“Sentia falta de ter ao meu lado outras mães com histórias parecidas. Queria perguntar-lhes o que sentiam por terem perdido seus filhos, se conseguiam sobreviver, se a vida tinha sentido. Sabia que outras mães sofriam como eu, mas onde estavam? Não consegui encontrá-las.”
Essa foi a principal motivação para a professora aposentada Rosângela de Fátima Bergantini Oliveros, 62 anos, fundar o Grupo de Apoio a Mães e Pais Enlutados (Gampee), criado dois anos após a morte de sua filha. Na época, Ângela tinha 28 anos e não resistiu a um acidente automobilístico, ocorrido em 14 de setembro de 2008, próximo ao município de Paraú, região Oeste.
Rosângela lembra que no cemitério onde a filha foi sepultada havia um serviço de apoio psicológico a pessoas em luto. “Então eu fui lá saber o que uma psicóloga poderia fazer para ajudar uma mãe que tinha perdido uma filha…”
#SAIBAMAIS#Ela passou a frequentar as sessões semanais, mas sempre com uma vontade muito grande que fosse criado um grupo formado por mães. Partiu para a busca dessas mulheres que, iguais a ela, sentiam necessidade de trocar experiências e sentimentos sobre a perda de um filho.
Finalmente, em 2010, ela passou a integrar um grupo de mães enlutadas. Ao final desse ano, o luto também havia terminado e ela fundou um grupo na Paróquia de Santa Terezinha, no Tirol. Ao completar um ano, ela decidiu que era hora de ultrapassar os limites da igreja. Deu-se início a uma divulgação mais intensa, em entrevistas, panfletagem, cartazes e no chamado “boca à boca”.
O grupo atualmente conta com 32 integrantes, entre pais e mães enlutados. Para participar, é preciso marcar uma entrevista e uma visita à residência para que sejam passadas regras e preceitos. O contato é 3231 2248.
A primeira obrigatoriedade, como não poderia deixar de ser, é ter perdido um filho. Rosângela Bergantini ressalta não se tratar de um grupo de luto geral, de qualquer ente querido — por exemplo, viúvas, órfãos.
“Não é um grupo terapêutico. Nós temos um psicológico, temos um padre que nos apóia e é nosso conselheiro espiritual, mas não é um grupo de terapia; é um grupo de entre-ajuda, de auto-ajuda. O pai que perdeu o filho vai ajudar o outro pai que perdeu o filho”, comenta Rosângela.
De acordo com ela, o luto é uma coisa pessoal. O tempo do luto de uma mãe é diferente do de outra mãe. Vai depender do esforço que cada um fizer para entender esse luto, para vivenciar o luto e para aceitar. Terminando isso, você sai do luto.
Rosângela conta que algumas pessoas chegam às sessões do Gampee revoltadas com Deus e o culpam pela morte do filho. Para reverter esse tipo de sentimento, entre outros, durante os encontros, o grupo trabalha com textos, vídeos, entrevistas, palestras.
“Com o tempo, elas vão entendendo esse processo; de que o luto é um caminho que tem início, meio e fim. Quando elas entendem isso e com o apoio que recebem aqui no grupo, aí elas vão melhorando e muito”, diz Rosângela.