quinta-feira, 28 de março, 2024
27.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

Curta curtas: dois curtas metragens potiguares brilham em festivais

- Publicidade -
Tádzio França
Repórter      
Curtas-metragens são pequenas narrativas capazes de contar grandes histórias – incluindo, várias sobre o potencial do audiovisual potiguar. O alcance da produção local pode ser comprovado em dois exemplos recentes: o curta de ficção “Vai Melhorar”, de Pedro Fiuza, é o único potiguar selecionado para a 31ª edição do Curta Kinoforum – Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, de 20 a 30 de agosto; e “Planta Carne”, da cineasta e aluna da UFRN Júlia Donati, é o único concorrente do estado ao Prêmio Nacional Curta em Casa, da plataforma de streaming Cardume.
O curta potiguar de Pedro Fiúza Vai Melhorar é um dos 28 que vai compor a programação da Mostra Brasil do festival, escolhido entre três mil inscritos. Filme conta bastidores de uma campanha política
“Vai Melhorar” é um dos 28 curtas que vai compor a programação da Mostra Brasil do festival, escolhido entre três mil filmes inscritos. Nada mal para um fã que já acompanhava o evento há anos, e sempre sonhou em participar do próprio, um dos mais importantes do país para o segmento de curtas-metragens.  “O curta é um produto peculiar que muitas vezes não alcança dimensão comercial, algo essencial para garantir a continuidade do nosso ofício. Então os festivais são vitais para a carreira desse tipo de produção”, afirma Pedro Fiuza.
Bastidores políticos
Ao longo de seus 17 minutos, “Vai Melhorar” traz uma visão tensa dos bastidores de uma campanha política. O filme conta a história de Luísa (interpretada pela atriz paranaense Cássia Damasceno), uma jornalista que veio de São Paulo para apresentar os programas de TV da campanha de um prefeito em busca da reeleição numa capital nordestina. “Vemos o que acontece nos bastidores da produtora de vídeo que realiza o programa para o atual prefeito e acompanhamos a apresentadora Luísa, que precisa lidar com a solidão, as questões éticas do trabalho e as tensões políticas que ameaçam até sua segurança na cidade”, explica.
A política eleitoral, construída também a partir de outros relatos de profissionais que trabalharam em campanhas, é o contexto narrativo do filme, mas é apenas a primeira camada de afetos políticos que a obra constrói. Ao tomar o olhar de Luísa como ponto de vista protagonista da sua história, o filme estabelece uma relação estrangeira e de estranhamento com o Nordeste urbano contemporâneo que serve de cenário ao filme.
Júlia Donati dirige o curta "Planta Carne"
Os conflitos e contradições tão presentes nesse ambiente de campanha política permitem que o filme ainda aborde temas como o lugar da mulher na hierarquia de trabalho, o racismo, o machismo e a busca de emancipação pessoal e profissional das mulheres. Pedro Fiuza escreveu o primeiro tratamento de “Vai Melhorar” em 2016, um ano de eleições municipais que inspirou o diretor, que também tem vivência pessoal de trabalho nas campanhas.
“O lançamento do filme quatro anos depois do roteiro escrito acabou acidentalmente possibilitando a coincidência de estarmos novamente em ano de eleições municipais no Brasil. A polarização política crescente mantém acesa a atmosfera de urgência para que se exponha e se discuta o tema”, declarou. Devido à pandemia do novo coronavírus, o festival de 2020 será realizado de forma virtual e o conteúdo estará disponível gratuitamente entre os dias 20 e 30 de agosto para todo o Brasil em plataformas digitais.    
Pedro Fiuza acredita na importância do curta como uma porta de entrada para os realizadores de cinema. “É nele que é possível fazer as primeiras experimentações estéticas. Mas o curta também é um formato próprio, com regras particulares de linguagem e narrativa, e não deve ser encarado apenas como um estágio”, diz. Para ele, esse entendimento prepara as realizadoras e realizadores brasileiros que precisam lidar com a dificuldade de financiar suas obras, e as poucas oportunidades dos curtas enquanto produto comercial.
O diretor lembra que em 2019 o Kinoforum selecionou dois curtas potiguares, “Em Reforma” e “Codinome Breno”. “A visibilidade serve para comprovar que essas pessoas podem realizar o próximo trabalho, maior, mais ousado, com maior financiamento. Se podemos levar o nome do RN para tantas plataformas importantes, devemos ter políticas públicas que garantam esse trabalho. Vamos profissionalizar a cena e transformar em mercado”, analisa.
Cenas caseiras
Os dias de isolamento social inspiraram Júlia Donati a filmar momentos de seu cotidiano em ambiente caseiro, resultando nos três minutos do filme “Planta Carne”, único representante potiguar na final do prêmio Curta em Casa, promovido pela Cardume, uma plataforma de streaming especializada em curtas-metragens nacionais. As produções selecionadas estão disponibilizadas aos assinantes da plataforma, que poderão votar nos filmes. Os três mais votados receberão prêmios em dinheiro e serão convidados para uma sessão com debate ao vivo promovido pela Cardume.
“Planta Carne” é uma pequena viagem intimista conduzida pelo olhar de Júlia Donati. A casa em que ela vive em Parnamirim, a vegetação do entorno, a carne/corpo, as paredes do quarto, o poente lá fora, a gata onipresente: tudo é parte do microcosmo montado poeticamente por Julia. “As semanas se arrastam e procuro transmutar a passagem do tempo em aprendizado”, reflete a diretora no início do curta.
Julia Donati é designer gráfica, tatuadora, ilustradora, e aluna de pós-graduação em Produção de Documentários da UFRN. Como cineasta ela já participou de festivais de curtas e realizou dois clipes para a banda potiguar alternativa Ardu. O prêmio Curta em Casa recebeu inscrições até 21 de junho, e os vídeos foram produzidos a partir de março de 2020, respeitando as regras de isolamento social e as recomendações da Organização Mundial da Saúde. Os filmes já estão disponíveis no site.
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas