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Da Peste – V

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Vicente Serejo
Da grande peste, Senhor Redator, que é o Coronavírus, esse inimigo invisível que a ciência chama de Covid-19, nascem novas pestes a cada hora medonha em que se alastra e vai corroendo as verdades cevadas ao som dos atabaques bolsonaristas. A mais flagrante delas, e ainda sem vacina, foi o tão propalado rombo de milhões da Previdência Social a justificar as reformas trabalhista e previdenciária que poderiam ter sido feitas bem mais gradualmente.
O que faltou de maior justeza social, em razão dos abismos salariais que marcam a vida brasileira, sobra em exemplos. As verdades, por mais pesadas que possam ser, um dia se desprendem do fundo do lodo e flutuam. A peste é uma grave ameaça ao bom equilíbrio da economia, sem a qual uma sociedade não pode merecer o que lhe é mais justo que é a paz, mas essa peste chegou quando o país parecia ainda mais vulnerável nas suas fragilidades.
Os jornais noticiam o excesso de concentração da riqueza em 6% dos nossos 200 milhões de brasileiros e 94% com a renda suficiente para a nutrição e a vida. Há 40 milhões de trabalhadores informais que só ganham o pão se saírem às ruas todos os dias e por isso não recolhem contribuições à previdência, assassinando o próprio futuro. São doze milhões de desempregados e cinco milhões que não podem ficar em suas casas, pois moram nas ruas.
Culpa do Governo Bolsonaro. Não. Seria injusto. O problema é que esse quadro não teve até agora uma política de ação social que pelo menos reduzisse o ritmo de crescimento. Não é à toa que alguns dos mais credenciados economistas condenam o neoliberalismo do ministro Paulo Guedes, disposto a reinventar a riqueza com manobras ardilosas quando só é possível erguê-la com o mínimo de justiça social para evitar a inquietação desestabilizadora. 
As medidas radicais ou verticais, como o confinamento absoluto da população acabou por revelar que a fragilidade social mora também nos pequenos balcões, nas mercearias, nos carros de pipoca e de cachorro-quente. Uma paralisia, mesmo passageira e inevitável, pode provocar consequências imprevisíveis. Sim, sim: quanto mais pobre um povo menos capaz de vender e comprar. E sem vendas e compras de arroz, feijão e pão, maior será a estagnação. 
Tomara que o preço de pagar com a vida dos mais vulneráveis não ultrapasse o limite da tragédia de proporções coletivas. Quem sabe, teremos outros olhos para o Sistema Único de Saúde, único garantidor da saúde pública e coletiva. Para a educação, hoje sem rumo, nas mãos e solavancos de uma gestão mambembe. São várias as pestes nascidas da nova peste negra que é o Coronavírus. Que nos deixe, depois de tudo, o legado da solidariedade humana. 
ELOGIO – Perfeita a manchete desta TN, de ontem, informando aos seus leitores que no RN 58% dos casos de Coronavírus atingem os jovens entre 20 e 39 anos. Jornalismo se faz assim.
ACERTO – Correta a decisão, pela objetividade, da governadora Fátima Bezerra ao criar uma central de atendimento para informação e acolhida psicológica das vítimas do Coronavírus.  
ALIÁS – Terá também o objetivo de ser uma porta institucional para doações e prestação de colaboração e serviços por parte da sociedade. Essa luta contra o Covid-19 tem que ser assim.
REAÇÃO – O posicionamento dos governadores, mantendo o confinamento temporário é uma forte e bela demonstração de que a tal nova política de novo só tem desprezo pela vida. 
ELE – Os aplicadores da bolsa querem inverter, incentivados veladamente por esse mestre de cerimônia do desprezo pela vida que é Paulo Guedes. Quer impor a fé no Deus do Mercado. 
AVISO – Nas três notas do Camarim que fecham a coluna, a paulada de Elio Gaspari no ‘Sistema S’ representado pela Federação das Indústrias na videoconferência com Bolsonaro. 
GESTO – Enquanto isto, registra Gaspari, uma pizzaria mandou trinta pizzas para o jantar da equipe médica de um hospital público do Rio. E uma mensagem “Com um toque de amor”.
TIRO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, no quinto, o mormaço do malt já amornando as pálpebras: “O pior vírus é o do desprezo pela vida humana. E não tem cura”.
MÁSCARA – O colunista Elio Gaspari no seu artigo de ontem, na Folha – ‘A Fiesp expôs sua alma”, arrancou a máscara de como pensa e atua o hoje famigerado ‘Sistema S’ ao revelar um encontro do presidente e três dos seus ministros com 14 dos grandes empresários de S. Paulo.
DESPREZO – No encontro, classificado por Gaspari como ‘um penoso documento histórico’, feito de ‘platitudes e bajulações’ – é do texto – só o gesto do empresário Eugênio Zagottis, em nome das farmácias, ao pedir um adiamento da remarcação de preços neste momento grave.
ABUSO – O empresário Edson Queiroz Neto pediu um avião da FAB para trazer da China as compras de sua empresa. Tomou um carão do chefe da Casa Civil, general Braga Neto, ao lembrar que a Vale fretou avião para trazer as doações. Ainda há quem defenda o ‘Sistema S’. 
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