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Cuidando da saúde seridoense

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Datada de 15 de novembro somente agora, no começo deste mês, me chegou nova carta do doutor Paulo Bezerra, vaquejando o pessoal que cuidava da saúde da gente do Acari – médicos, farmacêuticos e dentistas -, rastros ainda das eras de vinte do século que passou, sendo ele próprio gente pertencente a essas seitas, médico que é. Vejamos:

“Amigo velho,

Tenho indagado, nos quatro cantos do mundo, sobre farmácias, médicos e dentistas que tenham atuado entre nós por ser sabedor, de ciência própria, do cuidado dos nossos antepassados com a saúde dos seus, daí o largo conhecimento entre eles, e a passar de geração a geração, da medicina caseira constante, sobretudo, de chás. Não havia o curandeiro, é certo, mas comuns eram a pegadora de menino e a mulher cuidava do resguardo, dita “tratadeira”.

Daí a primeira farmácia – é o que consta -, ter chegado pelas mãos de Antônio Basílio de Araújo, comerciante de tecidos e miudezas, homem empreendedor, intendente de 1920 a 1928, morrendo aos 43 anos, em 1932.

Por sua vez, Onessino Onésio, 80 anos, dá notícia da farmácia de João Batista Galvão onde foi atendido ao cair do pé de tamarindo existente na praça Cel. Silvino, mesmo em frente dela, ferindo a cabeça, ao voltar da escola – o Grupo Escolar Tomás de Araújo, inaugurado em 1908.

Um pequeno jornal, “1932 – FLORAL – número especial – órgão momentâneo – nem sisudo, nem risão – Acary, dez mais oito de novembro” como está na página de rosto, assinala que a sua coluna “Novidades dará um prêmio a quem der notícia da farmácia de Thomaz Irineu”.

Funcionário de Anderson Clayton, Álvaro Braz d’Araújo Lima (1911-1992), novo na cidade onde arranjou casamento com uma moça de Jardim, descreve em seu “Diário de Viagem” aspectos da turbulência da política de Acari, em 26.10.1936, assim: “… é dono da única farmácia do lugar, mas resolveram prendê-lo” ao se referir a Janúncio Santa Rosa.

Ainda se faz referência ao paraibano Alcebíades, compadre dos meus pais, como dono de farmácia. Também foi dono de drogaria Francisco Seráfico Dantas, que a vendeu a Manoel José Fernandes (Bilé, 1910-1993) e este passou a Hosa Bezerra dos Santos (1917-1995) empregado que havia sido de ambos, com o nome de “Drogaria Santa Luzia”, deixando o ramo em 1974 quando se mudou para Natal.

Quanto aos médicos, o Dr. Flávio Maroja Filho, sócio da farmácia de Antônio Basílio, manteve atendimento de consultório em Acari e Carnaúba, segundo pessoas dos dois lugares.

O Dr. Campelo (Albino Campelo Bezerra Cavalcanti), pernambucano, foi prefeito de Acari de julho de 1933 a maio de 1935, clinicando também em Parelhas segundo aviso que publicou “A República” de 12.1.1933:

“Dr. Campelo Cavalcanti – médico – titulado pela Baía em 1919 – Operador e Parteiro – Afecções dos órgãos urogenitais do homem e da mulher – Cura radical, garantida das hemorróidas e varizes, por processo especial, sem dor e sem intervenção cirúrgica – Parelhas – Aceita chamados”.

Há rasto perdido do Dr. Emiliano. Pode ter sido depois que o Dr. Antônio Ramalho residiu e clinicou na cidade como médico da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas.

Em 15 de agosto de 1939, veio morar no Acari o Dr. Odilon Guedes (1911-1978), natural de Florânia, graduado no Recife na famosa turma de 1938 que formou médicos de grande projeção e no meio dos quais, humildemente, foi o aluno laureado. No seu novo torrão viveu a sua vida. Depois chegou o Dr. Paulo Gonçalves de Medeiros, primeiro filho da terra a colar grau em Medicina no ano de 1947, tendo sido o orador da sua turma. Morando em Jardim do Seridó atendia de rotina e nas emergências os seus conterrâneos de Acari.

Com relação aos dentistas, em 1926, o time de Acary Futebol Clube jogou contra o América de Natal, contando com o atleta José Carlos Leite, que viveu mais de cem anos, não que de lá ele fosse, mas por exercer sua clínica ali, em determinados dias, dentista que era. Depois, José Vinício Dantas, talvez o primeiro filho do Acari a colar grau em Odontologia, nascido em 10 e formado em 1936, exerceu por longos anos a sua atividade derivando posteriormente para outros campos. Foi quando chegou José Geraldo Bezerra, o Dr. Zezé (1925-2000), graduado em Alfenas, Minas, em 1952, instalando seu “Gabinete Dentário” na própria residência até suspender, de livre e espontânea vontade, o seu trabalho. Ambos desfrutaram de um grande conceito profissional.

Assim foram, no tempo em que eu vejo, os dentistas, os médicos e as farmácias.

Ora, foi improvisando então, um arremedo de hospital na esquina da rua Otávio Lamartine com a rua da Matriz, em casa ampla onde eram atendidos os casos que na avaliação médica poderiam ter solução local sendo esse fato, talvez, o impulso gerador da idéia de construir a maternidade – inaugurada em setembro de 1951 -, movimento que contou com total apoio das autoridades do município e, sobretudo do seu povo. Hosa Bezerra dos santos, citado nesta carta que lhe faço, era o arrecadador das doações em dinheiro.

Para ilustrar, recordo do motorista de Antônio Severiano Neto (1912-1958), que virou com uma carga de milho em grão na curva em “S” do Café Torrado e ficou internado para tratamento médico no improvisado hospital. Foi quando caíram as primeiras chuvas, nascendo, na beira da estrada, pés de milho feito coentro em horta.

Está vem visto eu minhas indagações, até certo ponto respondidas nestas notas, vêm de muito longe, mas esbarram em Hosa, no Dr. Odilon, no Dr. Zezé e na maternidade.

Depois disso é outra história.

Aqui me despeço desejando a você e aos seus, Boas Festas e Feliz Ano Novo.

Acari, 15 de novembro de 2006

Paulo Bezerra.”

Um bilhete de Vivi

Abro o envelopão de papel madeira e lá está, entre outros papéis, um bilhete de Veríssimo de Melo. Corria o ano de 1994.

“Mestre Woden: meu abraço.

Estou enviando para o nosso livro sobre Cartas e Cartões de Oswaldo Lamartine mais um cartão e uma carta que ele mandou, na década de 70, para o mano Silvino Lamartine. A carta é uma maravilha poética. Passe os olhos.

Falei agora com Oswaldo e ele tem – e está me mandando- uma carta que considera oportuna para o livro.

Não temos pressa. O livro está magro – só 50 páginas – pode caber mais algumas cartas. Vamos esperar. Já deixei com você 2 fotos e a apresentação de Sanderson Negreiros. Seguem agora mais 2 cartas (um cartão).

Pode mandar para o Pinto que eu faço a revisão depois.

Abraços, Veríssimo de Melo”.

O livro foi editado pela Fundação José Augusto no ano seguinte. Incluindo o calofão, ficou com 97 páginas.

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