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Descentralizar ações é a palavra de ordem na cultura

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Texto: Cinthia Lopes (editora) e Yuno Silva (Repórter)

“Não dá para ficar encastelado na Capitania, pensando no que fazer da Ribeira até Ponta Negra. A zona Norte é outra cidade. As pessoas lá nem sabem o papel da Capitania, e chegar só na época dos festivais de quadrilha é muito pouco.” A declaração é do presidente da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), o escritor e realizador cultural Dácio Galvão. Mais que tentar amenizar o já histórico  desequilíbrio de ações culturais, quase sempre concentradas nas áreas nobres e centrais da cidade,  essa fala sugere uma cartilha renovada para a política cultural na capital: A descentralização. Seguindo esse caminho, as principais metas para 2013 já estão traçadas.
As ações do artesanato serão incorporadas pela Funcarte
A Funcarte — e a futura Secretaria Municipal de Cultura, que poderá ser criada no primeiro trimestre de 2013 — tem uma estrutura razoável do ponto de vista do patrimônio físico. Além da sede na Cidade Alta, há dois museus (Memorial Natal e Cultura Popular), e os espaços culturais Chico Miséria e Jesiel Figueiredo, ambos na zona Norte e hoje subutilizados e com escola profissionalizante de teatro parada. No bairro do Alecrim, a Funcarte detém a administração do Teatro Sandoval Wanderley, fechado há quase quatro anos. Há ainda uma escola de dança (Escola de Ballet Roosevelt Pimenta) que atende mais de 400 crianças, uma companhia de dança contemporânea e uma banda sinfônica. Todos à espera de reestruturações e  carecendo de um espaço maior.
A Capitania das Artes continuará sendo a sede administrativa da Funcarte. Objetivo é descentralizar ações culturais em Natal
No olhar do presidente da Funcarte, garantir o funcionamento e manutenção desses espaços é a primeira coisa a fazer. A segunda, também imediata, é dar condições desses espaços se tornem “caixas de ressonâncias”, como enfatizou ele, do segmento cultural e de usufruto para a população.

Dácio considera que a programação cultural do eixo Ribeira-Tirol-Petrópolis-Ponta Negra está consolidada, articulada, tem espaço na mídia. “Temos que trabalhar forte é para descentralizar e deselitizar. O Alecrim, por exemplo, recebe uma grande confluência do público das zonas Leste e Oeste, esse deslocamento tem que ser robustecido.” Dentro dessa descentralização, o secretário congita realizar edições no ENE – Encontro Natalense de Escritores — também na zona Norte.

A retomada do calendário  festivo da cidade também é de urgência da pasta. Questionado sobre os riscos de se criar uma “política de eventos”, Dácio Galvão disse que há uma diferença entre promover “evento pelo evento” e disseminar a produção artística: “Antes precisamos consolidar um trabalho na base, os eventos servem para mostrar o que está acontecendo”.

O Artesanato, que era de responsabilidade da Secretaria de Ação Social, passará para a pasta da Cultura, que será uma espécie de nova mediadora entre o artesão e o consumidor. “Vamos tratar de modificar essa visão do artesanato como um produto voltado apenas para o turista”, disse Dácio Galvão.

Com a experiência de ter comandado a Fundação Cultural do Município, entre 2005 e 2008,  Dácio Galvão diz que não é hora de olhar para trás. “Não tenho o menor interesse em trabalhar olhando para o retrovisor em nenhum momento. Vamos olhar daqui pra frente, até porque temos que gastar energia em implementar o que precisa ser reimplementado mais o acréscimo que a cidade e os segmentos reclamam.”

Dácio Galvão, em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, falou sobre as primeira ações da pasta, Memorial de Natal, Fundo Municipal de Cultura, Copa do Mundo, Encontro de Escritores, entre outros pontos.

