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Da caverna

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Riem, riem muito os amigos, alguns poucos que às vezes chegam por aqui, quando chamo de caverna esta casa nas fraldas dos morros plantada. É nossa desde 1980, há quarenta e dois anos, se aqui vivemos até o ano dois mil. Quando viver em apartamento foi inevitável, só teve um jeito de não deixá-la cair em mãos alheias: fazê-la a casa dos livros, quadros e teréns, viveiro de tatus, jacarés, tartarugas, um gavião e passarinhos que vivem aqui, como se vida de verdade tivessem. 
E aqui, Senhor Redator, tudo carrega seu destino manso de vidas inúteis ao apuro do lucro e da vantagem. Nada serve à vaidade humana. E se há, por ventura, algum valor a declarar, talvez seja o de servir aos olhos nesse mister de amenizar o tão grave ofício de viver. Glória, se é justo só dizer a verdade, também não há. Mas, vive em cada coisa uma lembrança que veio de perto ou de longe, com a pobreza de apenas ser pedra ou de reluzir a vaidade de ser uma espada do Império. 
E se um dia me fiz mestre de cerimônia desta caverna de lembranças, foi certamente por não ter outro destino mais nobre. No fim, se é forçoso dizer, há uma humilde nobreza em todas as coisas. É nobre na vida de cada um aquilo que nos faz companhia a vida inteira. Mesmo que seja apenas uma pequena placa de ágata, com letras muito azuis que avisa, como avisou durante anos pregada no alto da fachada das casas onde viveu o meu avô maranhense: Alberto Mattos Serejo.
Foi presente do meu tio Domingos, assim como uma caixa de bronze, com um dragão em relevo, encontrada no cofre. Dentro, dois cartões que guardou de tempos vividos: um de Câmara Cascudo, pedindo que indicasse o nome para a escola em São Gonçalo, onde ele foi interventor; e outro, de Mário Câmara. E, ainda, uma caixa de cedro, forrada com tartaruga, onde guardou o lenço com o qual enxugou as lágrimas de sua mãe numa despedida, ele que nunca mais iria vê-la.  
É uma pobre fortuna, dirá vosmicê, mas cada um tem a fortuna que que lhe é dado ter, feita do brilho intenso do níquel ou do verniz das lembranças. A mim, e talvez por isso vivi sempre um jeito pobre de ser feliz, coube esse destino de guardador de pequenas joias de família. Mas nunca, registro com vaidade, perguntei se delas viria alguma serventia que não fosse tê-las nas paredes ou nas estantes. Um ouro que ninguém desejaria roubar, se é inservível para a vida farta e gloriosa.  
Há, devo dizer, uma belíssima imagem barroca da Senhora da Conceição, entre outras, com seu manto azul, sua coroa e seus três anjos, protetora dos fracos e oprimidos como mãe de Deus, sereníssima na sua misericórdia. E se há o junco do pecado, algumas tardes e noites, há o perdão da bondade infinita. É que certos dias, quando a angústia de viver sobe os degraus da alma, vem a necessidade inevitável de um bom uísque que se bebe aqui, como se fosse uma unção dos deuses. 
JOGO – Sabido, para não dizer ardiloso, o argumento de Garibaldi Filho ao classificar o primo, Carlos Eduardo Alves como político independente. Carlos e Walter Alves podem dizer o mesmo.  
ALIÁS – Deve ser a moderna versão multiplex, aquela que antigamente a ciência política chamava oligarquia. Quando o slogan do conhaque Dreher dizia bem assim: ‘De pai para filho desde 1910”.   
VINDITA – Henrique Alves estava certo ao deixar o MDB. Garibaldi Filho, com a própria boca, confessou a trama de tomar seus votos dentro do partido. Algo de feio e deplorável entre amigos.  
VIVO – Diante da notícia de que um cemitério privado da cidade vai transmitir os sepultamentos, via Internet, para o Brasil e o mundo, então estamos diante da morte ao vivo. Tempos estranhos. 
PERDA – A nossa Academia Macauense de Letras e Artes perdeu o poeta João Lino Dantas, o fundador da Cadeira 16 que tem como patrono Luiz Xavier da Costa. Um nome querido na cidade.
FALSO – Pesquisa nas redes sociais mostra que só três por centro dos homens feios se reconhecem feios. O resto, 97%, se acha bonito. Menos este cronista que reconheceu e confessou nesta coluna. 
ANOTEM – O ex-governador Robinson Faria conhece o jogo e por isso constrói em silêncio a sua eleição a deputado federal. Discreto, não deixa rastro. Os votos só vão aparecer dentro das urnas.   
POESIA – Da poetisa Heloíza Abdalla, de Mogi das Cruzes, SP, versos assim e que abrem seu belo poema ‘Pressa’: “Não temos mais pressa / nós temos uma coisa imensa / chamada urgência”.
TORPEDO – O ex-prefeito Carlos Eduardo Alves, no estilo de substituir argumento por desaforo, a jogar pedras contra a dignidade dos adversários, não pode deixar de desmentir a denúncia de que usou o dinheiro do PDT, como presidente, para alugar um imóvel de propriedade de sua mulher. 
CADÊ? – Para William Pinheiro, nos sertões de pedra dos Currais Novos: onde anda você que não publica o diário da jornada do monsenhor Paulo Herôncio quando foi a Roma, há setenta anos, na canonização de S. Maria Goretti? E até inaugurou a Capela para sua devoção, em Currais Novos?  
HISTÓRIA – Na agulha, para ir aos prelos, numa edição Sebo Vermelho, de Abimael Silva, “Notas sobre Canguaretama, noções de história, algumas lendas e tradições”. Um texto inédito de Antônio Fagundes, com prefácio e anotações do juiz Ivan Lira de Carvalho. Sairá ainda este ano.  
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