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Desafios para o novo reitor da UFRN

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ESTRUTURA - A UFRN abriga população de 35 mil pessoas, com 30 mil alunos

Paralelo às eleições para presidente e governador, outro pleito eleitoral decidirá quem será responsável por administrar o destino de mais de 30 mil pessoas e uma infra-estrutura equiparada a de um município de médio porte e tudo isso com um orçamento anual de R$ 500 milhões, um custeio maior do que o exigido por várias cidades do nosso Estado.

Estamos falando das eleições para reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que acontecerão no dia 8 de novembro próximo. Uma instituição que ocupa um importante espaço no seio da sociedade potiguar sendo responsável por desenvolver conhecimento e tecnologia para o desenvolvimento local além de atuar na área social por meio de projetos de extensão e dos serviços disponíveis na área de saúde. Hoje, a instituição é responsável pela formação de 44% dos alunos de graduação do Estado e 95% dos pós-graduados (alunos que estão fazendo mestrado ou doutorado) distribuídos pelas instalações do Campus Central, complexo de odontologia, maternidade Januário Cicco e Centro de Ciências da Saúde (CCS), campi avançados de Caicó e Currais Novos.

Em termos quantitativos, a UFRN abriga uma população de 35 mil pessoas, o correspondente ao contingente de um município do RN. São cerca de 30 mil alunos, 1.800 professores efetivos e 3.200 funcionários concursados. Tudo administrado por um orçamento anual de R$ 500 milhões, que apesar de ser um montante suficiente para prover o custeio de uma cidade de médio porte, chega a ser insuficiente para as necessidades de manutenção da UFRN.

Essa insuficiência de recursos é fruto do processo de sucateamento que as universidades públicas sofreram durante um longo período sem receber investimentos, o que impediu a modernização e a adequação dessas instituições de ensino à realidade do competitivo mundo globalizado.

Para se ter uma idéia, entre as 200 melhores universidades listadas em 2005 e 2006 pelo suplemento especializado do The Times de Londres, a USP (Universidade de São Paulo) tida como a maior e melhor do país, estava na posição 196 em 2005 e, este ano, ficou fora do ranking. Das instituições latino-americanas, a única que se encontra nas 2 listas é a UNAM (Universidade Autônoma do México) que estava na posição 96 em 2005 e este ano melhorou sua posição assumindo a 74ª posição.

Diante dessas adversidades percebe-se que a administração de uma universidade pública no Brasil não é uma missão das mais fáceis, pois o cargo exige uma alta capacidade de gerenciamento, já que a instituição é responsável por fornecer boa parte da mão-de-obra qualificada para o mercado de trabalho local, além de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico através da geração de conhecimento e tecnologia desenvolvida por pesquisadores com reconhecimento nacional e internacional.

Outro pré-requisito exigido do postulante ao cargo de reitor é capacidade de influência e poder de articulação junto à instituições mantenedoras como o Ministério da Educação (MEC), agências de fomento à pesquisa, empresas e bancada parlamentar do Estado para garantir verbas que possibilitem aparelhar a instituição com novos prédios e equipamentos, já que o orçamento de custeio de gastos encontra-se totalmente comprometido com a manutenção da infra-estrutura.

Além desses desafios, em plena era da informação e tecnologia, em um mundo moderno e globalizado, o novo reitor deve trabalhar para modernizar a instituição e promover melhorias para a sociedade. Para tanto, deve-se buscar uma troca de experiência com outras instituições internacionais, principalmente com as consideradas de ponta, para que através desse intercâmbio possam surgir medidas criativas que ajudem a superar os diversos problemas enfrentados pela nossa universidade.

Presença de alunos é de 30%

Apesar de contar com um quantitativo capaz de decidir qualquer eleição para a reitoria da UFRN, já que os votos hoje são paritários, os estudantes são a menor expressão nessas eleições. De acordo com a média histórica das eleições na instituição, enquanto professores e funcionários comparecem em massa no dia da votação, cerca de 80% dos quadros, apenas 30% dos alunos comparecem às urnas.

A TRIBUNA DO NORTE percorreu os corredores do Campus Central e de maneira informal percebeu que o envolvimento dos estudantes com as eleições para a reitoria da UFRN era inconsistente, apesar de terem conhecimento da realização do pleito, poucos demonstraram engajamento, alguns nem sabiam quem eram os candidatos. Na tentativa de obter uma explicação sobre a apatia que recai sobre o corpo discente em relação às eleições a TN tentou entrar em contato com o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) durante essa semana, mas o estudante não se encontrava na sede DCE e nenhum funcionário do diretório sabia informar a que horas ele se encontraria na UFRN e nem ao menos sabiam o telefone celular dele.

Eleições da UFRN estão mais democráticas

As eleições para a reitoria da UFRN estão mais democráticas, pois o peso voto, para efeito de contagem, deixa de ter cotações específicas para cada categoria e passa a ser paritário com peso de 1/3 para professores, funcionários e estudantes. No caso, a categoria que conseguir mobilizar o maior número de votantes definirá o pleito eleitoral.

A campanha eleitoral se estende até o próximo dia 3 de novembro e a votação acontecerá no dia 8 com urnas espalhadas por todas as instalações da UFRN. Este ano, apenas duas chapas providenciaram a inscrição: Chapa 01 – “É Tempo de Mudar” – Manoel Lucas Filho (Reitor) e José Arimatés Oliveira (Vice-Reitor) e a Chapa 02 – “Novos Desafios – José Ivonildo do Rêgo (Reitor) e Ângela Maria Paiva Cruz (Vice-Reitor).

