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De onde vinha o dinheiro de Bin laden?

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Thomas L. Friedman  – The New York Times

Então Osama bin Laden morava em uma mansão especialmente construída para
ele no Paquistão. Pergunto-me: de onde tirou o dinheiro para comprá-la?
De seu plano de previdência privada na Arábia Saudita? Uma hipoteca
“subprime” paquistanesa, talvez? Não. Desconfio que descobriremos que
tudo veio do mesmo lugar de onde vem a maior parte dos fundos da Al
Qaeda: uma combinação de doações privadas sauditas gastas sob o olhar
atento do exército paquistanês.

Por que devemos nos importar? Porque esse é o xis do problema; por isso.
Foi ao mesmo tempo justo e estrategicamente vital termos matado Bin
Laden, que inspirou o 11 de Setembro. Eu apenas gostaria que fosse tão
fácil eliminar os dois maus negócios que realmente tornaram aquele
ataque possível, o financiaram e lhe forneceram os principais
planejadores e soldados que o executaram. Estamos falando sobre os
negócios de governo na Arábia Saudita e no Paquistão, que passam muito
bem.

O negócio do governo saudita é uma antiga parceria entre a tribo al-Saud
e a seita religiosa wahabita. A tribo al-Saud pode ficar no poder e
viver como quiser atrás dos muros de seu palácio, e em troca os
seguidores da seita wahabita detêm o controle dos costumes religiosos,
das mesquitas e do sistema educacional do país.

Os wahabitas abençoam o regime saudita com legitimidade, na ausência de
qualquer eleição, e o regime os abençoa com dinheiro e o livre controle
da religião. O único lado negativo é que esse sistema garante um
fornecimento constante de “sujeitos indolentes” – jovens sauditas que só
têm educação religiosa e nenhuma capacidade para competir – que são
recrutados para tornar-se sequestradores no estilo 11 de Setembro e
homens-bombas no Iraque.

Ninguém explica isso melhor que a escritora saudita Mai Yamani, autora
de “Cradle of Islam” [Berço do islã] e filha do ex-ministro do Petróleo
da Arábia Saudita. “Apesar da década de guerra ao terror desferida pelo
Ocidente, e da aliança duradoura da Arábia Saudita com os EUA, o
establishment religioso wahabita do reino continuou financiando as
ideologias islâmicas extremistas em todo o mundo”, escreveu Yamani esta
semana no jornal “The Daily Star” de Beirute, Líbano. “Bin Laden,
nascido, criado e educado na Arábia Saudita, é um produto dessa
ideologia pervasiva”, acrescentou Yamani. “Ele não foi um renovador
religioso; foi um produto do wahabismo e mais tarde foi exportado pelo
regime wahabita como um jihadista.

Durante os anos 1980, a Arábia Saudita gastou cerca de US$ 75 bilhões na
propagação do wahabismo, financiando escolas, mesquitas e obras de
caridade em todo o mundo islâmico, do Paquistão ao Afeganistão, Iêmen,
Argélia e outros países. … Não é de surpreender que a criação de um
movimento político islâmico transnacional, reforçado por milhares de
sites jihadistas clandestinos, tenha repercutido no reino. Como os
sequestradores do 11 de Setembro, que também eram exportações
ideológicas sauditas-wahabitas, o exército de reserva da Arábia Saudita
de potenciais terroristas permanece, porque a fábrica wahabita de ideias
fanáticas continua intacta. Por isso a verdadeira batalha não foi com
Bin Laden, mas com essa fábrica de ideologias sustentada pelo Estado
saudita.”

Idem para o Paquistão. O negócio de governo do Paquistão é definido pelo
exército paquistanês e diz: deixamos que os civis finjam governar, mas
na verdade vamos dar todas as ordens principais, vamos consumir quase
25% do orçamento do Estado e vamos justificar tudo isso como necessário
para o Paquistão enfrentar seu verdadeiro desafio de segurança: a Índia e
sua ocupação da Caxemira. Procurar Bin Laden tornou-se um negócio
colateral para os militares paquistaneses, para gerar ajuda americana.

Como observou o especialista em Al Qaeda Lawrence Wright esta semana na
revista “The New Yorker”, o exército e o serviço de inteligência do
Paquistão “estavam no negócio de procurar Bin Laden, e se o encontrassem
perderiam o negócio”. Desde o 11 de Setembro, acrescentou Wright, “os
EUA deram US$ 11 bilhões ao Paquistão, o grosso disso em ajuda militar,
grande parte da qual foi mal utilizada para comprar armas para se
defender da Índia”.

O presidente Hamid Karzai do Afeganistão joga o mesmo jogo. Ele está no
negócio de procurar a estabilidade para o Afeganistão. E enquanto
continuarmos a pagá-lo ele continuará procurando.

Os dois países precisam é de terapia de choque. Para o Paquistão, isso
significaria os EUA transformarem a parte do leão de sua ajuda militar
em programas educacionais, enquanto também reduziriam a pegada americana
no Afeganistão. Tudo somado, a mensagem seria que estamos prontos para
ajudar o Paquistão a combater seus verdadeiros inimigos e o nosso –
ignorância, analfabetismo, elites corruptas e obscurantismo religioso -,
mas não queremos servir de idiotas para o absurdo de que o Paquistão é
ameaçado pela Índia e portanto precisa de “profundidade estratégica” no
Afeganistão e aliados entre os taleban.

Idem para a Arábia Saudita. Estamos em um “ménage-à-trois” com os
al-Saud e os wahabitas. Fornecemos segurança para os al-Saud e eles nos
fornecem petróleo. Os wahabitas fornecem legitimidade aos al-Saud e os
al-Saud lhes fornecem dinheiro (nosso). A coisa funciona muito bem para
os al-Saud, mas nem tanto para nós. A única saída é uma nova política
energética nos EUA, o que nenhum partido está propondo.

Então, minha conclusão: certamente estamos mais seguros com Bin Laden
morto, mas ninguém estará a salvo – certamente não os muitos muçulmanos
moderados na Arábia Saudita e no Paquistão que merecem um futuro decente
– sem negócios de governo diferentes em Islamabad e Riyad.

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