal e o Ano Novo. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Eraldo Alves da Cruz, informa que 20% das reservas para as festas de fim de ano foram canceladas, principalmente em hotéis do Nordeste. Na maioria, segundo Cruz, as desistências foram de viajantes brasileiros. “Os prejuízos existem, serão de milhões (de reais), mas ainda não tenho como calcular, porque não posso estimar quantas pessoas desistiram de viajar antes mesmo de fazerem suas reservas”, diz Cruz.
O empresário cita seu próprio exemplo: depois de levar mais de 16 horas para viajar de Florianópolis a Brasília, na última segunda-feira, Cruz tentava hoje cancelar compromissos em Foz do Iguaçu, Porto Alegre e Buenos Aires. “É desesperador, não quero passar por tudo de novo. Veja o meu caso: estou fazendo de tudo para não viajar. Perde a companhia aérea, perdem os hotéis onde eu me hospedaria. Confesso que estou preocupado.” Mesmo com a queda na oferta de vôos internacionais, os estrangeiros que chegam estão gastando mais do que nunca. A presidente da Embratur comemora o recorde em divisas trazidas por turistas vindos do exterior: eles gastaram, entre janeiro e outubro deste ano, US$ 3,548 bilhões, valor 12% maior que no mesmo período de 2005.
Jeanine Pires aposta que 2006 vai ultrapassar os US$ 3,861 bilhões gastos em 2005. Levando-se em conta apenas os dados do Banco Central, que contabiliza pagamentos feitos com cartão de crédito e trocas oficiais de moedas estrangeiras feitas pelos turistas, o gasto médio foi de US$ 720,58 por visitante. O valor real é um pouco maior porque o Banco Central não leva em conta pagamentos feitos em moeda estrangeira nem operações informais de câmbio. Em 2004, o gasto médio foi de US$ 672,13.