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Das ironias do destino

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Paulo Coelho
Escritor
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A morte como madrinha
Um carvoeiro, apavorado pela ideia de morrer, resolveu convidar a morte para madrinha do filho. “Assim ela não me leva, pois terá que cuidar de meu filho” pensava o carvoeiro.

Realmente ele viveu muitos anos, mas um dia a Morte precisou buscá-lo; para não pegá-lo de surpresa, avisou sua visita com antecipação; assim o carvoeiro podia tomar as providências que precisava. O homem ficou apavorado – e, no dia marcado, disfarçou-se de mendigo e foi para a rua.

A morte chegou.

“Meu marido não está em casa”, disse a mulher do carvoeiro.

“Ainda bem!  Vou levar aquele pobre mendigo ali na rua, e Deus não vai reclamar”.

E o carvoeiro foi carregado pela morte.

A benção que não é notada
Um leão encontrou um grupo de gatos conversando.

 “Vou devorá-los”, pensou.

Mas começou a sentir-se estranhamente calmo. E resolveu sentar-se com eles, para prestar atenção na conversa.

“Meu bom Deus”, disse um dos gatos. “Oramos a tarde inteira! Pedimos que chovessem ratos do céu!”

“E, até agora, nada aconteceu!” disse outro. “Será que o Senhor não existe?”

O céu permaneceu mudo. E os gatos perderam a fé.

O leão levantou-se, e seguiu seu caminho, pensando:

“Veja como são coisas. Eu ia matar estes animais, mas Deus me impediu. Mesmo assim, eles pararam de acreditar nas graças divinas. Estavam tão preocupados com o que estava faltando, que nem repararam na proteção que receberam”.

O fim que levou o corpo
“Por que você está triste?”, disse um santo para o outro, enquanto caminhavam no Paraíso.

“Porque, durante a minha vida na Terra, fiz tudo para evitar os prazeres da carne; dediquei-me exclusivamente ao espírito. E isto me obrigou a castigar meu corpo com os piores suplícios. Eu o flagelei durante muitas noites, para evitar as tentações. Eu o alimentava mal. Eu tratava meu corpo com todo o desprezo possível”.

“Mas foi por isso que você virou santo”.

“Justamente. Mas o que aconteceu com o meu corpo, que foi sempre tão desprezado por mim? Os homens o embalsamaram, construiram uma capela ao seu redor, e passam o tempo todo venerando minhas relíquias”.

A força e a sabedoria
R. Barros conta que, a cada ano, a cidade se reunia para um concurso. Quem cortasse mais troncos durante quinze horas, levava o prêmio. O mestre lenhador sempre ganhava.

Um dia, um rapaz resolveu desafiá-lo. Confiando na sua juventude e disposição, apostou muito dinheiro em si mesmo.

O concurso começou. A cada hora, o mestre sentava-se um pouco.

“Ele já perdeu a vitalidade”, pensava o rapaz, enquanto trabalhava sem parar.

 No final, foi feita a contagem: e o mestre ganhou.

“Não é possível!”, disse o rapaz para o mestre. “Como pode ter ganho, se eu vi o senhor parar muitas vezes para descansar?”

“Eu não estava descansando”, respondeu o mestre. “Eu parava para afiar o machado”.
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