quinta-feira, 18 de abril, 2024
31.1 C
Natal
quinta-feira, 18 de abril, 2024

Danilo Carvalho: “A Arena foi projetada para ser viável”

- Publicidade -

Por Anna Ruth Dantas

A identificação do arquiteto Danilo Carvalho com o futebol vem da preferência pelo esporte, de quem já foi goleiro, “mas não chegou a ser nenhum Neymar”, como ele mesmo pondera. O que Danilo não imaginava era que o ex-goleiro daria lugar ao arquiteto que participou de quatro projetos, dos 12 em execução, para as arenas que sediarão o mundial de futebol no Brasil.
Danilo Carvalho afirma que começou a viver a Copa dez anos antes do Brasil ser confirmado como sede. Ele realizou um detalhado estudo sobre os estádios sedes de mundial de futebol em outros países. O conhecimento lhe garantiu a conquista de clientes para os projetos das arenas brasileiras.
No foco da Copa de 2014, Danilo Carvalho projetou a Arena das Dunas, a Arena de Manaus, teve participação na Arena de Cuiabá e ainda foi contratado para analisar o projeto do Mineirão
“Temos uma grande informação do que é estádio propriamente dito, o legado que o estádio e as outras obras trazem. Como brasileiro lhe digo, comparando todas as outras Copas anteriores, a tendência é a cidade sede ter um benefício indireto de marketing, turismo, exposição para o mundo, depende de como cada cidade vai explorar essa possibilidade”, analisa.

A Arena das Dunas, inaugurada na última quarta-feira pela presidente Dilma Rousseff, tem o desenho de Danilo Carvalho. Analisando a história desse projeto, ele lembra das discussões sobre a demolição do antigo estádio Machadão, mas ressalta que as regras da Fifa entravam em choque com o empreendimento que estava posto, por isso a necessidade da arena.

Sobre a multifuncionalidade do empreendimento, o arquiteto observa que esse perfil garante uma diversidade maior de atuação para gerar rendas e garantir a manutenção da arena. Acompanhe o 3 por 4 com Danilo Carvalho:

Natal inaugurou a Arena das Dunas, que tem o seu projeto. Analisando todo trabalho realizado, o que foi mais difícil nesse projeto da Arena das Dunas?
Na verdade, a gente não teve dificuldade técnica. Tínhamos um terreno generoso, uma localização generosa, referências locais culturais muito importantes e isso norteou todo partido do projeto. Desde a criação o projeto, desde a sua criação, ficou um partido muito agradável. Todo desenvolvimento do nosso projeto, agora que vemos a Arena pronta, foi mantido e esteticamente o projeto ficou muito bonito. Em relação a viabilidade o Governo fez uma modelagem de licitação em PPP (Parceria Público Privada). Ou seja, transferiu a responsabilidade da operação do estádio para um ente privado, que vai assumir, e tem a responsabilidade por desenvolver e criar eventos para justificar o investimento que eles estão fazendo. Então acredito que tenha sido um sucesso tanto da parte técnica, projeto, conceituação, como da parte de viabilidade e a modelagem adotada que foi uma PPP. Cheguei a ver algumas artes remetendo a cultura local e incluindo a plástica do estádio a alguns elementos locais que ficou bem legal. Acho que até a parte cultural está incluindo o estádio propriamente dito como uma referência da cidade. Como Natal é uma cidade muito importante no turismo brasileiro, acho que será um ponto turístico de atratividade para cidade.

O projeto da Arena das Dunas envolveu a demolição de um estádio. O fato da Arena ter envolvido esse aspecto, que trouxe muitas críticas, pesou de alguma forma?
Vocês tinham um projeto muito importante, de arquiteto renomado, projeto plasticamente bonito, que a gente respeita muito. Inicialmente no desenvolvimento do projeto ocorreram várias discussões locais em relação a demolição ou  não do estádio antigo, mas era um projeto que não seguia o caderno de encargos e exigência da Fifa atualmente. A adequação do estádio atual seria muito mais custoso se fosse, realmente, demolido e construísse um estádio novo com todos os pré-requisitos da Fifa. Por uma questão técnica e de custo que foi adotada a opção de demolir e fazer um projeto novo. Foi uma questão de viabilidade.