MEMORIAL DE NATAL
Vi uma foto do Memorial na própria TRIBUNA DO NORTE, há cerca de um ano, o lugar estava totalmente detonado. A pedra fundamental do acervo ainda existe, sob a guarda Arquidiocese, do Iphan e do Instituto Histórico e Geográfico, mas teremos muito trabalho para remontar tudo. E mesmo que tudo esteja lá, temos que ver como remodelar. Porém há um detalhe que precisa ser considerado: quem cuida do Parque da Cidade é a Semurb, a Funcarte é responsável pela parte museológica e o que podemos fazer é reivindicar que a estrutura seja readequada.

TEATRO SANDOVAL WANDERLEY
Espaços serão recuperados, como o Teatro Sandoval Wanderley
Sei que foi liberada uma verba federal, via MinC, para a reforma do TSW, mas não tenho detalhes sobre esse assunto. A equipe de transição está avaliando todas as condições e pendências, verificando as possibilidades para garantir esses recursos (cerca de R$ 800 mil). Será feito um levantamento completo para saber se existe um projeto, se houve algum erro na elaboração, se os prazos foram cumpridos e se há contrapartida. Vamos chamar o segmento das artes cênicas para definir o melhor destino para aquele espaço.

FIC – FUNDO DE INCENTIVO À CULTURA
Primeira coisa: temos que respeitar a decisão do Conselho de Cultura, que é soberana. Quanto ao pagamento nem se fala: é inquestionável. O problema é que o trauma com a falta de compromisso é tão grande que estão preocupados com o óbvio. Já trabalhávamos com editais e pretendemos ampliar, vamos chamar os artistas para ajudar na elaboração dessas estratégias.

ENE
O Encontro Natalense de Escritores está consolidado, e permanece aquela proposta de integrá-lo à programação do Natal em Natal. Também insisto em contemplar a zona Norte com parte da programação do ENE, pois a tendência é a descentralização. Outro detalhe importante é saber como aproveitar melhor a estrutura montada para o evento, penso em criar atividades para contemplar, preferencialmente, alunos da rede pública.

EELP
O Encontro Natalense de Escritores volta a ser realizado
A princípio nada será descartado, vamos analisar, ver se temos como absorver as iniciativas. Já recebi documentação oficial sobre o EELP, mas ainda não avaliei. O pouco que soube do Encontro (de Escritores de Língua Portuguesa) é que tem um conteúdo interessante, mas precisa de ajustes no formato. Não basta ter grandes nomes na programação, precisa de cuidados na curadoria. Não está descartada a possibilidade de realizar os dois, mas o interesse maior é internacionalizar o ENE.

AUTO DO NATAL
A questão natalina envolve literatura, audiovisual, teatro, dança, e o Auto é nosso carro chefe. É um evento multimídia, que mobiliza cerca de 400, 500 pessoas, e queremos voltar a criar um rodízio de autores, diretores e artistas como antes.

FORMAÇÃO
A escola de música no CMAI (Centro Municipal de Arte Integradas) deu certo, mas a parte de artes visuais e de teatro não funcionaram. Precisamos politizar menos essas ações para conseguir melhores resultados.

LEI DJALMA MARANHÃO
Potencializar a captação, que vem caindo ano a ano (atualmente são utilizados menos de 25% dos recursos disponíveis), não cabe só à Capitania, é uma tarefa árdua que envolve Tributação e Planejamento. Lembro que fizemos uma mobilização com o Sindicato dos Contadores, OAB-RN, agentes culturais, ou seja, é uma cruzada que pertence a vários setores. E se for possível e interessante atrelar a renúncia fiscal à LOA (Lei Orçamentária Anual), vamos articular isso com a Câmara.

TURISMO HISTÓRICO
Essa questão é extremamente complexa, pois os órgãos (Federal, Estadual e Municipal) que trabalham com patrimônio histórico mantêm ações isoladas. A meu ver, o poder público deve às cidades uma política efetiva nessa área, que demanda muito dinheiro. Diante da realidade cruel do nosso estado que é pobre, onde a elite política nunca teve uma preocupação aprofundada com relação a esse assunto, torna-se ainda mais complicado. Sou pessimista quando isso, é muito peso para a Capitania carregar sozinha, tem que ter envolvimento do Estado e da União.

