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De volta ao riso

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Dr. Jorge Boucinhas
Médico e Professor

O assunto que ora inicia a ser revisto já foi ventilado há algum tempo nesta coluna, mas reinicia sua abordagem pela importância que cada vez mais adquire nestes tempos “sérios”.  Trata-se do riso, este aparentemente tão sisudo mas ao mesmo tempo tão light objeto de estudos.  Cada vez mais se vê sua importância para a saúde humana.  Não é só questão de “aliviar tensôes”: é, mesmo, algo básico à sobrevivência neste mundo que ora afigura estar ficando caótico.  Isto posto, fica explicado o porque de se começar uma série de três Artigos “alegres” (cheios de risos e sorrisos), que será destinada a enfatizar algumas das bases que justificam o interesse pelos supostamente banais comportamentos humanos ligados ao bom humor.  

A Risoterapia (termo já consagrado) não é questão de misticismo oriental ou apenas uma prática metafísica.   Como método auxiliar aos tratamentos médicos ocidentais existe desde a década de 60.  Quem assistiu ao filme Patch Adams conhece bem a história. O Dr. Adams, médico norte-americano conhecido como “Patch”(curativo, remendo), começou a implantá-lo em hospitais e Escolas desde a sua época de estudante.  Era comum vê-lo atender seus pacientes com nariz vermelho ou peruca de palhaço.  Partidário brasileiro bem conhecido do método é o clínico geral e homeopata Eduardo Lambert (autor do livro Terapia do Riso – A Cura pela Alegria), que o tem por terapia complementar que ajuda em diferentes tipos de enfermidades. Já o Dr. James Arewill, da Universidade da Califórnia, durante 6 meses fez rigorosa observação de pacientes portadores de diversos tipos de tumores malignos, em 5 diferentes hospitais, tendo verificado que os que recebiam visitas diárias de “Doutores do Riso” voluntários e participavam de sessões diárias de lazer cômico apresentaram índice de remissão tumoral significativamente maiores.

A American Heart Association apresentou, nas conclusões do seu 73º Encontro Científico, que o ato de rir é 40 %  menos encontradiço em doentes cardiovasculares que em pessoas saudáveis da mesma idade.   As vantagens de viver a vida com um sorriso estampado na cara não ficam por aqui.   O Dr.  Lee Berk, diretor do Centro de Neuroimunologia na Universidade Loma Linda, USA, é uma das personalidades que mais se tem dedicado à recolha de achados biológicos sobre o poder do riso.    Para além de descobrir os efeitos sobre o sistema imunitário (rir aumenta o número das chamadas células assassinas NK, que combatem o câncer) ele prescreve o riso em áreas tão distintas quanto a infertilidade, as doenças cardiovasculares e a dor crônica.   Outra pesquisa da mesma Universidade apontou para o fato de que o riso reduz o risco de doenças cardiovasculares.   Nela, a equipe separou em dois grupos pacientes que haviam sofrido ataques cardíacos.   Um deles passou a assistir vídeos de humor, 20 minutos todos os dias.  Após um ano tal grupo reduziu em 66% suas taxas de Proteína C Reativa, hoje considerada marcador de inflamação e de risco cardiovascular.   O outro grupo apresentou apenas 26% de queda, o que, analisado, foi dado por diferença estatisticamente significativa.

A risada reduz os níveis de hormônios ligados ao estresse crônico.  Ao fazer isso, fornece uma válvula de segurança ao organismo, já que aquele abala o sistema imunológico, aumenta o número de plaquetas no sangue (o que pode causar obstrução nas artérias) e faz subir a pressão arterial.   Quando estamos rindo, as células matadoras naturais que destroem tumores e vírus aumentam, assim como o Interferon-Gama (proteína que ataca os agentes microbianos de doenças) e as células T  e B (parte importante das defesas orgânicas).

O riso também aumenta a concentração de imunoglobulina A salivar, que defende contra organismos infecciosos que entram pelo trato respiratório.    Na Universidade de Baltimore, EUA,  pesquisadores acompanharam 20 pacientes diabéticos com altas taxas sanguíneas de colesterol LDL (o dito colesterol ruim).  Todos usavam remédios para controlar esses problemas.    Metade desses pacientes continuou com o tratamento padrão, enquanto a outra metade, além dele assistia diariamente a filmes de comédia.    Após um ano, o grupo que foi estimulado a rir elevou seus níveis de HDL, o bom colesterol, em até 26%.   No grupo de controle o aumento foi de apenas 3%.   Na mesma Universidade, estudados 20 voluntários saudáveis, não fumantes, com idade média de 33 anos, foi-lhes verificada a tensão arterial antes e depois de assistir a filme estressantes e comédias.     Ao final do estudo revelou-se que os estressantes reduziam o fluxo sanguíneo em 35%, enquanto as comédias aumentavam-na em 22%, reduzindo a pressão dos vasos arteriais.

Em reputados Centros Oncológicos norte-americanos como o Dana-Farber Cancer Institute e o Memorial Sloan-Kettrering Cancer Center  as práticas do Chi Kung (Qi Gong), que pertencem à tradição médica chinesa como parte daquilo que se convencionou chamar Alquimia Interna Taoista (denominação que subentende técnicas de apaziguamento  mental e dentre as quais enquadra-se a Meditação do Sorriso) são ensinados como parte das maneiras de ajudar os pacientes a se ajudarem e não ficarem a depender somente dos outros.   E ainda haveria muitas, muitas observações a serem relatadas, mas o que importa é que não custa senão um esforço o ato de melhorar-se.   É gratuito contar/ouvir anedotas, ler cômicos, relacionar-se com pessoas bem humoradas, assistir comédias, rir abertamente.  

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