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Demência frontotemporal

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João Mariano Sepúlveda – Cardiogeriatra – www.medicareclinica.com.br

Perdida na ditadura diagnóstica de que, todo esquecimento, é Alzheimer, negligenciada e sub diagnosticada, esta é uma entidade clinica de extrema relevância, de prevalência de até 10% no universo de todas as demências, e mais incidente em mulheres que em homens, após os cinquenta anos, podendo durar de 2, mais comum, a 20 anos, mais raro, e com característica principal, sua voracidade de destruição de tecido neural, com inicio súbito de alterações comportamentais e confusionais marcadas, tornando rotinas diárias verdadeiros desafios de realização com tendência a impulsividade!

Também chamada de Demência de lobo frontal ou de Pick, pesquisador que primeiro a descreveu, traz como primeira alteração a alteração na personalidade, que vem muito antes das alterações de memória!

Pessoas que tem boa escolaridade e capacidade de condução veicular, sem mais nem menos começam a bater e arranhar o carro com frequência, que tem extrema dificuldade de manobrar e estacionar, o que faziam antes com facilidade.

Cursa com perda da inibição, atenção, capacidade crítica, controle social, humor deprimido e irritabilidade, reações desproporcionais, muito alegre, ou melancólico, por motivos torpes!

Sadismo e distúrbios pontuais éticos e de caráter, negligência, desatenção, desleixo, e perda do senso dos limites!

O desenvolvimento de manias, como síndrome de Diógenes, guarda lixo ou coisas sem valia, pensando que irá precisar no futuro, ou depressão tardia, com perda de hábitos de higiene e descompromissos com pagamento de contas por exemplo é um bom alerta!

Por tratar-se de doença que aumentam a compulsividade, aumentam o apetite, o consumo de bebidas alcoólicas, o tabagismo! Cursam com perda do controle dos esfíncteres, distúrbio de fala com dislalia e disarticulia, caracterizam o aumento da gravidade e progressão mais rápida da doença.

A impulsividade junto a compulsividade provocam quadros cômicos se não fossem trágico, como um caso que o portador alcoólatra, tabagista, tratado para desintoxicação, volta a beber porem sem saber, cerveja sem álcool! Por consumo rotineiro e fornecimento intermitente, certa vez sua esposa e cuidadora, tem que mandar, dar busca em todo o estado, para conseguir nutrir seu novo “vicio”! Chegou a tempo!

O comportamento do Frontotemporal por vezes, passa desapercebido, ou é confundido com “rabugice” ou solidão em exagero, pois, o paciente tende ao isolamento e como é cheio de raivas impulsos e reações antissociais, evolui mesmo para a solidão!

A desinibição leva a atos críticos sociais, de repulsa e execração de convívio familiar, social, mesmo que se tratando de esteio familiar, não é incomum, a frase “nunca mais convide essa louca”, ou “mamãe é assim mesmo, positiva”! Nada mais irreal. Doença familiar!

O lobo frontal é o responsável pela inibição que coloca limites ao cidadão, quando está comprometido tudo se altera,  a desinibição leva ao encontro dos problemas, seja no transito, em casa, ou com vizinhos! A influência no caráter leva a julgamentos rudes, de não se importar com a dor ou a integridade do próximo, e as vezes nem mesmo com a própria!

Quando se impõe limites a estes pacientes a resposta é quase sempre agressiva, se precisamos interná-los é um Deus nos acuda! Agitados e violentos podem consumar agressões a parentes e cuidadores!

Sempre tem razão e são sempre voluntariosos, certos e indiscutível! Quando frustrados por acreditarem, ficam muito bravos! Possuem muita força de convencimento a ponto de armazenarem toneladas de lixo, e os convivas aceitarem achando apenas um pouco estranho!

Característica comum os acumuladores patológicos tendem a se esconder, intensos são capazes de juntar desde roupas, restos de comidas, insetos, com restrições de higiene transformam seu habitat em verdadeiras pocilgas!

Interromper o isolamento é técnica de assistência social em países europeus onde a população vem envelhecendo nos últimos duzentos anos, países com muitos velhos e poucas crianças, no Brasil isso se dá apenas há vinte anos. Temos muitas crianças e poucos velhos, pirâmide populacional, base larga topo estreito!

O diagnóstico é clínico, pois o Teste Neuropsicológico, mostra apenas déficit de atenção, sem maiores comprometimentos de memória, que só se manifestam mais tardiamente. Os Spect e o Petscan podem mostrar o hipofluxo de oxigênio nestas áreas, porém, isso não é preponderante no diagnostico!

O tratamento deve ser individualizado e personalizado,  o uso de antidepressivos e estabilizadores de humor, os anti psicóticos em doses baixas e a memantina como sintomatológico, parecem ser os melhores caminhos. Os anticolinérgicos, muito eficazes em Alzheimer, são inócuos e as vezes nocivos aos frontotemporais!

Preste bem atenção que seu Alzheimer, pode ser um Frontotemporal!

Bom Domingo!

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