O professor Manoel Lucas é graduado em Engenharia Civil pela UFRN, doutor em Recursos Hídricos pela Universidade Politécnica de Madrid (Espanha) e pós-doutor em Engenharia Sanitária pela Universidade Politécnica da Catalúnia (Espanha). Atualmente é diretor do Centro de Tecnologia da UFRN e tem como principal bandeira de sua primeira campanha para reitor, o exercício da autonomia universitária, que segundo ele, atualmente existe apenas no papel.

E para chegar ao prédio da reitoria da UFRN, ele defende a necessidade da renovação, já que “em uma instituição educacional para que possamos promover melhorias é imprescindível que as idéias estejam em constante evolução”. Para tanto, Manoel Lucas apresenta sua plataforma de administração apoiada em quatro pilares principais: mudança dos projetos políticos-pedagógicos; incorporação das novas mídias no cotidiano acadêmico; novo modelo de avaliação e inserção internacional. 

“Temos que levar em consideração as novas mídias no ensino da graduação, modificando os projetos políticos pedagógicos dos cursos, os quais devem seguir a orientação que se tem hoje em todas as universidades do mundo, isto é, redução drástica de carga horária teórica e incremento de inserções intermitentes no mercado de trabalho através de estágios. Isso permite ao aluno de graduação inicializar-se no exercício de sua profissão com pouca fundamentação teórica, voltar em seguida à academia para reforçar esses fundamentos já dispondo de uma visão mais realista do que será sua profissão. Essa metodologia comprovadamente tem mostrado ser o melhor caminho para a melhoria da qualidade do ensino da graduação.

“A melhoria do ensino da graduação, da pós-graduação e da pesquisa se dará através de uma forte inserção internacional a partir de convênios e cooperações com instituições de ensino e pesquisa de países de elevado nível de desenvolvimento. Com isso podemos organizar e fomentar o trânsito de alunos, professores e servidores para se qualificarem nessas instituições e poderem contribuir para que atinjamos o desejado nível de excelência que buscamos na UFRN. Isso tudo deve estar associado à melhoria das condições de infra-estrutura de salas de aula, a exemplo do que fizemos no Centro de Tecnologia, para promover e elevar o nível de satisfação no aprendizado, visando se obter um melhor rendimento das atividades fins da instituição”, disse.

 Manoel Lucas explicou que é urgente que se faça uma interação forte com a sociedade com vistas ao desenvolvimento regional. A universidade não pode continuar com seu estoque de produtos científicos dentro de seus muros. É preciso se ter o arranjo para transformar essa produção cientifica em bens, processos, produtos e serviços. A lei de inovação tecnológica é o que se tem de mais moderno para promover essa transformação.

Na outra chapa temos o professor Ivonildo Rêgo, graduado em engenharia elétrica pela UFRN, doutor em Engenharia Elétrica pela COPPE/UFRJ  e pós-doutor em Engenharia Elétrica pela Texas A&M University (EUA). Atual reitor da UFRN, Ivonildo Rêgo tenta a reeleição para o quarto mandato e lança como plataforma de gestão a continuidade do crescimento da instituição aprofundando as transformações iniciadas durante a primeira gestão em 1995 para transformar a UFRN de uma universidade grande para uma grande universidade.

“Desde a primeira gestão estamos trabalhando para recuperar a nossa universidade do atraso em relação às grandes universidades do nosso país. Conseguimos em dez anos aumentar o número de alunos que passou de 11.800 para 30 mil. Nos preocupamos com a qualificação dos nossos docentes que passaram de 238 professores doutores em 95 para 750. Durante esse mesmo período criamos 20 novos cursos de graduação e também aumentamos a nossa produção científica através da criação de 15 novos cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) e para a próxima gestão estamos fortemente comprometidos com o desenvolvimento do Estado. E para alcançarmos esse objetivo, temos que investir em três pilares: liderança regional com referência nacional; ampliar a cooperação internacional; potencializar a inserção local”, disse.

Ivonildo Rêgo acrescentou “Estamos trabalhando para consolidar essas metas, pois por onde andamos, por cada setor, nos departamentos de cursos, nos setores, nos campi, a receptividade das pessoas é bastante expressiva, parece que elas estavam esperando que nos candidatássemos novamente e isso é bastante estimulante”, disse.

Carência na área de ciências humanas

Os desafios dos candidatos não deixam à desejar aos problemas enfrentados pelo poder executivo de um município em desenvolvimento. Hoje, vivendo um paradoxo onde por um lado observa-se a capacidade de auto financiamento conseguido através de parcerias com grandes empresas como a Petrobras, visível através das instalações laboratoriais patrocinadas e mantidas pela empresa, cujos resultados desses investimentos colocam a UFRN como referência nacional no estudo de petróleo e gás. Também destacam-se as pesquisas desenvolvidas nas diversas áreas das engenharias e os estudos desenvolvidos nas ciências da saúde.

Enquanto que por outro lado, na áreas das ciências humanas, vemos um retrato da universidade pública através das instalações recém construídas e mantidas com as verbas enviadas pelo MEC como o laboratório do curso de Comunicação Social que se encontra em funcionamento desde o ano passado, mesmo sem nunca ter sido inaugurado, onde os alunos penam para ter aulas, já que a infra-estrutura é insuficiente. Para se ter idéia, na área de televisão, das três câmeras digitais disponíveis duas estão quebradas segundo os alunos que também reclamam que faltam fitas para gravação de reportagens e videodocumentários. No auditório não tem luzes, refletores e spots para aulas de iluminação e muito menos material de cenografia. Faltam câmeras digitais para as aulas de fotojornalismo e não há material para revelação das fotos feitas com as câmeras analógicas.

Outra reclamação dos discentes de jornalismo e do curso de rádio e tv é com relação à manutenção dos laboratórios de informática, pois a maioria dos computadores recém comprados já apresentam problemas, muitos não funcionam.

 

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