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Crônica de uma gordinha recuperada

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Maria Betânia Monteiro – repórter

Trinta e sete quilos mais magra e uma fome incontrolável de compartilhar experiências, a jornalista Mirella Ciarlini conta em seu primeiro trabalho como escritora – o livro Magra? Não. Gorada em recuperação – como superou a dependência dos remédios de emagrecimento, identificou as razões para o fracasso de sucessivas dietas e criou o “Gordas em Recuperação”, um grupo de apoio semelhante aos Alcoólatras Anônimos. O livro foi editado pela “Bons Costumes” e será lançado hoje, às 19h, na livraria Siciliano do Midway.

A jornalista Mirella Ciarlini relata sua experiência em livro de autoajudaNo livro, Mirella Ciarlini aborda o tema da obesidade de maneira dinâmica e realista. Já no prefácio do livro, o marido da autora, jornalista Moisés de Albuquerque, referenda a obra: “Não são fórmulas nem receitas de magros para gordos, são relatos de quem sofreu na pele o preconceito, a baixa autoestima, a ansiedade e todos os problemas que os gordos enfrentam”.

O livro faz uso da linguagem coloquial e de expressões bem humoradas, típicas de quem tem motivos suficientes para rir. No início da obra Mirella define o “universo da gorda”, ensina como buscar as respostas dentro da própria consciência, compartilha as dificuldades do difícil caminho para quem quer emagrecer, coloca os problemas de se consumir remédios de emagrecimento, apresenta algumas dietas, fala sobre a relação com a família e traz em capítulo extra, dezesseis mandamentos para um gordo em recuperação.

Em entrevista ao VIVER, Mirella conta que a motivação para escrever o livro surgiu da necessidade de compartilhar descobertas úteis para aqueles que, assim como ela, são reféns da comida. A primeira dessas descobertas foi a de que seria sempre gorda, independente do seu peso corporal. “O maior erro para quem quer emagrecer é achar que chegou ao peso ideal e que nesse momento pode voltar a comer sem controle”, disse a autora. “Comer é um vício. Quando estamos em dieta, estamos no período de abstinência. Quando nos sentimos magros e voltamos a comer livremente, o ciclo reinicia”.

Antes dessa descoberta, Mirella fez várias dietas e sempre que emagrecia, acabava recuperando o peso em dobro. Ela conta que sempre teve uma tendência real de engordar e a primeira vez que tentou perder alguns quilos foi aos doze anos de idade. Naquele momento, ela deu início ao efeito sanfona. Aos dezessete anos, Mirella começou a tomar remédio, por recomendação médica e não parou mais. “Receitar remédios é o único recurso que os médicos têm para nos ajudar”, disse a jornalista.

Sempre que se achava gorda, começava a fazer uso de medicamentos e, sempre que emagrecia, começava a comer. O ciclo fez com que os remédios se tornassem “amigos de longas datas” e o volume foi tão grande, que a jornalista chegou a ser internada duas vezes por distúrbios no sistema nervoso. “Perdi totalmente o controle”, disse.

Na época ela apresentava um programa ao vivo na TV Universitária, aqui em Natal. Numa ocasião, diz que não conseguiu mais ler os textos que passavam na tela do computador. Um sintoma provocado pelo distúrbio. O fato de ter sido internada foi só um alerta. A decisão de emagrecer só veio depois que decidiu assumir que era gorda, e não que estava gorda.

Mirella engravidou, ganhou 18 quilos e depois que seu filho nasceu conheceu a dieta dos pontos, do Doutor Alfredo Halpern. Segundo ela, foi a primeira vez que teve acesso a uma dieta saudável. Cumprindo a rotina proposta pela dieta, chegou ao peso desejado. Mas foi aí, que cometeu o que considera o seu maior erro, acreditou que estava magra e se rendeu aos feitiços culinários.

“Primeiro cheguei aos sessenta quilos, depois aos setenta, aos oitenta e finalmente aos 94 quilos”. Mirella então resolveu assumir a obesidade. “Tentei com todas as minhas forças, ser feliz, mesmo que gorda”. A jornalista disse que àquela altura, seu principal objetivo era convencer as pessoas a abrirem mão da imagem de uma Mirella magra. Incomodada com a aparência e imersa em sentimentos desanimadores, a jornalista tentou ainda um último suspiro e cogitou a possibilidade de fazer uma cirurgia de redução de estômago, o que ela diz ser o sonho de todo gordo. Mas para passar pelo procedimento médico, teria que engordar alguns quilos. Desistiu da cirurgia e fez melhor: tentou descobrir onde estava o erro em suas dietas e começou mais uma.

A decisão de emagrecer – já que ela não se convenceu de que era verdadeiro o desejo de ser gorda para sempre – coincidiu com uma nova gravidez. Mirella não se desesperou, não se entregou ao “pode tudo” da gestação e não ganhou sequer um quilo durante os nove meses em que precisou se alimentar por dois.  “Meu filho nasceu saudável, com quatro quilos. Neste momento estava me sentindo muito forte”. A maior dificuldade que enfrentava era se livrar do pensamento do gordo: definir qual será a próxima refeição.

Vencendo essa etapa, encontrou o equilíbrio. De outubro de 2008 até hoje, ela conseguiu perder 37 kg. O foco de Mirella deixou de ser a comida e passou a ser o compartilhamento de informações. Foi assim que nasceu o livro e também a idéia de criar o grupo Gordo em Recuperação, que tem sítio na Internet: WWW.gordasemrecuperacao.com.br.

Segundo Mirella, tanto o livro como o grupo, ajudam a amenizar o sofrimento das pessoas gordas. “Elas passam a ter baixa autoestima, a se sentirem feias, a não quer sair de casa. A obesidade chega atrapalhar as relações pessoais, principalmente o casamento, porque falta ao gordo o principal: amor próprio”.

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