Tádzio França
Repórter
Os olhos estão cada vez mais fixos nas telinhas digitais. Isso não é uma novidade no mundo contemporâneo, mas é algo que os dias de isolamento causado pelo Covid-19 fez crescer ainda mais. As pessoas estão trabalhando ou estudando em casa e inteiramente conectadas a celulares, tablets, laptops e computadores em busca de notícias ou lazer, decorrendo daí o cansaço da vista e uma série de sintomas que prejudicam a saúde ocular. O estresse visual é chamado de ‘Síndrome da Visão por Computador’, e tende a aumentar nesses dias de pandemia.
“A luz das telas desses aparelhos podem levar a um cansaço visual e ao ressecamento dos olhos quando o uso é excessivo”, ressalta o oftalmologista Márcio Florêncio. Esse é um problema que afeta mais de 80% das pessoas que permanecem em frente a alguma tela por longos períodos de tempo ao longo do dia. O maior tempo isolado em casa, seja trabalhando ou se entretendo, está aumentando o desconforto visual que já era rotineiro no cotidiano. Quem fica uma média de oito horas diante dessas telas já pode apresentar diversos sintomas.
Segundo o médico, uma das causas primordiais do cansaço visual é que as pessoas simplesmente se esquecem de piscar os olhos em frente às telinhas. Os olhos ficam ressecados e a visão se embaça. A visão embaça porque na frente dos dispositivos a pessoa movimenta pouco o globo ocular, ou seja, pisca os olhos quatro vezes menos – entre cinco a seis vezes por minuto, contra 20 por minuto normalmente. Isso resseca a lágrima e causa sensação de areia nos olhos.
Visão sobrecarregada
O principal sintoma da fadiga ocular, de acordo com o oftalmologista, é justamente não conseguir ler por muito tempo. “Ao começar a ler nesses aparelhos as pessoas acabam tendo que parar, pois podem sentir sintomas de cansaço visual, dor de cabeça, dor na região ao redor dos olhos, ressecamento, e sensação de areia nos olhos”, diz. Outro fator importante são as 16,7 milhões de cores geradas pelas telas dos equipamentos. A grade variação de luminosidade sobrecarrega a musculatura que regula a entrada de luz até a retina, onde são formadas as imagens.
Há alguns indicadores clássicos de que a visão pode estar sobrecarregada: o olho ressecado por não piscar em quantidade de vezes regulares diante do computador; a coceira nos olhos; a visão embaçada, e dor nos olhos – que exige uma consulta ao médico para descartar algo mais grave. A partir daí podem surgir mais problemas como fotofobia, enxaqueca, dor de cabeça, distorções visuais, restrição de alcance focal, dificuldades na manutenção do foco, e alterações na percepção de profundidade.
A idade também é um fator que atua na menor ou maior percepção do estresse visual. “Os mais velhos acabam tendo uma predisposição maior ao ressecamento ocular, são as pessoas que acabam tendo mais sintomas. No entanto os mais jovens acabam usando essas tecnologias em quantidade de horas muito maior que os idosos e acabam tendo praticamente os mesmos sintomas”, explica Márcio. A perda da flexibilidade do cristalino e dos músculos ciliares que sustentam a lente interna do olho exige maior adaptação às mudanças de luminosidade.
Estudos apontam que o estresse visual nos dispositivos eletrônicos atinge 30% das crianças, 75% dos jovens e adultos com até 40 anos de idade, e 90% dos que já passaram dos 40. A partir dos 50 anos o cristalino começa amarelar. É o processo da catarata que faz precisar três vezes mais iluminação aos 60 anos do que uma pessoa de 20 anos para enxergar com a mesma nitidez. Entre crianças até oito anos de idade, quando os olhos completam seu desenvolvimento, o excesso de esforço visual para perto devido ao uso de dispositivos eletrônicos por mais de duas horas consecutivas, somado a esta variação na luminosidade dos equipamentos e à falta de exposição ao sol, podem ter más conseqüências para elas no futuro.
Luz azul
A iluminação adequada também influi no stress visual e na produtividade, independente do dispositivo utilizado e da idade. Isso porque o ser humano enxerga através da luz que penetra nos olhos. Entretanto, as alterações anatômicas do globo ocular a partir dos 40 anos tornam a iluminação ainda mais importante. O prudente é não espero os olhos cansarem para dar uma pausa, mas desde já ir adotando medidas preventivas.
Para evitar problemas, o ideal é parar de cansar os olhos. “As pessoas precisam aprender a usar essas tecnologias no período de isolamento (e também fora dele) de forma racional, sem excessos”, alerta o oftalmologista. Márcio aconselha que em casa a pessoa estabeleça uma rotina específica, porque passar o dia todo utilizando essas tecnologias vai levar ao cansaço visual, ardência, além de provocar dificuldade com o sono também.
“É sabido que ficar até altas horas na noite diante do computador pode interferir na qualidade do sono. É preciso estabelecer um tempo para cada coisa. Não ficar direto diante do computador, sem criar pausas para descansar ou fazer outra atividade”, diz. A tela do celular, tablet ou computador emite luz azul que é predominante durante o dia. Por isso, quando os dispositivos são usados à noite “enganam” o organismo que é dia. O resultado é insônia. Portanto recomenda-se evitar o uso de qualquer equipamento durante a noite, usar filtro de luz azul nos equipamentos, e também óculos com lentes que filtrem a luz azul.
Márcio Florêncio ressalta também que pacientes que são usuários de lentes de contato podem sentir maior queixa de ressecamento ocular, já que só o fato de usar lente já pode levar a isso. “E com relação às pessoas que usam óculos (ou não), essas não tem uma exacerbação do ressecamento ocular. Entretanto, qualquer indivíduo que usa excessivamente essas tecnologias, podem ter qualquer tipo de distúrbio relacionado à visão”, diz. Os cuidados são para todos.
Os cuidados, no geral, evitam que algo mais grave possa acontecer com a visão. “Muitos pacientes às vezes quando têm esses sintomas de fadiga ocular podem necessitar do uso de algum tipo de óculos, justamente para tentar aliviar esses sintomas, e a prescrição de algum colírio lubrificante, pode ajudar também nas queixas relacionadas ao ressecamento ocular”, conclui.
