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Cuidados com os idosos na pandemia

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Tádzio França
Repórter
Envelhecer ficou um pouco mais difícil de um ano para cá. Para os mais de 28 milhões de brasileiros que já completaram 65 anos e são considerados idosos segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), lidar com as restrições da pandemia tem exigido doses extras de atenção e paciência. A doença que pôs todo mundo em alerta também é um teste para a saúde mental dos idosos, que viram muitas de suas atividades cotidianas serem restritas ou canceladas. Numa época em que se vive mais, está sendo preciso reaprender a viver melhor.

 Envelhecer de forma ativa e saudável é um objetivo comum que a pandemia tornou mais desafiador. Para a geriatra Vanessa Giffoni, o isolamento tirou do idoso aquilo que lhe era mais necessário: a conectividade social. “Enquanto crianças, adolescentes e adultos têm uma rede de suporte social muito mais ativa, com escola, empregos, relacionamentos e amigos, o idoso tem isso naturalmente reduzido. Sem essa rede de atividades, o que os mantém estimulados são basicamente seus vínculos sociais”, diz.

Vanessa acredita que a quebra de rotina foi o maior golpe sentido pelos idosos nessa pandemia. “O que mantém um idoso ativo? É ter uma rotina. Ir pra uma academia, pegar o neto na escola, ir à missa, desenvolver um serviço pastoral na sua igreja ou culto, é ir ao banco, supermercado, encontrar uma vez por semana os amigos pra jogar baralho. O isolamento impositivo foi catastrófico para a saúde mental deles, em especial”, explica. Ela ressalta que a posição do idoso como grupo mais vulnerável diante da doença, gerou um medo psicológico severo.
O fato, segundo a geriatra, é que a Covid-19 acabou por provocar outros problemas para além de seus próprios. “O que a gente vê passados 13 meses de pandemia, é o aumento do número de casos de transtorno depressivo, ansiedade generalizada, síndrome do pânico e doenças psicossomáticas. Pessoas que passaram a ter perda de peso, diarréia, dores crônicas”, diz. Ainda nesse contexto, ela chama a atenção para o declínio cognitivo (intelectual) que aconteceu de forma muito significativa durante a pandemia, uma vez que os idosos deixaram de frequentar as atividades que estimulavam a sua memória. 

O confinamento caseiro exigiu que todo mundo procurasse aproveitar ao máximo as possibilidades, tanto dentro como fora de casa, quando possível. Vanessa sugere atividades prazerosas como ouvir música, navegar na internet, fazer videochamadas com amigos, pode se exercitar, seja ao ar livre ou em ambientes que tenham ventilação natural e medidas de biossegurança rigorosas. Outra dica são as atividades para estimulação cognitiva, como palavras cruzadas, baralho, e jogos interativos como dominó, por exemplo.

A geriatra tem a opinião de que é possível ao idoso manter alguns contatos sociais, desde que esteja devidamente protegido e cercado por pessoas de confiança. “Acredito que idosos podem continuar freqüentando pequenos nichos familiares, como filhos e netos, por exemplo, desde que ninguém esteja com sintomas gripais, não tenha aglomeração e haja distanciamento mínimo. Já em núcleos sociais mais movimentados, como festinhas caseiras e restaurantes, eu realmente não recomendo”, diz.

A socialização através da internet, que já era algo comum entre as pessoas mais jovens, também teve que ser incorporadas pelas mais velhas diante da pandemia. Vanessa afirma que pode ser uma saída interessante para retomar a conectividade social, mas faz ressalvas. Ela exemplifica com as atividades físicas online, que muita gente está fazendo atualmente. “Poucos idosos já tinham uma boa consciência corporal antes da pandemia”, diz.
Saúde mental dos idosos, durante o isolamento, merece uma atenção especial, segundo a geriatra Vanessa Giffoni
Segundo a geriatra, para a maioria desses idosos a atividade física online foi muito mais uma forma de manter um vínculo com o professor, com os colegas, do que um estímulo físico adequado.” Entre o idoso fazer uma aula de ginástica online em casa ou sair para fazer uma caminhada ao ar livre, a segunda tem mais efeito”, afirma. O ideal, de acordo com os especialistas, é que o idoso tenha atividades aeróbicas com pelo menos 10 minutos de duração e, gradualmente, aumentem para 300 minutos por semana para garantir benefícios adicionais de saúde.

