Em agosto de 1954,o Rio de Janeiro dividiu-se em duas bandas fanáticas e em dois homens movidos a talento numa guerra de ódio suicida que terminou na maior tragédia grega do Palácio do Catete.
A disputa desumana entre os jornalistas Carlos Lacerda e Samuel Wainer transpôs as páginas corrosivas da Tribuna da Imprensa e da Última Hora, para os lares cariocas, atiçados também por Assis Chateubriand, inimigo de Wainer que se aliou a Lacerda, desempatando a disputa.
Getúlio Vargas foi acusado de favorecer a Wainer, de esconder sob o seu gabinete “um mar de lama”, seu capataz Gregório Fortunato pensava ser inteligente.
O capanga mandou matar Lacerda, errando o alvo, eliminando o Major Vaz, segurança do jornalista e ativo militante do “Clube da Lanterna”. Uma facção lacerdista marcada pelo tom ritualista de uma seita, em que todos pareciam mal amados a ponto de Lacerda ganhar o apelido que nunca desgrudou do seu corpo e do seu caráter: O Corvo.
Getúlio Vargas deu um tiro no peito, entrou para a história, assumiu o conspirador potiguar Café Filho, seu vice e com ligações lacerdistas e o Golpe de 1964 ficou adiado por 10 anos.Hordas getulistas destruíram a redação da Tribuna de Imprensa e do macabro o sol se abriu no sorriso de Juscelino, eleito em 1955.
Em agosto de 1954, havia um mossoroense no Rio de Janeiro. José Mendonça dos Santos, o Dequinha, brilhava no Flamengo, em campanha pelo bicampeonato do segundo tri que haveria de conquistar. Dois dias antes da morte de Getúlio Vargas, Dequinha pisou o Maracanã para a estreia no “certame”, como chamavam os locutores de então.
O Flamengo enfrentou o Canto do Rio de Niterói num jogo terrível de tão difícil, que deixou receosa a torcida rubro-negra. O jogo foi 4×3, suadíssimo e o Flamengo jogou com Garcia; Tomires e Pavão, Servílio, Dequinha e Jordan; Joel, Evaristo de Macedo, Índio, Benitez e Zagallo. Viram que beleza? Uma linha atacante de cinco, incluindo a Zagallo, naquela época um freqüentador da ponta-esquerda ofensiva.
Dequinha havia ganho o campeonato de 1953 e venceria ainda o de 1955. Seu futebol era tão maravilhoso que sobrevive aos tempos. Foi eleito em 500 turnos, o melhor volante da história do Flamengo, fazendo meio-campo com Zico e Zizinho, Adílio de ponta-esquerda.
Está entre os 10 mais do rubro-negro, numa companhia acadêmica puxada por Zico e seguida por Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Zizinho, Evaristo, Rubens, Dida, Junior e Leandro. Sobre Dequinha, disse Evaristo ao jornalista Roberto Sander: “Ele era um jogador altamente técnico. A mesma facilidade que tinha de tomar a bola do adversário, tinha também para fazer um passe ou um lançamento de longa distância. Era completo, foi fundamental para o sucesso de nossa geração.”Dequinha é a maior joia internacional do futebol potiguar junto com Marinho Chagas.
Dequinha, estátua em Mossoró, nunca teve medo de ninguém porque foi constituído de habilidade, fibra e técnica. Está morto desde 1997 e, de onde estiver, perdoará os critérios da Editora Contexto, encarregada de apresentar em livro os 11 maiores camisas 5 da história brasileira.
Entraram notórios cabeças de bagre, gente de 30a categoria e Dequinha, não. Num crime de lesa-futebol e homicídio contra o passado e a lógica, o compêndio matou Dequinha pela segunda vez. Ele, mossoroense bravo, sobrevive pela eternidade dos campos verdejantes.
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