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Dequinha, a segunda morte

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Rubens Lemos Filho
O Rio de Janeiro resistiu a agosto de 1954 então não acaba mais. Os morros eram dominados pelos sambistas de raiz. Ismael Silva, Cartola, Zé Keti, Ataulfo Alves, Wilson Moreira, Wilson Batista, Geraldo Pereira e Manacéia formavam um senhor escrete, ao som de violões, pandeiros e acordem de caixinhas de fósforo.

Letras de inspiração verdadeira, poesia de homens sem erudição mas de sentimento e que enxergavam amor e dor com a precisão que os especialistas formais nunca igualariam.

Em agosto de 1954,o Rio de Janeiro dividiu-se em duas bandas fanáticas e em dois homens movidos a talento numa guerra de ódio suicida que terminou na maior tragédia grega do Palácio do Catete.

A disputa desumana entre os jornalistas Carlos Lacerda e Samuel Wainer transpôs as páginas corrosivas da Tribuna da Imprensa e da Última Hora, para os lares cariocas, atiçados também por Assis Chateubriand, inimigo de Wainer que se aliou a Lacerda, desempatando a disputa.

Getúlio Vargas foi acusado de favorecer a Wainer, de esconder sob o seu gabinete “um mar de lama”, seu capataz Gregório Fortunato pensava ser inteligente.

O capanga mandou matar Lacerda, errando o alvo, eliminando o Major Vaz, segurança do jornalista e ativo militante do “Clube da Lanterna”. Uma  facção lacerdista marcada pelo tom ritualista de uma seita, em que todos pareciam mal amados a ponto de Lacerda ganhar o apelido que nunca desgrudou do seu corpo e do seu caráter: O Corvo.

Getúlio Vargas deu um tiro no peito, entrou para a história, assumiu o conspirador potiguar Café Filho, seu vice e com ligações lacerdistas e o Golpe de 1964 ficou adiado por 10 anos.Hordas getulistas destruíram a redação da Tribuna de Imprensa e do macabro o sol se  abriu no sorriso de Juscelino, eleito em 1955.

Em agosto de 1954, havia um mossoroense no Rio de Janeiro. José Mendonça dos Santos, o Dequinha, brilhava no Flamengo, em campanha pelo bicampeonato do segundo tri que haveria de conquistar. Dois dias antes da morte de Getúlio Vargas, Dequinha pisou o Maracanã para a estreia  no “certame”, como chamavam os locutores de então.

O Flamengo enfrentou o Canto do Rio de Niterói num jogo terrível de tão difícil, que deixou receosa a torcida rubro-negra. O jogo foi 4×3, suadíssimo e o Flamengo jogou com Garcia; Tomires e Pavão, Servílio, Dequinha e Jordan; Joel, Evaristo de Macedo, Índio, Benitez e Zagallo. Viram que beleza? Uma linha atacante de cinco, incluindo a Zagallo, naquela época um freqüentador da ponta-esquerda ofensiva.

Dequinha havia ganho o campeonato de 1953 e venceria ainda o de 1955. Seu futebol era tão maravilhoso que sobrevive aos tempos. Foi eleito em 500 turnos, o melhor volante da história do Flamengo, fazendo meio-campo com Zico e Zizinho, Adílio de ponta-esquerda.

Está entre os 10 mais do rubro-negro, numa companhia acadêmica puxada por Zico e seguida por Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Zizinho, Evaristo, Rubens, Dida, Junior e Leandro. Sobre Dequinha, disse Evaristo ao jornalista Roberto Sander: “Ele era um jogador altamente técnico. A mesma facilidade que tinha de tomar a bola do adversário, tinha também para fazer um passe ou um lançamento de longa distância. Era completo, foi fundamental para o sucesso de nossa geração.”Dequinha é a maior joia internacional do futebol potiguar junto com Marinho Chagas.

Dequinha, estátua em Mossoró, nunca teve medo de ninguém porque foi constituído  de  habilidade,  fibra e técnica. Está morto desde 1997 e, de onde estiver, perdoará os critérios da Editora Contexto, encarregada   de apresentar em livro os 11 maiores camisas 5 da história brasileira.  

Entraram notórios cabeças de bagre, gente de 30a categoria e Dequinha, não. Num  crime de lesa-futebol e homicídio contra o passado e a lógica, o compêndio matou Dequinha pela segunda vez. Ele, mossoroense bravo, sobrevive pela eternidade dos campos verdejantes.

Imbecil
O jogador mais idiota da história do Brasil é Neymar. É tolerável no universo de cegos dos pés. Nos anos 1970 ou 1980, seria reserva de Nilton Batata, ponta-direita do Santos. É mimado,  deslumbrado.

Festa

Fazer cinco ou cinquenta dias ininterruptos de festa seria direito de Neymar. Ele até poderia mandar a humanidade à PQP.

Deformidade

A deformidade de caráter está no momento em que milhões perdem o pai, a mãe, a mulher, o irmão, o filho, vitimados por uma pandemia. Que Neymar nem deve saber o que significa.

Ídolo idiota

Neymar, que a Globo insiste em impor como ídolo, jamais será o Cara. O ídolo se constrói de talento e o mínimo de dignidade.

Mentor

Tal qual seu mentor Robinho, Neymar é um anencéfalo. Alguém que nasce com uma nota de 200 reais no lugar do cérebro.

Ano Novo

Ao jornalista não cabe dizer se quer  2021 bom ou ruim. Jornalista, quando existia, era espectador, narrador e analista dos fatos. Não existia jornalista partícipe ou motivo de notícia. A blogosfera deturpou a regra.

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