O que diferencia a Arena das Dunas das demais arenas que sediarão os jogos da Copa deste ano?
Considerando requisitos Fifa, todas as arenas são muito similares, é uma regra, uma receita de bolo que você precisa seguir e tem que atender aos pré-requisitos deles. Em relação a Arena das Dunas propriamente dita, poucas outras arenas tiveram elementos pensando na viabilidade como a gente colocou nesse projeto. Temos uma redução de capacidade no estádio, esse é um grande diferencial que sempre a gente defendeu nos nossos projetos e a gente conseguiu incluir a ideia na Arena das Dunas, que é a redução da capacidade. Temos a diminuição de 10 mil assentos pós-Copa. Atendemos o caderno de encargos necessário para Copa e depois a gente reduz as quantidades com arquibancadas temporárias. Isso dá algumas vantagens para o nosso estádio. A gente reduz o custo de manutenção, limpeza para o futuro. Não teria porque manter um estádio de 42 ou 43 mil lugares ao longo do tempo por 20 ou 30 anos se a realidade local demandariam eventos para quantidade de pessoas menor. Reduzimos ao longo de décadas custo de manutenção e limpeza. Outra viabilidade é a redução do custo da própria implantação fixa desses assentos. Você aluga esses 10 mil lugares durante a Copa e depois desmobiliza isso e tem um custo menor de implantação do estádio atual. Principalmente nas arquibancadas Norte e Sul temos espaços estratégicos que podem ser montados palcos para eventos. E vários elementos de multifuncionalidade no estádio são previstos para atrair outros eventos, além de futebol. Isso precisa ser fomentado na região. Mas não pode contar só com futebol, mas outros eventos. E o responsável é o consórcio que ganhou a operação.

Ainda há discussão sobre a viabilidade econômica da Arena das Dunas. O senhor tem alguma dúvida sobre isso?
Eu não sou responsável por ter estudado a viabilidade, meu trabalho nesse projeto foi o desenvolvimento da parte de engenharia. A minha responsabilidade foi levantar elementos suficientes para ser possível essa viabilidade. Acredito que um consórcio fez a proposta, venceu a licitação e assumiu a operação, esse consórcio deve ter estudado e visto a viabilidade.

A Arena multiuso foi a alternativa para viabilizar economicamente?
Conceitualmente, não só  na nossa Arena, mas as arenas multiuso trazem o conceito se você tiver uma estrutura desse tamanho exclusivamente para futebol a conta não fecha. Você precisa, pelo menos, ter dois times coabitando no mesmo estádio para usar todos os finais de semana para começar a fechar o custo de manutenção. Quando desenvolve um estádio com premissas de multifuncionalidade isso é muito amplo. Existem estádios que você consegue retirar o gramado todo e ficar com a base de concreto para ficar com show. Isso é sofisticado, mas é custoso. Você pode ter um estádio coberto ou não para shows. Há vários itens que você pode ou não utilizar visando uma multifuncionalidade, que é trazer outros eventos além de futebol para colaborar na receita daquele Estado. No estádio Asteca, da Cidade do México, que tem 70 mil lugares, eles usam até para velório. O estádio pode ser usado para shows, eventos religiosos, esportes radicais. Quanto mais multifuncional um estádio for, mais possibilidade de receita futura ele pode trazer.

O senhor é um brasileiro que já vem vivendo a Copa das arenas. Qual a sua visão, do cidadão, sobre o efeito Copa para o país?
Eu vivo a Copa quase uma década anterior a escolha do Brasil para país sede. Porque a gente sempre estudou isso no nosso escritório. Eu trabalhei com estádios para o interior na Secretaria de Esporte de São Paulo, no começo da minha carreira. Isso sempre foi  uma paixão, um assunto interno logo que me formei. Anterior ao Brasil ser escolhido, a gente fez diversas visitas na Europa e nos Estados Unidos para estudar operação de estádio. Sempre estudamos esse tema. Cinco anos antes do Brasil ser escolhido cidade sede fiz um tour para analisar operação de estádio pelo mundo e tivemos a sorte do Brasil ser escolhido cidade sede. Eu vivenciei isso. Temos uma grande informação do que é estádio propriamente dito, o legado que o estádio e as outras obras trazem. Como brasileiro lhe digo, comparando todas as outras Copas anteriores, a tendência é a cidade sede ter um benefício indireto de marketing, turismo, exposição para o mundo, depende de como cada cidade vai explorar essa possibilidade. A gente esperava mais obras de infraestrutura, nem tudo previsto foi feito, mas tem algum benefício, aproveitamento de infraestrutura que a população se beneficia. Como grande legado é explorar o marketing de forma eficiente a divulgação das cidades sedes para o mundo.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas