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Crise vai se estender até 2015

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Marina Guimarães – Agência Estado

Punta del Este – Os bancos centrais latino-americanos e asiáticos estão convencidos de que a crise internacional vai durar, pelo menos, os próximos três anos e que a melhor maneira de enfrentá-la é através de políticas voltadas para a estabilidade macroeconômica e financeira. Há também consenso sobre a importância do intercâmbio de experiências entre países emergentes de ambas as regiões. Esse cenário foi traçado pelo presidente do Banco Central do Uruguai, Mario Bergara, anfitrião da segunda conferência do Centro de Estudos Monetários Latino-americanos (Cemla) – que reúne bancos centrais da América Latina e Caribe, com participação dos Estados Unidos, Canadá e Espanha – e de seu análogo do Sudeste Asiático, Seacen, realizada esta semana, em Punta del Este (Uruguai).
Mario Bergara (centro) defende medidas para proteger o setor produtivo e a economia dos países em desenvolvimento, mesmo a custo alto
“Há um convencimento de que a situação das condições financeiras internacionais não são de longo prazo. As taxas zero não vão durar para toda a vida. Em algum momento, as economias dos países desenvolvidos vão se recuperar”, disse Bergara. Enquanto isso não ocorre, completou, a tarefa dos BCs é a de suavizar os movimentos de entrada e saída dos capitais e evitar a desvalorização excessiva das moedas, mesmo que o custo seja alto. “A intervenção do BC no mercado de câmbio é cara. Mas é um custo que vale a pena porque é mais caro não fazê-lo, porque correria o risco de afetar o setor real da economia”, ressaltou em entrevista à Agência Estado durante a reunião da Cemla, que contou com a participação do presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, que falou sobre “O papel dos Bancos Centrais na estabilidade macroeconômica”.

Segundo ele, quando a crise se reverter, o processo vai ser rápido porque os movimentos financeiros são muito rápidos que os movimentos na economia real. “Mas se deixamos destruir uma parte da economia real, não será possível recompor do dia para a noite ao mesmo ritmo que os capitais forem embora”, disse.

Bergara ponderou que as intervenções dos BCs para evitar que a apreciação cambial destrua o setor produtivo, não quer dizer que as autoridades monetárias tenham o objetivo de fixar a cotação do câmbio. “Temos componentes estruturais que justificam a apreciação cambial. Nossos países estão crescendo em relação aos países desenvolvidos, enquanto nos países desenvolvidos está paralisada. E, isso corresponde a uma apreciação real do câmbio no curto prazo”.

Bergara defendeu uma intervenção mais robusta dos bancos centrais com o uso de múltiplos instrumentos na busca da estabilidade das economias. Para rebater os críticos de que as interferências dos BCs nos mercados emergentes são exageradas, ele recordou que a maior intervenção partiu do Federal Reserve (banco central dos EUA) e do Banco Central Europeu que deram liquidez ao sistema, inclusive através de mecanismos não convencionais, aceitando papéis que, em momentos de tranquilidade econômica e financeira, seguramente não seriam aceitos pelo mercado.

O presidente do BC uruguaio criticou as intervenções dos bancos centrais das economias desenvolvidas, que provocaram um fluxo gigantesco de capitais de curto prazo para países emergentes. “Os BCs dos países emergentes tiveram de aprender com essa situação e entender que esses capitais de curto prazo têm suas vantagens e desvantagens”, afirmou. Bergara defendeu as medidas adotadas pelas autoridades monetárias dos países emergentes, que têm usado “não só às ferramentas tradicionais da política monetária, mas também complementá-las com ferramentas macroprudenciais no mercado de câmbio.”

Volatividade de preços e do câmbio preocupa

Na conferência do Centro de Estudos Monetários Latino-americanos, Mario Bergara, abordou também a questão da Ásia.  “O que ficou claro é que a problemática enfrentada pelos países do sudeste asiático, em sua maioria pequenos e emergentes, tem característica similar à que enfrentamos na nossa região”, disse Bergara. Segundo ele, os perfis das economias são similares e com a possibilidade de aproveitar o crescimento da demanda de alimentos, minerais e de bens básicos por países, como China, Índia, Rússia e Brasil. “Também temos os mesmos desafios de enfrentar um marco de volatilidade que o mundo exibe hoje: volatilidade nos preços, na cotação do câmbio, nos fluxos de capitais com uma clara tendência de recursos curto prazo, além dos investimentos estrangeiros diretos, em função das taxas de juros nulas dos países ricos. E, portanto, os capitais saem em busca de rentabilidade nos mercados emergentes”, ressaltou.

Bergara considerou que esses são fatores positivos para as economias que estão crescendo e têm capacidade para atrair capitais. Porém, para os bancos centrais, isso implica em desafios relacionados à estabilização das principais variáveis. “Somos todas economias abertas. As cotações de câmbio são importantes em nossos países. Há necessidade de manter o bom funcionamento do sistema financeiro, evitando que haja boom de créditos que não sejam sustentáveis, evitando que haja bolha imobiliária e de ativos em geral”, observou Bergara.

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