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Depoimento

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Há algum tempo, o editor deste caderno, jornalista Fernando Siqueira, estimulou conhecidas figuras da cidade a escreverem sobre o carro do qualnunca esqueceram. Um dos depoimentos veio da parte do empresário Roque Araújo Azevedo, que muito pouca gente saberia quem foi, se citado pelo nome de batismo, mas a metade da cidade o conhecia pelo apelido: DUDU!

Remexendo nos meus alfarrábios, encontrei a seguinte preciosidade, que transcrevo ipsis litteris.

 “Muito antes de fundar a Locadora DUDU, trabalhei como “motorista de praça” que era como se chamavam os taxistas nos anos quarenta. No pós-guerra, consegui um contrato com a British South American Airways – aqui gerenciada pelo Coronel da RAF Leslie Bennett – para transportar as tripulações daquela companhia entre Natal/Parnamirim/Natal, levar a comida de bordo – o catering – que era preparada aqui em Natal pela inglêsa Mrs. Estele e transportar o próprio Mr. Bennett, homem de muitos contatos e afazeres, por conta das importantes funções que exercia.

O referido contrato, que me dava exclusividade, garantia a remuneração mensal de quatro contos de reis, o que me animou a comprar um carro mais novo, pois meu velho Pontiac 1938 já dava sinais de “cansaço”. Assim, em 1946, comprei do comerciante Olavo João Galvão, um Nash Ambassadorsemi novo, modelo 1946, verde folha, 6 cilindros, quatro portas, pneus aro 15, cujo velocímetro marcava até 200Km/hora.

Olavo, generosamente, me facilitou o pagamento dos 12 contos de reis que custou o carrão, dizendo-me que “pagasse como pudesse”. Mas aquelecarro grandão e luxuoso – bem diferente dos Ford e Chevrolet tão comuns à “praça” de Natal – que “tirava” de Parnamirim para Natal em menos de 10 minutos e oferecia muito conforto, agradou imensamente a Mr. Bennett, que gostava de guia-lo e exibi-lo às tripulações da British, que aqui pernoitavam.

Esse fato me rendeu um novo contrato, dessa vez com a remuneração mensal de 6 contos, o que me possibilitou pagar o carro a Olavo, nosprimeiros 3 meses. Mr. Bennett que, ao longo do tempo, tornou-se meu grande amigo, me liberava, nas horas livres, para “fazer a praça” com meu Nash, mesmo sendo “exclusivo” da British. Além do mais, vez por outra eu conseguia um servicinho extra para a estação de rádio. Desse modo, aquele carro me proporcionava – em alguns meses – um rendimento mensal de até 8 contos de reis. Como Mr. Bennett gostava muito de guiar o Nash e, sendo ele um inglês de quatro costados, por sua conta, fez um seguro total do carro. Pudera… Às vezes, de Parnamirim para cá, ele “puxava” 160 km/hora no bicho… Durante um ano, utilizei esse excelente veículo, que apesar da dureza do serviço que enfrentava diariamente, nunca falhou. Nunca deu um “prego”, nunca arriou a bateria e nunca nem mesmo – acreditem – baixouum pneu.

Desse carro, eu realmente jamais me esquecerei …

Roque Araújo Azevedo (DUDU).

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