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De Primeira

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Rubens Lemos Filho

A morte recente do ex-meia-armador Mendonça, quixote do jogo sofisticado, cortou na alma. Vi Mendonça jogar no América de Natal, aos 37 anos e ele exibia  o porte imperial dos que deveriam jogar de terno. Nem olhava à bola, disciplinada e obediente aos seus comandos suaves.

É da galeria de entulhos daqueles injustiçados de olhar triste e destino idem. Mendonça, do Botafogo de derrotas tantas nos anos 1970, acendia a estrela solitária nos caquéticos idos de jejum. Sofreu um acidente de trem, mas perdera o campeonato contra o álcool.

Morumbi, 26 de abril de 1981. Botafogo havia vencido a abertura da semifinal do Brasileirão no Maracanã por 1×0 e jogava pelo empate num terreno hostil. Mataram um torcedor do Botafogo no ônibus da torcida.

O Morumbi fervilhava com 100 mil pessoas. O São Paulo de Getúlio, Oscar, Dario Pereyra, o nosso Bruxo Marinho Chagas, Renato Pé-Murcho e Zé Sérgio era chamado de “Máquina Tricolor” e, na teoria, único a encarar o Flamengo de Zico.

Do Flamengo, cuidou Mendonça, destroçando a soberba rubro-negra com um drible gafieiresco sobre Júnior e um chute venenoso que matou Raul. Botafoguenses de catacumba vestiam suas camisas mofadas de tristeza. Alegria de naftalina, cantando o passado, como fazemos hoje nós, os vascaínos.

A pressão do segundo jogo contra o tricolor não assombrou o Botafogo de Mendonça. Que fez 1×0 e chegou ao segundo com ele, batendo em simetria com o quicar da bola, após cruzamento do falecido lateral Perivaldo.

Mendonça bateu de primeira. Jogar de primeira é arqueologia de pelada de rua, campo de várzea, morro em desafio íngreme. Mendonça era de primeira.

O árbitro começou a autópsia do Botafogo ao validar gol mandrake de Serginho Chulapa, aquela aberração da Copa de 1982. Depois, pênalti escandoso levou o São Paulo ao empate. Mais gol e a luta desigual do Botafogo acabaria.

Foi quando um meia chamado Ewerton, ao aproveitar um rebote da defesa sufocada do Botafogo, encheu o pé, de peito, bola direto no ângulo do goleiro Paulo Sérgio. Everton bateu de primeira, garantindo lindamente uma vitória injusta de 3×2.

De primeira, primeiríssima. Júnior bateu contra a Alemanha Ocidental em 1982 recendo de Adílio, o Neguinho da Cruzada, num Maracanã lotado e explodindo como orgasmo dos amores impactantes.

Mendonça, Ewerton, Júnior, Bebeto contra a Argentina, de voleio e corpo suspenso no ar, Romário contra a Holanda, 1994, trocando a mira do pé em pleno voo baixo, Zico e Roberto Dinamite, foram mestres da alegria inesperada. De repente, de bate-pronto, sem ensaio, sem expectativas.

Sérgio Alves, o maior primeirista de minha vida. Do ABC, dono sentimental e decisivo dos últimos 25 anos. Sérgio Alves, o maior atacante da Frasqueira, seu refúgio, seu herói, sua salvação tantas vezes consumada em saltos mortais para balaços matadores. Estavas triste? Um gol de Sérgio Alves, de bicicleta, amenizava.

A vida só vale pena se for de primeira. Jogar (e arrematar) de primeira é arte, feitiço, encanto. Que só os craques sentiam sem pressentir, pois neles o coração se transformava em petardo. Indefensável.
Descanso
O ABC está em penúltimo lugar no seu grupo da Série C e cancela treino, me informa a editoria de esportes da Tribuna do Norte. Faz sentido. Se treinar até o Afeganistão, o time não aprende nada. É melhor poupar os olhos do treinador e dos fanáticos.

Humilhante  O Sampaio Corrêa, líder da Série C, tem 24 pontos. São 14 a mais que o ABC. É, sim, humilhante. O Sampaio Corrêa, com todo o respeito, não tem histórico para tanto.

Santa vem antes
O técnico Milton Mendes, do Santa Cruz, ex-lateral mediano do Vasco(reserva de Paulo Roberto e Edevaldo nos anos 1980), é um homem vaidoso. Seus ternos são todos bem cortados. Ele decidiu antecipar para hoje, no máximo amanhã, a chegada do Santa Cruz para o jogo contra o ABC, sábado no Frasqueirão.

Desfalques O Santa Cruz virá sem o volante Marcelo Mattos e os atacantes Pipico (seu ídolo) e Misael. O Santa está a quatro pontos da degola na Terceirona.

Todos ao Gringo
O jornalista Dionísio Outeda lança seu novo trabalho: Almanaque dos Esportes, amanhã, às 18 horas no Temis Clube, na sede do América, noite chegando convidativa para uma gelada com resenha farta. Dionísio, uruguaio mais natalense do mundo, lançou outros bons trabalhos, na Copa do Mundo, sobre o futebol potiguar além de um catálogo sobre jogadores de 1990 a 2018.

Esportes mortos
Nessa edição, sem nenhuma conotação pejorativa, o Gringo, como é conhecido Dionísio para os amigos, operou milagre. O esporte amador do Rio Grande do Norte, de tantas glórias, hoje é um túmulo. Vive de talentos esporádicos.

Glórias 

Morreu o futebol de salão. Morreu o voleibol. Morreu o basquete. Morreu o handebol. É finado o futebol de areia. Hoje, na rendição vexatório ao estrangeirismo, até futebol americano se joga por aqui. Marmanjo derrubando marmanjo. Nada com nossa cultura praiana, de bola rolada na areia, de ginásios superlotados e ídolos.
Bons tempos
No futebol de salão, duas fases áureas, depois dos primórdios de América e Bola Preta no Ginásio Silvio Pedroza. Nos anos 1980, Boinho, Sílvio, Agamenon e Marquinhos, Barrote, Juca, Dennis e Gileno transformavam o Palácio dos Esportes em casa de espetáculos.
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