Cristina Amorim – Agência Estado
São Paulo (AE-AP) – A 12ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas foi encerrada em Nairóbi, Quênia, na sexta-feira, com uma agenda de decisões adiadas para 2008. Deixou ao menos mais portas abertas do que fechadas para se combater o efeito estufa e o aquecimento da Terra. Na plenária que encerrou o encontro, os delegados de 180 nações determinaram que uma análise da eficiência do Protocolo de Kyoto, único acordo global existente hoje contra os gases do efeito-estufa, será feita somente em 2008.
Este será o primeiro de cinco anos que os países ricos terão para cortar suas emissões numa média de 5,2% em relação a 1990. A decisão abre espaço para discussões sobre a ampliação do protocolo – tanto sobre metas mais rígidas para os países ricos quanto sobre a inclusão de países em desenvolvimento, como a China e o Brasil – quando terminar a primeira fase do protocolo em 2012. Também há a esperança, ainda que remota, que os Estados Unidos ratifiquem o acordo num futuro sem o presidente George W. Bush.
Os países também concordaram em continuar a trabalhar num acordo futuro para garantir a continuidade das políticas de redução. Contudo, não há prazos – apenas um vago “tão logo quanto possível”. Qualquer decisão incisiva só será tomada daqui a dois anos ou mais. O especialista Michael Zammit Cutajar, de Malta, que presidiu um comitê sobre novos compromissos, criticou a decisão e lembrou que os países precisam de um tempo para se adaptarem à restrição de emissões.
“Pessoalmente eu teria preferido que as conclusões incluíssem uma data. Muitos propuseram 2008 ou 2009, mas não houve consenso.” A decepção tomou os países que mais investem no combate ao efeito estufa. Para o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Sigmar Gabriel, esta conferência deixou a desejar. “Não é suficiente. Escutamos muita coisa sobre interesses nacionais, mas relativamente pouco sobre mudança climática.”
Em um comunicado assinado com seu colega britânico, o ministro David Miliband, eles afirma que é preciso “injetar urgência e no processo de redução das emissões globais”. Ainda assim, o presidente da conferência, o ministro queniano de Meio Ambiente, Kivutha Kibwana, disse que “o texto claramente indica que, depois da análise, as partes tomarão as ações apropriadas”. Ele também explicou que as ações serão baseadas na análise e “nos dados científicos disponíveis na época”.
Ano que vem, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, órgão ligado à ONU, divulgará um relatório com evidências científicas de que o planeta sofrerá alterações perigosas nas próximas décadas por causa da ação do homem. Também no próximo ano a presidência do G-8 estará nas mãos da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, que defende o Protocolo de Kyoto. O dióxido de carbono (CO2) atingiu, em 2005, o nível recorde de 379 partes por milhão, 35 vezes mais do que a concentração que existia antes da Revolução Industrial.
A manutenção do CO2 e de outros gases na atmosfera forma uma capa que retém o calor preso no planeta, esquentando a Terra. Os cientistas projetam um aumento na temperatura média do planeta em 1°C em apenas 15 anos. É o suficiente para acelerar o derretimento do gelo nos pólos e elevar o nível dos oceanos. “Os ministros vão para casa para tomar decisões no ano que vem sobre o que fazer imediatamente”, afirma Mauro Armelin, coordenador de Políticas Públicas do WWF-Brasil. “Todo mundo sabe que não adianta negociar metas (de redução de emissão de gases-estufa) mais baixas do que as existentes.”
A realização da reunião na África permitiu avanços no Fundo de Adaptação, montado para ajudar os países pobres a se adaptarem às mudanças climáticas perigosas, que afetarão a disponibilidade de recursos naturais, como a água, o zoneamento urbano e agrícola e o deslocamento de pessoas que moram no litoral, que será invadido pelas águas que sobem.
Hoje o fundo movimenta apenas US$ 3 milhões. Novas regras foram criadas para ajudar especialmente os países menos desenvolvidos e insulares, que têm menor capacidade de organização. Contudo, elas só devem ser colocadas em prática dentro de pelo menos um ano. “Não dirigimos carros 4 X 4, não viajamos de avião nas férias, mas sofremos com a mudança climática”, disse a ambientalista queniana Sharon Looremetta. Segundo ela, nômades africanos perderam gado por causa de secas extremas e extensas na região.