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Cultura Mossoroense

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Woden Madruga
Voltando à gaveta dos papéis desarrumados encontro uma carta de Vingt-un e de D. América Rosado, datada de dezembro de 1997. Um de seus motes é a candidatura de Dorian Jorge Freire à Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, da qual o distinto casal integrou, ocupando a cadeira 38 (Vingt-un eleito em 1987 e América, sua sucessora, em 2006). A carta está incluída na Coleção Mossoroense (Série B, número 1467, de janeiro de 1988) da Fundação Vingt-un Rosado, com o título “Carta Aberta a Woden Madruga”.
Além de Dorian, que se elegeu sucedendo a Mário Moacyr Porto na cadeira 20 da ANRL, cujo patrono é Auta de Souza, a carta fala também de outros pontos importantes da cultura do Estado com passagens pelo universo do País de Mossoró. Transcrevo-a por inteiro:
“Madruga:
Temos pelo seu trabalho, à frente da FJA, uma enorme admiração.
Sabemos como são parcos os recursos que o Estado lhe entrega. Louvamos a sua garra em arrancar dinheiro do Banco do Brasil e da Petrobras, instituições que não sabem se Mossoró existe, na área cultural.
Eu e D. América somos frequentadores incondicionais da Orquestra Sinfônica e de uma multidão de coisas que só você sabe fazer, como ninguém, a favor da Cultura.
Gostaria de contar com o seu apoio para a candidatura que Mossoró cultiva como um dos seus mais belos pleitos, a de levar Dorian para ocupar a vaga do outro grande homem, que foi Mário Moacyr Porto. Dorian é o gênio da raça mossoronse. Jornalista de renome nacional, saudou-o Tristão de Ataíde como um dos grandes estilistas brasileiros.
Venha Madruga, some a sua coluna prestigiosa e nos ajude a fazer da vitória de Dorian uma unanimidade que honrará Inteligência Potiguar.
Agora, uma palavra de elogio, mas também de reparo.
A História do Rio Grande do Note, que a “Tribuna do Norte” está fazendo, é uma iniciativa que engrandece o seu jornal. Graficamente, é perfeita. Gente do melhor nível a escreve. Mas, faltam a colaboração e a crítica do maior historiador do Rio Grande do Norte em todos os tempos.
Listaremos dentre os maiores que fizeram a história da nossa terra e da nossa gente, um rol de excelência: Tavares de Lyra, Rocha Pombo, Luís da Câmara Cascudo, Hélio Galvão e Olavo de Medeiros Filho.
Tavares de Lira foi político que muito honrou e serviu ao Rio Grande do Norte. Rocha Pombo tinha projeção nacional como historiador. Luís da Câmara Cascudo, pela vastidão do seu saber era todo uma grande universidade, louvado e até exaltado a nível internacional. Como folclorista, talvez nem uma meia dúzia o supere no mundo inteiro.
Se fôssemos, porém, indicar os dois maiores historiadores potiguares, voltados para o Rio Grande do Norte, nomearíamos, em primeiro lugar a Olavo de Medeiros Filho e em segunda plana a Hélio Galvão.
Agora, o seu suplemento estudou a Abolição do Rio Grande do Norte e o fez baseado em bibliografia de bom quilate, enquanto não tocava em Mossoró. Aí a bibliografia se tornou muito pobre. Como falar em Abolição de Mossoró, sem utilizar o seu livro clássico “História Social da Abolição em Mossoró”, do grande memorialista Raimundo Nonato da Silva?
Como desconhecer, e parece até um propósito, a ‘Coleção Mossoroense’, com seus 2.500 títulos publicados, como quase mil livros editados, com dezenas de estudos sobre o 30 de Setembro?
Natal, nossa formosa capital e os seus homens públicos precisam de se conscientizar de que o Rio Grande do Norte transcende os seus lindes metropolitanos.
Afetuosamente,
Vingt-Un
América
Santa Luzia de Mossoró, 31 de dezembro de 1997. ”
Juvenal Lamartine Hoje, 9 de agosto, é o aniversário de nascimento do dr. Juvenal Lamartine de Faria, seridoense de Serra Negra do Norte. Lá se vão 146 anos. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (orador da turma), em 1897. Jornalista, juiz de direito, professor (vice-diretor do Atheneu Norte-Rio-Grandense), vice-governador do Estado, deputado federal (sete legislaturas), senador, governador (1929-1930).  Pioneiro do voto feminino no Brasil. 
Fundador do Aero Clube do Rio Grande do Norte (1928) e um dos fundadores da Academia Norte-Rio-Grandense, da qual foi o seu terceiro presidente (1943/1949). Presidiu também o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Juvenal Lamartine ajudou Aluízio Alves na fundação desta Tribuna do Norte (começo dos anos de 1954), passando a ser um de seus principais colaboradores. Muitos de seus artigos estão reunidos no livro “Velhos Costumes do Meu Sertão”.
Deixando a política foi ser fazendeiro nas ribeiras do Potengi, cuidando da Fazenda Lagoa Nova que ficava no município de São Paulo do Potengi. Era uma fazenda modelo, que por muito tempo contou com o adjutório de Oswaldo Lamartine de Faria, seu filho caçula. Dois grandes brasileiros. 
 Faleceu em 18 de abril de 1956. Tinha 81 anos.
Perfil cascudiano 
Em depoimento publicado na revista Província (FJA, 1974), edição comemorativa do centenário de nascimento de Juvenal Lamartine, Luís da Câmara Cascudo traça o seu perfil com o título “O Causeur”. Transcrevo três trechos:
“Lamartine não foi apenas um magnífico conversador, um causeur. A voz empostava as modalidades e sobretudo os gestos. Aquela figura angulosa. A gesticulação. A mímica das mãos eloquentes. O sublinhado do olhar malicioso. Os casos picarescos, vivos, eram constantes e são hoje, ai de mim, uma presença na minha saudade. ”
“O político, o administrador, o economista, o parlamentar, o colaborador do Código Civil, o pioneiro incontestável do voto feminino no Brasil, o valorizador dos transportes aéreos, criando o Aero-Clube em 1928 com mais de 30 campos de pouso”.
“Mas esse pormenor de Lamartine conversador, de Lamartine homem de sala, de Lamartine eterno enamorado do feminino, de Lamartine sabendo fazer sátira com poucas palavras e sobretudo com o rito fino de seus lábios que se cerravam como dois fios de navalha – é para mim inesquecível. ” 
Juvenal Lamartine foi padrinho do casamento de Cascudo com Dona Dhália Freire (21/04)1928).


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