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Darcy: um mito que nunca vai nos deixar

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Cristovam Buarque
Senador (PPS/DF)

Há duas maneiras de fazer política: uma é pelo poder; a outra é pela história. Darcy fez política pela história. O poder era o meio, o meio que ele usava para deixar suas marcas na História deste país e do resto do mundo.

Darcy também deixou um exemplo, porque alguns fazem política e deixam apenas lembranças de que passaram pelo poder; outros fazem política e deixam um legado pelo que fizeram; raros deixam um exemplo pelo que foram. Darcy Ribeiro nos deixou um exemplo. Um exemplo da complementaridade entre a sua obra e sua vida.

Em vida, já era um mito, pelo seu exemplo, pelo que fazia, pela maneira como vivia plenamente cada dia, por aquilo que não abria mão de ser. Muitos de nós, para fazermos, abrimos mão de ser. Ele não abria mão. Ele foi, ele fez, ele tentou.

Que falta não faz Darcy Ribeiro neste momento! Se pudéssemos tê-lo, com seu charme, defendendo aquilo que, agora, começa a tocar a consciência das pessoas, o imaginário do Brasil, aquilo que ele dizia, na época em que todos pensavam que o movimento vinha das engrenagens das indústrias e não do enriquecimento da inteligência; que vinha de garantir emprego, mesmo a analfabetos, e não de educar aqueles que eram analfabetos!

Darcy foi um profeta do ponto de vista do desenvolvimento civilizatório, porque, hoje, creio que todos estamos chegando à ideia, ao acordo de que o progresso não vem da  ordem, o progresso vem da educação. O progresso não vem do chão de fábrica, vem dos bancos de escola. Não é mais uma questão de luta de classe, de contrários, de uma dialética, fazendo com que o mais forte vença o mais fraco. É tempo de uma convergência, fazendo com que todos convivam. Não é mais questão, hoje, de a gente dizer, como se dizia antes, que uma revolução acabaria com os ricos. Hoje é hora de dizer que a revolução acaba com a falta de educação. Darcy Ribeiro era isso, só que no momento em que isso não era aceito como o vetor correto do progresso civilizatório. Ele viveu no momento da industrialização como o grande projeto para o Brasil, e não a educação como o grande projeto.

Hoje, ao lembrar de Darcy, percebo como faz falta. Ele aqui iria nos ajudar a derrubar os dois muros que emperram o Brasil: o muro do atraso e o muro da desigualdade. O muro do atraso não nos deixa ser um país igual aos desenvolvidos, por falta de ciência e tecnologia. O muro da desigualdade não nos deixa quebrar essa maldita desigualdade perversa de cinco séculos, porque só a educação, só a escola é que nos permitirão derrubar o muro. Não vamos derrubar os muros com economia; vamos derrubá-los com educação. Darcy nos faz essa falta e, por isso, vai continuar sendo lembrado para sempre.

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