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De ontem

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Vicente Serejo

COLUNA

   
Outro dia, lembrado daqueles anos que não voltam mais, andei aqui abrindo a velha gaveta de lembranças da Natal ainda dos seus grandes cronistas que banhavam as manhãs de domingo com a leveza da ternura humana. Por isso acabei retocando na memória o retrato de alguns personagens que cheguei a entrevistar, quando a cidade, calma e boa, era um reinado de figuras dessas que emprestam os traços do próprio rosto para a fisionomia de um lugar. 

Quando Sanderson Negreiros, então chefe de reportagem do Diário, queria matéria sobre carne, por ameaça de falta nos açougues ou alta de preços, mandava entrevistar Luis Tavares. O gigante Luis Tavares, como chamava, carinhosamente, Oswaldo Lamartine. Um homem forte, avantajado, de mãos grandes e óculos de armação escura e marcante, mas de uma cordialidade bem humorada que o fez personagem da plaquete de Veríssimo de Melo. 

Marcava as entrevistas numa mesa da Peixada Potengi, nesta Tavares de Lyra, bem do outro lado desta TN, ou então no Carneirinho de Ouro, ali entre a mesma Tavares de Lyra e a Rua Doutor Barata. Sabia de tudo. Desenhava o corpo do boi e saía traçando em linhas pontilhadas as partes dianteiras e traseiras, a chã de dentro e a de fora, o filé e as carnes de segunda. Naquele tempo, não se falava de picanha, maminha, fraldinha, coisas de churrasco.

Um dia fui procurar João Alves, o fotógrafo, ali no seu estúdio da Doutor Barata, um prédio de duas ou três portas, com uma pequena vitrine na lateral exterior e outra maior, do lado de dentro. Ele ficava nos fundos, numa sala cheia de máquinas, livros e papéis. Ouviu a idéia de Sanderson e pediu que fosse, à noite, até sua casa que ficava na praia, já bem perto de Brasília Teimosa, varanda aberta para o mar e bem guardada por balaústres de madeira.

Uma conversa interessantíssima. Mostrou raridades do seu acervo, que depois enviou ao filho Fred Aires, no Rio, e deixou que levasse, por atenção a Sanderson, com autorização de publicar, a foto do então Príncipe Faisal, depois Rei Faisal, quando mandatário da Arábia Saudita. Na foto de João Alves, ele atravessa a pé a Av. Junqueira Aires, vestindo o kaftan todo branco, como um chambre, longo, e o turbante. Em plena Segunda Guerra Mundial. 

Um fracasso que lembro agora foi a entrevista que Sanderson pautou com o senador Jessé Freire. Fui encontrá-lo no restaurante Panorama, em cima do cinema com esse mesmo nome, nas Rocas. Estava com amigos em torno de uma garrafa de Old Parr, inesquecível para o jovem repórter que não conhecia. Olhou e, ainda quase de costas, já desinteressado da declaração e sem leveza, rosnou: “Diga a Sanderson que desisti da entrevista”. E fui embora.

GESTO – O deputado Tomba Faria levou como mimo de aniversário, para o ex-deputado Ezequiel Ferreira (pai), a imagem de Santa Rita de Cássia. Pode parecer casual, mas não é.

SACADA – Tomba, numa idéia toda perfeita, fundou o turismo religioso em Santa Cruz, sua terra, erguendo a imagem monumental de Santa Rita.  Enriqueceu a economia do seu povo.

ABRAÇOS – Passados os dias profanos do carnaval, Dácio Galvão vai marcar a data para lançar ‘Abraços’, o livro com a correspondência de Oswaldo Lamartine para Hélio Galvão.

VERÃO – Alguém perguntou sobre o verão em Natal, com bom humor. Vai bem. Muito bem. Restaurantes ótimos, garçons solícitos, trânsito livre nas ruas. Nada de pantagruélicos.

FOG – A enseada de Jacumã viveu uma manhã cinzenta, de garoas finas. A vida, recolhida aos alpendres, foi de degustação de bons vinhos. Nunca ficou tão próxima do fog londrino.

CENA – A quem ainda se interessa pelas coisas inúteis e sem futuro que também fazem parte da vida: a primavera dos morros resiste no lilás avoengo das últimas sucupiras em flor.

AVISO – Esta coluna não noticia paixões proibidas no Litoral Norte nem em parte alguma. Todo grande amor é clandestino, nasce de súbito e às vezes passam como chuvas de verão.

JOGO – De Nino, o filósofo melancólico, acusado de ser conservador por um socialista de araque: “É menos triste que acabar sendo cão de guarda amestrado de poderoso tupiniquim”. 

GRAVE – Para o leitor que não entendeu a gravidade do déficit de 3.700 delegados, agentes e escrivães da Polícia Civil: é ela, a Polícia Civil, quem investiga, conclui e remete à Justiça os inquéritos policiais. Sem isto, crimes prescrevem e acabam na impunidade. É gravíssimo.

PIOR – Mais grave ainda é a indisponibilidade orçamentária do governo estadual para fazer concurso e preencher pelo menos uma boa parte das vagas. Compromisso de campanha, mas não é possível sem recursos financeiros e com salários atrasados, o que é ainda mais urgente.

MISTÉRIO – O que faltou, até agora, depois de tantos anos de abandono, para alevantar-se em defesa do Grande Hotel, a mesma ira que se alevantou pela demolição do Reis Magos? Terá faltado alguma coisa mais consistente e mais encantadora? Ou é velho e só demolindo?

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