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De ser embaixador

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Vicente Serejo

Palácio Itamaraty

Inveja, inveja mesmo, não posso ter. Francamente, seria de um cabotinismo imperdoável invejar o filho do presidente Bolsonaro na sua fulgurante carreira para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Depois, e se por acaso tivesse um padrinho forte, o sonho esbarraria na falta de estofo. Não fiz intercâmbio, nem fritei hamburguer em Nova Iorque, e não tenho o bom inglês, indispensável a um diplomata. Ele tem pai presidente e o cronista é órfão de pai e de herança.

Pior. Se por acaso caísse nas mãos uma nomeação assim, abrupta, reluzindo nas páginas do Diário Oficial da União, e ainda que vencesse a sabatina no Senado – certamente a parte mais fácil, pois nossos senadores não são tão invencíveis – o que danado faria por lá um rapaz feito no interior? De alma quixotesca, que aprendeu a lutar contra moinhos de vento na sua terra, e isto há muitos anos, perdido naqueles salões de candelabros tão nobres e de cortinados flamejantes? 

Sou dado a sonhos, Senhor Redator. Como negaria? Mas, os meus sonhos não passam no mata-burro da vida importante. Mas, também não tenho a veleidade de cultivar devaneios, afinal levei os dias e as noites, até hoje, trocando palavras por margarina, feijão e pão. Viver, ora, não é tão perigoso para quem toca a vida assim, sem o fulgor do brilho aristocrático. Venho de longe, de muito longe, de tão grandes e heroicos desafios que a minha única vitória é viver com alegria.

Como no soneto célebre de Lêdo Ivo, outros viriam lúcidos e enlutados, porém eu venho bêbado. Bêbado da eterna esperança de que a cada dia essa vida seria menos difícil. E foi. Feita a caminhada, e reunidos os teréns, como enganar a alma com delírios de grandeza? Venho do mar, é verdade. Treinei os olhos na sua imensidão sem fim, sonhando um dia atravessá-lo. Não para a conquista de outros mundos, mas só para vê-los, como eram descritos nos livros da infância.

Tudo começou quando um dia perguntei a minha mãe, olhando o mar que avistava da pequena varanda da minha casa, meu cais de partir, o que existiria do outro lado do mar. E ela, uma boa tecelã de sonhos para os seus filhos, respondeu: outras terras que um dia você vai conhecer. E conheci. Nem acreditei quando mergulhei os olhos nas águas do Tejo. E, alguns dias depois, bati de frente com Paris que, até hoje, e algumas viagens depois, nem sei se é de verdade.

Portanto, afirmo: não posso invejar o filho de Bolsonaro. Seria o cúmulo da petulância concorrer com ele. Fico aqui, olhando o mundo de papel que me foi dado ter. É melhor viver assim, sem pressa e sem demora, no ritmo comum dos dias comuns. Mesmo parecendo ser uma vida de redundâncias. E se um dia encontrar nesse morro uma botija valiosa, juro que nem assim lutarei para ser um embaixador. O meu reinado é aqui. É este aqui. Feito da alegria de viver. 

GULA – O presidente do TCE, Poti Júnior, resistiu às fortes pressões dos conselheiros ativos e inativos e não recuou a primeiro de janeiro o aumento de 16%. A repercussão teria sido pior. 

CULPA – A decisão desagrada aos conselheiros. Culpam o presidente por não ter dado aumento ao mesmo tempo do Poder Judiciário e MP. Causou prejuízos. De uns R$ 30 mil para cada um.

CANGAÇO – O advogado e escritor Honório Medeiros viajou ao Juazeiro do Norte para fazer parte da 10ª reunião do ‘Cariri Cangaço’, hoje o maior evento brasileiro sobre banditismo social.

DEBATES – Com mais de 150 estudiosos e debatedores, do Brasil e exterior, o ‘Cariri Cangaço’ reúne várias universidades do Nordeste e do Brasil. Honório Medeiros será um dos debatedores.

TOQUE – Chamou a atenção, no baile dos coroas, em Caicó, na Festa de Santana, a elegância do conselheiro Tarcísio Costa. No talhe perfeito: de preto e lapelas finas. Coisa do Seridó senhorial.

NOITE – Esta caverna de livros reuniu Nássaro Nasser e Mércio Gomes, dois antropólogos, daqui e do Brasil. Genibaldo Barros, o convidado especial, representou a tradição seridoense. 

BECO – Dia 27, no próximo sábado, tem Feira Literária no Beco da Lama. A partir do meio dia e até dizer basta. Com prosas, poesias, lançamentos e venda de livros, além dos debates e récitas.

FILME – Na agenda dos agitos, começa a seleção do elenco do filme ‘O Alecrim e o Sonho’. O candidato(a), precisa ter entre 25 e 50. E inscrições para: [email protected]

JABUTIS – No mínimo um sinal de degradação política a notícia publicada pela Folha de S. Paulo denunciando os jabutis postos discretamente e perversamente no emaranhado da proposta da reforma previdenciária. Na esperança de enganar ou desviar as atenções do foco principal.

SÓRDIDO – A Folha apontou os jabutis. O mais sórdido, propondo o limite de 70 anos para os ministros do Supremo. O próprio Paulo Guedes teria reagido e indagado de Rogério Marinho: “Como é que você bota um negócio desses?”. Servir a Bolsonaro que indicaria cinco ministros.

MEMÓRIA – Houve um tempo que a política no Rio Grande do Norte era o exercício da boa fé. Quando os políticos entregavam tudo ao rei, menos a honra, seguindo a lição de Calderon de La Barca. Hoje, a honra é posta na badeja e entregue ao rei. Aqui nascem heróis a favor. Dos fortes. 

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