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Depois do temporal

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Depois de sacudir o mofo e ajeitar a estrutura que sofreu danos por conta das fortes chuvas que caíram no começo do ano, o Teatro Alberto Maranhão reabre hoje, às 20h, com o concerto da Orquestra Sinfônica do RN. Reparação no gesso e no amadeiramento, troca das cortinas, reforma das cadeiras, novos equipamentos de luz e som, problemas na refrigeração, modificação da parte elétrica e outros retoques foram os motivos da liberação da verba emergencial  de R$ 350 mil assinada pela governadora Wilma de Faria.

A reforma foi uma medida necessária para que o teatro continue funcionando, segundo informações da diretora do teatro Hilneth Correia. “Depois das chuvas e do alagamento que aconteceu em maio, (tomando a proporção até a altura do encosto das cadeiras) o teatro ficou cheio de goteiras e a parte mais prejudicada foi o teto”, contou ela.  Com pouco tempo para os reparos, a equipe contratada teve que trabalhar dobrado. “Cada hora que se tirava uma parte da cobertura a gente achava mais telhas quebradas e por isso tivemos que modificar todo o forro da galeria que agora é feito em madeira”, disse Hilneth. Além disso, foram trocadas as cortinas e a pintura foi renovada.  A parte externa, entretanto, vai ser restaurada aos poucos, segundo informa a diretora do TAM.

Para a diretora, o maior problema do teatro antes da reforma era a refrigeração. Para suprir, foram comprados ar condicionados tipo “Split”. “Esse é um problema que está instalado há mais de 30 anos, mas agora teremos 500 BTU de ar. Para colocar um ar condicionado central teríamos que mudar toda a estrutura do Teatro, por isso optamos por esse modelo e experimentaremos se será o adequado”, explicou a diretora do TAM. Dessa vez as máquinas estarão do lado de fora, em cima do telhado. “Não teremos mais problemas com os ruídos do ar porque ficarão longe. Com a madeira é possível até melhore a sonorização”, acredita.

Além de todos os aparatos da reforma, começará esse mês a simulação da informatização dos bilhetes. “A maioria dos teatros brasileiros já está com sua bilheteria computadorizada e aqui ainda é tudo manual. Esperamos até o final do ano ter todo o projeto concluído”.

Problema crônico

Parece ironia, mas quem vai experimentar a reforma do teatro é a Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte. O Maestro André Luiz preparou para a noite um repertório com  Strauss com sua Polka Pizzicato, Mozart com o Concerto pra Flauta e Orquestra em Sol Maior e a Oitava Sinfonia de Beethoven. “É uma pena que toda vez que a gente sobe ao palco do teatro temos que nos deparar com o problema da acústica, que considero uma das piores, senão a pior, de todo o nordeste. Na minha opinião é o que existe de mais desagregante hoje é a ausência do conforto acústico”, disse o maestro que já passou por diferentes palcos no Brasil e no exterior. Ele lembra que no TAM, todo som propagado no palco em vez de seguir para a  platéia, ele sobe. “Isso é desagradável. E agora depois da reforma eu não vi nenhum painel acústico e lamento muito que não se tome providências nesse sentido”.

Para o técnico de som, Eduardo Pinheiro – um dos mais requisitados pelos músicos do Rio Grande do Norte – o problema é a ausência do efeito Haff. “Sem esse efeito a sua voz se perde, é como dar um grito ao ar livre. É isso o que acontece com o Teatro Alberto Maranhão. As regras da acústica começaram a ser publicadas em 1917 e por isso o teatro não se apropriou. Com ele, todo som propagado vai para o teto e como um espelho retorna para a platéia. Aqui não, o som fica no vazio”, explicou o técnico.

Acesso visual ainda tem deficiências

Além da acústica, outro problema no TAM é o acesso visual. Como o teatro foi construído na época em que as pessoas iam na intensão de ver o outro e não de ver os trabalhos artísticos, hoje o teatro mantém essa estrutura. Dos camarotes não se assiste uma parte do palco e do final da platéia também. “É impressionante o que acontece na cidade. O que me dói é ver uma cidade feito Sergipe que tem um teatro com 1.700 lugares para 400 mil habitantes. Natal merece uma boa estrutura. A gente tem que entender bem que isso não é um impacto só para a classe artística, mas para um todo, inclusive o turismo”, disse o maestro André.

Ele lembra que com esses problemas, a Orquestra soa desequilibrada; “Além da gente não ter uma reverberação baixa. O mínimo de reverberação é necessário, é o que dá uma boa impressão ao som gerado. Essa coisa é tão séria que os músicos da orquestra propuseram fazer um concerto mais caro para juntar dinheiro para resolver esse problema”, contou André, acrescentando que é uma necessidade do Estado melhorar o teatro pelo simples motivo de não ter para onde escoar a produção daqui. “Sem contar que temos 600 lugares no TAM e isso atende  menos de 0,5% da população de Natal.

O técnico de som Eduardo Pinheiro lembra que essa seria uma reforma complexa de se fazer. “Isso envolve toda a história do teatro, o teto tem o desenho arquitetônico que condiz com a época em que o teatro foi feito, e teria que cobrir aquilo ali, ou arrumar um engenheiro de acústica e um engenheiro para se manter o desenho e refletir a voz para sem perder a arquitetura”, disse.

A soprano Hilkélia Carlem que já cantou no teatro diferentes vezes lembra da tristeza quando pisou no palco pela primeira vez em 2003. “Quando eu subi no palco pela primeira vez, em 2003, eu sofri muito. Você faz um esforço enorme e a voz não caminha. De certa maneira todo mundo é prejudicado, tanto o público quanto o artista”, contou a cantora. “Acho que falta consciência do que é um tratamento acústico para que haja essa melhora. Só sabe quem sobe no palco”, concluiu.

Efeito haff?

Efeito Haff foi criado por um  físico alemão que começou a fazer as primeiras regras de acústica do mundo.  E o equilíbrio da emissão do som com a recepção do público. Essa acústica não é só para teatro, mas serve ao ar livre, para estúdio. “Cada um tem sua particularidade, se o teatro fosse um estúdio a acústica seria ótima. Não foi pensada com o efeito, ela não tem esses transmissores”, disse o técnico Eduardo Pinheiro.

Serviço:
Hoje, Concerto da Orquestra Sinfônica do RN. Local: Teatro Alberto Maranhão, Ribeira. Ingressos: R$ 5,00.

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