Vicente Serejo
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O mundo tem olhos e antolhos. Há os que enxergam e sustentam suas visões, ousados e livremente, e os que engendram visões distorcidas submetendo a realidade aos próprios desejos, plausíveis ou não. Só os lúcidos ousam ferir a camada das conveniências simpáticas. No Brasil, queiram ou não seus críticos, e contraditoriamente, um dos olhares mais livres é do ex-ministro Delfim Netto, arrastando a carga de bruxo do milagre brasileiro durante a ditadura militar.
Só a grande e consistente consciência de liberdade de pensamento produz a contradição como riqueza de ideias. Nos prisioneiros de ideologias como modelos fixos de visão jamais é possível. Delfim mostra, queiram ou não os seus críticos, mesmo os mais ferrenhos, ter a noção perfeita do quanto é importante a busca da coesão social que não passa pelo feio destempero do ministro Paulo Guedes quando põe o quepe na cabeça e em ordem unida pede a volta do AI-5.
Para Delfim, são dois os gravíssimos problemas que vive o Brasil e ele enumera e narra assim: “1º) a desigualdade de renda entre os homens, que, quando exagerada, cria problema para a coesão social, e 2º) a devastadora desigualdade de oportunidades, da qual precisam tomar consciência se quisermos paz”. Delfin culpa dos economistas neoliberais – esses que hoje assolam o Brasil – e que na sua visão erudita é “uma contrafacção do liberalismo civilizador”.
E não se pense que na visão de Delfim Netto o enfrentamento dessas duas questões tão graves, deve ser feito com a força de um ato institucional tocado pelos coturnos e as baionetas. Pelo contrário. É ele quem escreve na Folha: “Em que consiste a igualdade de oportunidades e quem pode produzi-la? Só uma sociedade reunida em torno Estado Democrático de Direito forte e consensualmente produzido”. É o que não se pode esperar do Brasil dos tempos atuais.
RAPOSA – Por maior bom senso que possa ter o secretário Carlos Eduardo Xavier, é auditor fiscal. Um tributarista tomando conta da reforma da previdência que é essencialmente social.
E… – Ele tem o respaldo que nasceu do monetarismo que domina o planejamento e previdência de Paulo Guedes e Rogério Marinho. Com 82% da economia na faixa até três salários mínimos.
AÇÚCAR – A Global, atual detentora do direito de edição das obras fundamentais de Câmara Cascudo, deverá relançar este ano ‘Sociologia do Açúcar’, originalmente publicado em 1971.
INJUSTO – Enquanto a Prefeitura contrata por milhares de reais artistas nacionais o Araruna sucumbe aos poucos entregue ao abandono absoluto. Somos injustos e festejamos a injustiça.
FALSO – De Nino, o filósofo do Beco da Lama, no mormaço da tarde, sobre a artimanha dos dissimulados nesses tempos de almas tão traiçoeiras: “Nos falsos tudo é falso. Até o elogio”.
OSWALDO – Numa homenagem a Oswaldo Lamartine, nos seus cem anos, um texto deste cronista conta a história e a importância do ‘Vocabulário do Criatório’, hoje em sua terceira edição, mérito do Sebo Vermelho que tem no seu editor, Abimael Silva, o grande aboiador.
ZÉ ZUS – Bem cuidada a edição do novo livro de Diógenes da Cunha Lima ‘Natal de Zé Zus’, que será lançado na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras dia 11, 18h. Edição é da ‘Baobá do Poeta’ com ilustrações de Cláudio Fabiano Sendino que também é autor do projeto gráfico.