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Da realidade para o romance

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Ramon Ribeiro
Repórter

Por que queimar tanto a cuca para criar um enredo surpreendente quando a realidade já nos dá de mão beijada uma história incrível? Afinal, nem sempre a imaginação será capaz de abastecer um romancista com uma poderosa história. Nesses momentos vale a máxima de que a realidade supera a ficção. Exemplos de autores que caminharam nessa corda bamba com sucesso não faltam, do  colombiano do peruano Mario Vargas Llosa ou argentino Julio Cortázar, passando pelo  Gabriel Garcia Marques, autores que certamente inspiraram duas obras  recentes dessa tênue relação “Ficção e Realidade”: “Rosalina, meu amor”, de Antonio Stelio, e “Quem matou Odilon Peixoto”, de José Sávio Lopes. Partindo de crimes passionais que aconteceram em décadas passadas, as duas obras serão lançadas no próximo sábado (30).
Livro parte de uma história de amor e tragédia em 1950
Jornalista há muitos anos, o acreano radicado em Natal Antonio Stélio acredita que uma ficção hoje em dia tem que oferecer ao leitor mais que apenas a história e seus personagens. “Acredito que um romance de ficção puro tem que trazer um conteúdo substancial filosófico, tem que trabalhar algum pensamento”. Para ele, gêneros que misturam realidade e ficção acabam ocupando esse espaço. “O leitor tem se interessado por esses gêneros porque eles dão a oportunidade para quem está lendo escolher uma interpretação diferente sobre acontecimentos reais, que às vezes se conhece por um olhar, e uma nova interpretação traz mais nuances”.

Seu livro “Rosalina, meu amor”, editado pelo Sebo Vermelho, trata do verídico crime passional que chocou a população de Rio Branco, no Acre, em 1941. Rosalina, jovem professora noiva de um piloto da FAB, foi assassinada pelo presidiário Lázaro. O preso via a professora passar para escola todos os dias da janela de sua cela. Atraído, ele tenta se corresponder com ela por carta, mas suas mensagens não são entregues. Pelo contrário, são respondidas por alguém que se faz por Rosalina, alimentando a paixão do preso. Quando a trama vai longe demais, a suposta troca de mensagens é encerrada.

Antonio cresceu em Rio Branco ouvindo essa história. Mais velho, percebeu que havia chegado o momento de contá-la num romance. “É um crime bárbaro, com drama inusitado. A mulher morreu sem saber porque. O processo na justiça tem 900 páginas escritas à mão, eu tive acesso a ele. Para o livro usei todos os acontecimentos e personagens verdadeiros”.

No texto, o autor disse que escolheu dar uma vestimenta de prosa poética para que a narrativa envolvesse mais. “Minha vivência jornalística me voltou para os fatos. Mas depois de muito tempo na área, o jornalista cansa da linguagem seca, direta, e se permite começar a dar algumas licenças poéticas, a dar novas interpretações aos fatos”.

Oitavo livro publicado, sendo o segundo romance, “Rosalina, meu amor” é o primeiro lançamento de Antonio Stélio em Natal, cidade que escolheu para morar faz dois anos. Aos poucos ele tem se inteirado sobre a cena literária potiguar. Suas descobertas inclusive levaram ao poeta Juvenal Antunes (1883-1941), personagem local que ele pretende explorar em um próximo livro, ao estilo biografia romantizada.

Crime brutal no sertão potiguar é revisitado
Um jovem de Fortaleza vai passar as férias na casa de familiares na serra do Mundo Novo. Durante esse tempo ele começa uma paixão com uma prima. De volta ao Ceará, mantém o contato com amada por cartas. Aproveitando um feriado, ele retorna ao interior potiguar, dessa vez para pedir a mão da prima em casamento. O pai da jovem nega o pedido. E não satisfeito, mantém o garoto prisioneiro e sob tortura, até enterra-lo vivo dias depois.

O caso aconteceu no sertão potiguar em 1950 e chegou a virar reportagem de várias páginas na revista “O Cruzeiro”, além do cordel “História de Amor Fatal”. Agora a história real é o ponto de partida do livro “Quem Matou Odilon Peixoto?”, do escritor, advogado, engenheiro e professor universitário José Sávio Lopes. Publicado pela 8 Editora, a obra costura essa trama com  linhas de outras histórias que acontecem ao mesmo tempo, como a investigação sobre um roubo de uma instituição financeira, além da história de um garoto que só consegue falar em versos.

“Evito escrever sobre o real. Prefiro ficcionar. Não tenho medo da fantasia. Não é uma transcrição do acontecimento. Não é um livro sobre o caso. Parte do fato”, diz o escritor. Ele avisa que o livro não é uma trama policial. “Não se trata da investigação do crime. São relatos populares que desenrolam a história”.

Publicado na sequência de “São Sebastião da Bixiga e o Genesis Trinta e Oito” (2014) e “Eu Quisera Contar” (2012), em seu terceiro livro Sávio é fiel ao universo sertanejo, mas evita um olhar saudosista. Misturando realidade e ficção, e tendo como referência o realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques, ele quis dar um olhar “regionalista universal”.

TRECHOS
“Rosalina, meu amor”
“Lázaro era um exemplo típico de preso trabalhador. Só uma coisa o deixava molenga: a paixão por Rosalina. Por esta razão sempre o viam esgueirando-se junto ao muro, ou em longa observação através da minúscula janela de sua cela, que dava para a rua, por onde, amiúde, transitava Rosalina, completamente alheia ao seu interesse”.

“Quem matou Odilon Peixoto”
“Gelsa, sabedora do interesse despertado na clientela, antes de atirar Çãozinha na vida, organizou uma festa de lançamento. Não para esconder – naqueles tempos os conceitos éticos de prostituição infantil eram nefastos – a cerimônia ocorreu a portas fechadas com um disputado leilão para ver quem dividiria a primeira noite de Çãozinha”.

Serviço
Lançamento de “Rosalina, meu amor”, de Antonio Stélio.
Sebo Vermelho (Av. Rio Branco, 705, Cidade Alta)
Sábado (30), das 9h às 12h

Lançamento de “Quem matou Odilon Peixoto”, de José Sávio Lopes.
Livraria Saraiva (Midway Mall)
Sábado (30), a partir das 19h

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