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Das palavras

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Vicente Serejo
A maior riqueza das palavras, Senhor Redator, é poder usá-las para dizer e não dizer. Ou seja: a plasticidade da sua semântica, se é possível dizer assim, depende dos interesses de quem a maneja e do próprio manejo. É esse uso, quase sempre sutil, que é capaz de construir seus juízos de valor e aplicá-los naquilo que os gramáticos chamam de oração. Seu arco vai do dizer ao não dizer, não esquecidas, aí, as tonalidades e matizes, para mais ou para menos, segundo a intenção.
Nos políticos experientes, levados por almas ardilosas, a palavra tem a fineza de um florete usado nos duelos, e que matavam como uma arte nos salões medievais. Com o tempo e o processo civilizatório, a aristocracia política substituiu a espada pela palavra, mas, nem por isso, sua arma é menos mortal. A palavra vai do riso ao pranto. Ama e odeia, constrói e destrói, acolhe e despreza, estende e nega a sua mão, revela a riqueza, esconde o roubo, canta a beleza e tempera a paixão. 
Mas, também é preciso reconhecer que a palavra flagra. É como se fosse uma régua capaz de medir a capacidade de formulação como um instrumento de avaliação. Através da palavra fica fácil distinguir os apoucados, os inteligentes, os talentosos e os geniais. No exercício da política, então, é facílimo perceber as gradações. Afinal, os políticos usam e abusam da palavra, mesmo os que sabem ser um perigo jogá-las nos ouvidos da opinião pública e deixá-las no findo da consciência. 
O Rio Grande do Norte foi melhor servido nesse mister. Mas, foi caindo na banalidade, e, de tal forma, que hoje nada ou quase nada de valor cai na bateia de quem precisa, o tempo inteiro, garimpar declarações, posições, formulações. Nem diria, por excesso, que se possa esperar dos nossos políticos o belo exercício da fabulação. Até a mentira deixou o campo magnético das coisas bem engendradas e caiu, desgraçadamente, no velho e precário tartamudeio que nada expressa. 
Não é que as nossas vozes sofram de tremura ou gaguejo. Isto não. O quadro é pior, muito pior: perdemos a capacidade da boa formulação. E se perdemos, antes devemos ter perdido aquilo que é indispensável: o repertório de experiência e de vocabulário. Estamos ai, flutuando, mas sem saber para onde vamos. E se não temos ninguém capaz de ser a pedra, não quebraremos as vidraças e, sem quebrá-las, jamais as nossas vozes serão ouvidas sufocadas pela mesmice da pobre turba.
Ora, quem não sabe: o grito não pode ser apenas uma tarefa da força dos pulmões. Precisa ter o sopro da inteligência e não temos demonstrado essa aptidão. A pobreza de repertório acaba sendo reveladora da pobreza de experiência e ação. E o que não tem uso, justo por não ter sido vivido, acaba caído no desuso. Na política, quando a palavra não rompe o silêncio, é por lhe faltar qualificação para o arrojo. Embora, às vezes, possam sobrar os laivos pegajosos da demagogia… 
ELA – A tradição precisa ter um nome para enfrentar e vencer a governadora Fátima Bezerra. O resmungo não vale nada na bolsa política. O que vale é uma candidatura nas ruas. E bem avaliada.  
RETRATO – As pesquisas apontam: a candidatura de Garibaldi Filho fratura drasticamente as chances dos ministros Rogério Marinho e Fábio Faria. Com ou sem a força dos tratores federais. 
ATENÇÃO – Todo mundo sabe que o Carnatal é um patrimônio valioso do calendário turístico de Natal. Resta saber se é hora de autorizar a sua realização e quem se responsabiliza pela decisão.
GLÓRIA – Uma aguada em anilina de Maria do Santíssimo, acervo da professora Isaura Rosado, vai ser exposta numa exposição em Fortaleza. Glória para uma Maria que viveu pobre e anônima.  
VIDA – O médico de Elizabeth II quis suspender o velho hábito de tomar uma taça de champanhe antes de dormir. Hoje aos 95 anos, sua majestade recusou-se a cumprir a ordem. Em nome da vida.  

SÉCULO – Pernambuco parte cedo para marcar 100 anos da Semana de Arte Moderna, em 2022. E lançou ‘Narrativas Impuras’, o livro de ensaios literários da professora Eneida Maria de Souza. 
POESIA – Da poetisa Daisy Nogueira, em ‘Nuvem de Poeira’, 7 Letras, Rio, 2017, na sua pequena e bela ‘Carta de Amor’: “Triste amor / que tão cegamente nos uniu / nó / que nem o ódio desata”. 

TROPEL – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, da sua mesa de canto vendo a vida derramar a mesmice do beco: “O frio é aquele que sabe vencer só com a conspiração do silêncio”. 
ARENA – Em alguns gabinetes da Assembleia a grande expectativa é o que deverá ser revelado de novo pelo relatório da CPI que deve ser lido em plenário até meados de novembro. Para algumas fontes, e pelo visto e ouvido até agora, teria sido mais proveitoso esperar pelo inquérito da Justiça.
FUTURO – Fontes ligadas ao deputado Ezequiel Ferreira asseguram que sua tendência é respeitar, até aliado e presidente regional do PSDB, a candidatura do ministro Rogério Marinho a senador. Uma aliança partidária seria a saída. Quando o ministro assumir seu novo partido para a eleição.  

DEVAGAR – O deputado Benes Leocádio, sem negar a legitimidade do seu desejo de disputar o governo, tem antes uma tarefa inadiável: convencer o mundo político que tem chance real de pelo menos disputar a eleição. Não é esta a impressão da classe política. Pelo contrário: é de desânimo. 
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