As atividades de fortalecimento muscular precisam ser feitas em pelos menos dois dias da semana. Já para aqueles que tem a mobilidade reduzida por qualquer motivo, a recomendação é praticar exercícios físicos pelo menos três vezes por semana para melhorar o equilíbrio e evitar quedas. Na quarentena ou quando não for possível realizar os treinos habituais, é importante buscar orientação profissional para adaptar as atividades de acordo com a condição física.

Em relação a outras atividades, como cursos e oficinas de memória, Vanessa Giffoni afirma que pode ser bom para aquele idoso que tem plena cognição (atividades intelectuais), ou que maneja bem a tecnologia. Mas para a maioria dos idosos que já estão matriculados numa atividade de estimulação cognitiva, porque tem alguma limitação nessa área, ela penso que a chance dessa atividade online funcionar é muito reduzida. “Para a grande maioria dos idosos, infelizmente, essa não é uma realidade. Sinto que até os jovens já estão ficando entediados com o mundo virtual”, diz.

Longevidade
É paradoxal, no momento em que todo mundo está com medo de uma doença que pode levar à morte, os idosos estejam vivendo mais. Em poucas décadas, a humanidade avançou mais de 20 anos na expectativa de vida, tornando a longevidade uma realidade que deixou a velhice ainda mais complexa. “O aumento de octagenários, nonagenários e centenários em nosso país é algo que chama muita atenção, e o que as pessoas precisam é ver é que já houve uma mudança de paradigma”, enfatiza Vanessa.
“Antigamente, o idoso de 65 anos era uma pessoa que não trabalhava, que já estava aposentado há muitos anos, não tinha atividades de estimulação fora de casa, e hoje essa realidade mudou bastante. Há pessoas de até 85 anos de idade que ainda exercem uma função laboral”, afirma. A geriatra ressalta que essa longevidade deve ser construída desde cedo.

Longevidade é ter um envelhecimento ativo, sem doenças, com autonomia e independência. “Para que isso aconteça, a pessoa precisa de atividades que estimulem muito seu físico, sua cognição, sua intelectualidade, e hábitos de vida saudável, fazer boas escolhas alimentares, não fumar, beber moderadamente (se beber), e ter atividades de lazer”, lista Vanessa.

A sensação de finitude é algo com o qual toda pessoa idosa se depara quando a idade avança. Ainda mais em tempos de pandemia, quando ninguém está seguro. Mas para Vanessa, a maioria dos idosos não se deixa envolver por esse pensamento. “Na verdade, as pessoas mais velhas adoram estar vivas, e fazem de tudo para continuar assim. Claro, quem já tem um quadro depressivo por outros fatores se entrega mais fácil, mas essa não é a realidade da maiora”, diz.

É um momento difícil quando os idosos começam a se deparar com a morte de pessoas com idade similar ou maior que a sua, mas a crise existencial pode ser evitada ao se promover um envelhecimento saudável, com maior qualidade de vida, mostrando que é possível aproveitar todas as fases da existência. Estresse crônico estimula a produção de cortisol, que em excesso altera o bom funcionamento do corpo, principalmente em situações extremas vividas com mais frequência na velhice, como a perda de um cônjuge ou amigos próximos.

“O idoso saudável, ativo, tem uma chance de sobrevida diante do Coronavírus muito semelhante a de um adulto. Tratamos quadros de depressão, injetamos esperança, engajamos em atividades sociais e físicas, e procuramos retomar os laços familiares, os vínculos com os amigos”, afirma.          
Vanessa Giffoni, geriatra: “o isolamento foi catastrófico para saúde mental dos idosos”
A perspectiva de uma vida mais longa faz que com as pessoas dêem mais importância a escolhas positivas que transformem seus caminhos ao longo da vida. Vanessa acredita que não só idosos, como também jovens, enxerguem um horizonte mais otimista à sua frente.
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