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Desaprender

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Rubens Lemos Filho
Aos 41 anos de idade, o catalão nascido em Terrassa, Xavier Hernandéz Creus é, na vida pessoal, o refinado meio-campista, histórico parceiro de Iniesta, ambos campeões mundiais em 2010 e difusores do Tiki-taka, esquema de jogo em que a posse de bola é a mola de um futebol lindíssimo de florescer partidas noturnas do Barcelona em seu gigantesco Camp Nou. 
Xavi Hermandéz era o homem de meio-campo encarregado de tocar a bola e abrir clareiras na defesa adversária em seus deslocamentos feiticeiros. 
Um craque, uma sumidade que venceu, pela Fúria, além da Copa do Mundo, duas Eurocopas, em 2008 e 2012, além de pelo menos vinte méritos de melhor jogador em torneios nobres da Champions League. 
A semana começou com Xavi Hernandéz confessando ter recebido um convite para integrar a comissão técnica da seleção brasileira. Fez muito bem em dar o não.
 Ora, um gênio da bola e da visão tática seria auxiliar de Adenor Leonardo Bachi, o Tite, ganhador de uma Copa América em 2019, de um Mundial pelo Corinthians em 2012, adepto da filosofia oposta à de Xavi, ou seja, prefere jogar feio e defensivamente. 
É só coincidência, mas Xavi e Tite atuavam em posições idênticas e por aí encerram-se as particularidades. Xavi era  armador apaixonado pelo gol. Tite,  volante carimbador de canelas, cujo maior feito foi ser vice-campeão brasileiro de 1987 pelo Guarani de Campinas(SP), formando um trio medíocre  com Tosin e Boiadeiro. Xavi jogou com Iniesta, Messi e Fábregas. 
Discípulo de Pep Guardiola, Xavi assume o Barcelona  com a obrigação, que nele, desconfio, seja prazer, de descobrir novos nomes nas férteis bases dos grandes clubes, enquanto Tite se agarra a notáveis do tipo Lucas Paquetá e Fred, este um obtuso incapaz de um passe de 5 metros e meio. Tite se vê em Fred. Como um dia Zagallo se enxergou em Dirceu, ponta falso nos fracassos brasileiros de 1974 e 1978. 
Tite conquistou em 1983 seu único título jogando bola. E que feito heroico: a Copa da Associação dos Cronistas Gaúcho, atuando pelo Esportivo de Bento Gonçalves, do interior do Rio Grande do Sul. 
A passagem pelo Corinthians, em estilo tristonho, o levou à seleção brasileira. Perdeu a Copa de 2018 e o mantiveram para a do ano que vem, confiando na profusão de cabeças de área e no inédito bom humor de Neymar para chegar ao sexto título nacional. 
A piada na história de Xavi no Brasil foi a de que viria ser o segundo. Aprendendo absolutamente nada com Tite. Depois, possivelmente com outra pancada na Copa do Mundo de 2022, Xavi assumiria a titularidade para praticar a filosofia que ele entende brasileira muito melhor que os prancheteiros nacionais. Xavi ser reserva de Tite é mais ou menos Messi no banco para Esquerdinha, armador do América de Natal na Série D. Xavi foi educado. Desaprender não é futuro para ninguém. 
Vasco 
Tenho um saco imenso cheio de camisas oficiais do Vasco, duas delas, de uso em jogo, pelo maestro Geovani no bicampeonato carioca de 1987/88.
Geovani é meu amigo, veio para o lançamento do meu livro Memórias Póstumas do Estádio Assassinado, em 2017 e dispensou hotel: ficou em minha casa, humildade transversa à pose dos  pernas de pau que estão levando o cruz-maltino ao caminho da Série D. 
Olhei cada camisa e nelas, senti o frescor da classe, da habilidade e da raça, três componentes fundamentais de um time que já se foi há pelo menos 21 anos, depois daquela decisão que Romário ganhou contra o São Caetano valendo o campeonato brasileiro de 2000. 
De lá pra cá, apenas uma Copa do Brasil em 2011 com craques envelhecidos e competentes do naipe de Felipe, Juninho Pernambucano (hoje insuportável militante) e Diego Souza, que chutou nas mãos do corintiano Cássio, o título da Libertadores que, se fosse nosso, mudaria o curso do destino. 
O pior da decadência é quando se torna banalizada. O Vasco se acostumou a ser um timeco. Faz tempo, afinal  21 anos é a maioridade absoluta de um ser humano no Brasil. Nunca mais surgiu um cracão, o máximo que saiu das bases foi Philiphe Coutinho, bonzinho, habilidosinho, razoável. Dispensado pelo Barcelona. 
Ao observar camisa a camisa, me revi no improvável título de 1982 sobre o Flamengo de Zico, no mencionado bicampeonato no qual jogou o melhor time que acompanhei: Acácio; Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Dunga(Henrique), Geovani e Tita(Bismarck); Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário. 
Em 1994, o Vasco venceu o único tricampeonato carioca de sua história, cinco anos depois de Bebeto levar o clube ao terceiro título nacional, tirado em lusitana malandragem do impoluto Flamengo. 
Veio o Brasileiro de 1997, com Edmundo estraçalhando, a Libertadores do ano seguinte, de Donizete e Luizão, o Rio-São Paulo de 1999 e, finalmente, o Brasileiro de Romário em 2000. Camisas guardadas, foi-se o Vasco. 
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