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Das amendoeiras…

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Vicente Serejo
Era sobre a espera da primavera nos morros – sempre vem com o sol luminoso de setembro – que desejava escrever. Mas, sem querer, quando passava na direção do Campus, os olhos caíram na solidão de uma castanheira que vive aqui perto, nesta Brigadeiro Gomes Ribeiro, nas fraldas das dunas. É triste e ao mesmo tempo belo o espetáculo das suas folhas mortas que caem a cada minuto e vão forrando o chão em torno do seu tronco já rugoso de árvore velha e sem nobreza.
O cronista confessa ter antiga paixão pelas amendoeiras. Tanto que conserva nas estantes a edição original de ‘Fala, Amendoeira’, de Carlos Drummond de Andrade, José Olympio, Rio, 1957. E, enfiados nas páginas, os recortes já amarelados das crônicas de Rubem Braga e Zuenir Ventura. E, mais emocionante, se há emoção num recorte de jornal: a crônica ‘Ciao’, do poeta Drummond, o seu adeus aos leitores na edição de 29 de setembro de 1984, no ‘Jornal do Brasil’. 
Os livros e os papéis velhos que aqui vivem, Senhor Redator, com o tempo, ganham vida justamente pela inutilidade de sua pobre serventia. Nas mãos dos intelectuais certamente seriam arquivos implacáveis, hemerotecas, sei lá. Cronistas não sabem dessas coisas e se a tudo guardam não é por espírito superior, mas pelo simples gosto da convivência, calma e anônima. Aquela de quando as menores coisas viram companhia e, num passe de mágica, se tornam indispensáveis.
Rubem Braga, especialista em árvores e passarinhos, dizia que as amendoeiras, chamadas castanheiras pros lados do Sul, são ‘árvores desentoadas’. Não se vestem e se despem por igual, como assinala Zuenir Ventura, baseado no velho Braga. No caso, diz Zuenir, enquanto a que fica em frente ao seu edifício parece radiosa sob o sol do verão, a outra se cobriu de uma enorme tristeza outonal, perdendo as folhas – aquelas folhas mortas do verso célebre de Jacques Prévert. 
É essa castanheira desfigurada e triste que deixa suas folhas no leito da rua e que se revela aqui como numa desventura. Para Rubem Braga, consultado por Zuenir, as amendoeiras serão sempre assim, diferentes umas das outras. E por uma razão natural, de tão humanas: vivem de acordo com a data e as condições de quando e como nasceram. E crescem assim. Cada uma com seu temperamento, seu jeito de ser. Como as pessoas. Umas tristes e melancólicas, outras felizes. 
Quanto ao adeus do poeta Carlos Drummond, como não seria possível transcrevê-lo na íntegra, deixo aqui as suas últimas palavras de cronista. O poeta estava tristíssimo com o câncer que mataria sua única filha, Julieta. E a ele também, mas de tristeza. Depois de reconhecer a velhice, e de confessar que se despedia dos leitores e não das palavras, Drummond fecha o adeus com um parágrafo curto, de algumas palavras, assim “Aos leitores, gratidão. Essa palavra-tudo”. 
DELÍRIO – São risíveis, de tão delirantes, as estatísticas do turismo oficial. Paris, Nova Iorque e Roma não amarram a chuteira no crescimento do turismo em Natal nesta fase pós-pandemia.  
MAS – Apesar da ineficiência, Natal pode ser um nicho, como Maramar, no Piauí, do ambiente ‘open mind’, para adultos, com arquitetura inspirada nas ilhas Mykonos e Santorini, na Grécia.
LGBTQIA+ – São ambientes exclusivos para adultos, com banheiras tipo jacuzzi, sauna, boate e charutaria. Para hóspedes ou sócios. Não fique surpreso se Natal entrar nesse novo mercado.
ALIÁS – Natal pode sair da pandemia como a área da nova moda para a iniciativa privada. Por isso a Nazária, do grupo Jorge Batista, fará convenção aqui, em outubro, pelo seu belo cenário. 
RETRATO – A edição de setembro da revista Piauí tem na capa o ‘menino’ Jair Bolsonaro, numa metáfora, brincando com soldadinhos de chumbo, miniaturas de tanques de guerra e granadas. 
TOQUE – A ‘Isto É’ que está bancas assumiu o governo de São Paulo como referência para o Brasil, com João Dória e Henrique Meireles e o crescimento do PIB paulistano que atingiu 8%.   
HUMOR – Como disse Raimundo Nonato de Lima, leitor desta coluna, ao ler que o mito atribuiu seus despautérios ao ‘calor do momento’: o presidente parece sofrer dos ‘calores do climatério’. 
PIOR – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, olhando ao seu redor: “Deles, o pior é o falso simples. Esconde na simplicidade que falsifica aquele brilho que não tem para mostrar”.  

AVISO – O governo da professora Fátima Bezerra pode patrocinar um trágico epílogo para uma tragédia silenciosa que há décadas vem destruindo a história administrativa do Rio Grande do Norte – os documentos do Arquivo Público do Estado armazenados sem condição de preservação.  
PERIGO – Depois de enfrentar, antes, as goteiras, traças e cupins, agora os milhares documentos enfrentam um novo e silencioso inimigo: o abandono. Descaso vem ainda do tempo de governos passados, mas a indiferença agora, do governo atual, pode comprometer a gestão da professora.
VISITA – Cabe ao presidente da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, visitar o ‘arquivo’ e levar a governadora na sua companhia. Quem sabe, diante do abandono, os anjos da História façam cair sobre os dois o peso do remorso. Quem cala consente e já quem consente é culpado.   
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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