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Crueldade

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Rubens Lemos Filho
Peço licença para tratar de um tema diferente do futebol, posto que a Tribuna do Norte é muito bem servida de cronistas especializados na tessitura humana, nas armadilhas existenciais e nos escaninhos das maldades travestidas de fragilidades e que impactam os corações despidos de frieza. Ser gélido é ser menos gente.
Soube por um amigo, muito querido, que um amigo dele, acometido por um problema de saúde que irá superar pela graça de Deus, sou catador de palavras, mas a crença em Deus me manteve vivo ao longo de infindáveis decepções, perdeu o emprego portando um tumor que irá operar. 
Queria muito a minha avó, minha mãe prática, viva, para entender o quanto pode ser perverso quem tira o pão de quem acabou de receber a pior notícia. Freud não elucidará, ele não tem conhecimento para tanto, suas convicções e análises jamais serão longilíneas a ponto de explicar uma atitude cruel como a que acabei de repassar. 
Somente uma cabeça podre, carreirista e – permita-me – deformada, seria capaz de tentar jogar a pá de cal em quem está vivo, esperançoso e convicto, segundo seus amigos, de que sairá dessa pulando corda e cantando Serena Estrela, antigo sucesso de dor de cotovelo para ocasiões similares. 
Minha avó, quando morreu, entrei em profunda crise de depressão, uma doença que nunca escondi ter, há 22 anos, desde a morte do meu pai, mas, que desconfio, venha desde o útero de minha mãe. 
Minha avó, se soubesse de um caso desses, escreveria uma cartinha com letra de normalista linda, dando uma lição de moral no amoral responsável pela dispensa do doente. 
Juro que, em tanto tempo, nunca imaginei que alguém pudesse oferecer seu apoio justamente punindo o indefeso. É a desgraça da espécie humana. Minha avó faria a carta em tom ameno e com pitadas de severidade mortais, como a que escreveu ao  narrador José Cunha, da TV Educativa em 1975, quando o jogador Bagadão, a quem ela se afeiçoou com sincero carinho, foi ridicularizado em jogo do América contra o Fluminense pelo Campeonato Brasileiro de 1975. O pecado de Bagadão era seu nome de guerra. 
Minha avó, silenciosa, sem avisar a ninguém, nem mesmo ao meu pai, comentarista esportivo da Rádio Cabugi AM, enviou sua missiva ao jovem deputado federal Henrique Eduardo Alves que exigiu desculpas de José Cunha, que vieram engasgadas. Desculpa nunca tem o peso nocivo da safadeza. 
Dona Maria do Carmo se foi há exatos 10 anos. Chamaria a vítima, o rapaz demitido, o consolaria e pediria para perdoar o patrão sádico. Parece até que estou vendo: “Meu filho, esqueça, ele não é de Deus, você ficará bom para alegria de sua família e dos seus amigos e arranjará outro emprego, porque você é da parte boa da vida.”
Longe de mim imaginar qualquer dor de consciência no verdugo. Todo ele é oportunista. O amigo de agora, da oferta e da perspectiva de algum lucro ou futuro, sempre é melhor do que os de primeira hora, do instante do sacrifício, da quase nenhuma perspectiva de sucesso. 
Os gananciosos são fominhas, esganados, podem morrer entalados na ambição feroz. A eles, não basta ter mais do que cinco concorrentes. É preciso ter o que o sobrepõe sobre os demais e ainda por cima eliminar quem se atreve a cruzar seu caminho. É um tipo desprezível e, na rima, incorrigível. 
A imagem de minha avó me sobrevoa enquanto escrevo, numa pulverização de amor sobre a injustiça. Enquanto nossos bons estão no andar de cima, temos escudo para enfrentar as agruras. 
Quanto ao algoz, a roda da fortuna é giratória, disse certa vez o jurista Sobral Pinto ao defender o ex-presidente Juscelino Kubitscheck da peçonha persecutória da ditadura. Não adianta, pretenso poderoso(temporário), decorar páginas bíblicas. Vai se acertar onde Ariano Suassuna ensinou: “na procissão dos mortos.” E o humilhado, será exaltado. 
Babacas 
O jogo entre Flamengo x ABC apresentou alguns episódios de discriminação ao potiguar e ao nordestino. Teve um idiota que chamou o ABC de “pangaré”. Bem feito. Essa gente quando chega a Natal é tratada às guloseimas dos restaurantes caros. 
Puxa-Sacos 
Temos que perder essa veia de puxa-sacos de forasteiro. Os caras chegam, bebem, comem, na extensão apropriada da palavra e saem gozando com a cara dos autores de homenagens. Para esses malandros, somos otários, não bons. 
Camisa 
Bela sacada do marketing do ABC, leia-se Alan Oliveira, a nova camisa em 3D da cor da pele do elefante. É linda. 
Embaixo 
No Grupo 3 da Série D, somente Central, com seis pontos ganhos, e Caucaia, com cinco, podem ser considerados babas de quiabo. 
Colados 
O restante está muito colado, à exceção do ABC com 18 pontos. O América, com 14, tem o jogo do Treze para disparar. 
Sério
Ítalo é um show. É a vitória do vencido. Lá de Baía Formosa, disparou para virar lenda. Ele é lenda, sim. 
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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