Em meio à epidemia de dengue, o descaso de alguns órgãos públicos com o patrimônio tem agravado o risco de infestação e até comprometido o serviço oferecido à população. Na Delegacia de Plantão da Zona Norte, na tarde de ontem, quatro dos oito plantonistas estavam afastados com suspeita de dengue. Segundo o delegado de plantão Aldo Lopes, o fato de 50% de sua equipe está doente não é coincidência. A razão pode ser vista dos fundos da delegacia: o depósito da antiga da Delegacia Especializada em Defesa da Propriedade de Veículos (Deprov) abriga uma centena de carros e carcaças que, com as chuvas, se transformam em criadouros do mosquito.
A TRIBUNA DO NORTE tentou entrar no pátio da Deprov, mas não teve acesso ao local. Um agente que fazia a guarda informou que recebeu ordens expressas para proibir a entrada de equipes de reportagem. Entretanto, da rua lateral foi possível constatar o abandono. Dezenas de carros roubados, alguns em bom estado, expostos a sol e chuva, por entre o mato crescido e carcaças de outros veículos.
Aldo Lopes disse ter comunicado e solicitado, há cerca de dois meses, à Secretaria Municipal de Saúde a visita de agentes de endemia ao depósito, que até então não aconteceu. “A irresponsabilidade com a saúde pública por parte do Município em fazer o que é de sua responsabilidade tem afetado o pessoal e o serviço prestado”, afirma. O agente João Carlos, mais conhecido como ‘Shaolin’, é um dos policiais que estão com sintomas. “Tive que vir trabalhar porque metade da equipe está ‘dengosa’ (sic). É um descaso que nada seja feito”, lamenta. O agente revela que outros quatro colegas de trabalho de outras equipes apresentam sintomas da doença.
A dona de casa Maria Gregório, 78, que mora em frente ao depósito de carros roubados também reclama dos mosquitos e do receio de contrair a doença. “Daí sai de mosquitos, ratos a cobra. A gente reclama e ninguém faz nada”. Na vizinhança, segundo ela várias pessoas adoeceram nos últimos dias.
O delegado Lopes denuncia ainda o que chama de “cinturão de esgoto à céu aberto”, que circunda a DP. Água servida e dejetos escorrem de galerias abertas que saem do Centro de Detenção Provisória da Zona Norte (CDP) e acabam fazendo transbordar a boca de lobo em frente a delegacia. “O mau cheiro da fossa estourada é só um dos problemas”, observa.
Segundo o agente penitenciário Moisés Brito, não há registros de suspeita de dengue entre os agentes do CDP, tampouco entre os 122 detentos. Devido a lotação, Moisés conta que é comum as fossas estarem cheias e por isso transbordar. “Quando acontece comunicamos à prefeitura que envia uma imunizadora para o serviço”.
Por telefone, o delegado geral Ronaldo Gomes Moraes disse que os possíveis casos de dengue não foram informados oficialmente à Degepol e que o depósito de veículos está sob responsabilidade do Detran. O diretor do Detran Érico Ferreira de Souza informou, por meio da assessoria de imprensa, que o Departamento não é responsável por nenhum depósito na zona Norte da cidade. A gerente técnica do Centro de Zoonoses de Natal Jeane Barbosa, informou que os dois pedidos – para as 8ª e 9ª Delegacias de Polícia, Plantão Zona Sul e Plantão Zona Norte, respectivamente – para visita de agentes de endemias, feito pela Degepol, foram atendidos na última sexta-feira.