COPA
Têm coisas pensadas que ainda estão amadurecendo. Era para ter ido a Brasília representando o prefeito em uma reunião com a ministra Marta Suplicy já para tratar desse assunto, mas o encontro foi adiado para 2013. É fundamental que a Cultura tenha voz dentro do processo econômico, assim como a indústria do Turismo, é um segmento importante para a economia do RN.

AUDIOVISUAL
O Festival de Cinema nos interessa, da mesma forma que também nos interessa restabelecer o diálogo com o Goiamum. Defendo aprofundar o debate sobre o formato do FestNatal, e investir no perfil de formação do Goiamum. Há uma necessidade de promover maior interação entre esses dois eventos, que são complementares.

INTERNET
A Cultura está intimamente ligada ao universo midiático, e nenhum gestor pode ignorar a importância das redes sociais, da internet e do poder de articulação dessas ferramentas. Pensamos seriamente em trabalhar essa interatividade, uma forma de escuta e diálogo com a sociedade.

“A Secretaria de Cultura de Natal será criada”
O presidente da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), o escritor e realizador cultural Dácio Galvão fala das metas para a área cultural da cidade
Durante a campanha foi firmado compromisso para criar uma Secretaria de Cultura. Como estão as articulações nesse sentido?
É público que Carlos Eduardo tem dito que vai levar a efeito os compromissos de campanha, e dentro da reforma administrativa a recomendação expressa é para que aconteça a Secretaria de Cultura. Os estudos já começaram, já fui contatado e a informação que tenho é que isso (a reforma) deverá acontecer a partir do segundo trimestre de 2013. A intenção do prefeito é aportar 1% do orçamento municipal para a pasta de Cultura, mas o que posso adiantar sobre a Secretaria é que não vamos formatar um órgão inchado.

E como fica a Fundação Capitania das Artes quando a Secretaria for criada?
A intenção é incorporar a Funcarte à estrutura da Secretaria, uma extensão jurídica do ponto de vista institucional que permite maiores possibilidades de parceria.

Cogita-se abrir concurso público para preencher a nova Secretaria, visto que a Funcarte tem apenas dois servidores efetivos em seu quadro funcional?
Há essa disposição, dentro da reforma administrativa, em fazer concurso para uma futura admissão a partir de 2014. Enquanto isso teríamos que buscar uma situação alternativa. Evidentemente sabemos dos problemas que a Ativa vem passando, mas de forma orientada, fundamentada juridicamente, vamos trabalhar sim com a Ativa enquanto não pudermos efetivar os futuros profissionais da área.

Você falou do aporte de 1% para a Cultura. Como vai funcionar na prática?
Essa é uma decisão político administrativa do prefeito. O índice é recomendado pela Unesco e Carlos Eduardo quer se adiantar ao que está previsto no (recém-aprovado) Sistema Nacional de Cultura.

Estamos a menos de 45 dias para o Carnaval, a Funcarte já planeja algo? Qual a expectativa?
Pelo que conversei com Carlos Eduardo, ele quer fazer este próximo Carnaval dentro de um orçamento, que eu diria, muito próximo do ideal. Não sei a fonte de recursos, mas há uma disposição muito grande para dialogar com a iniciativa privada. Acredito que uma articulação parceira possa gerar uma programação carnavalesca a altura do que se espera.

Outra proposta que chama a atenção é a transferência do “artesanato” para a pasta de Cultura. O que está sendo planejado para o segmento?
Trazer o setor de artesanato da Semtas (Secretaria de Trabalho e Assistência Social) para a Capitania, vale esclarecer, também é uma decisão prevista dentro da reforma administrativa. Queremos deixar de lado a visão de um produto voltado apenas para o turista, nosso objetivo é evitar a identificação do trabalho como um objeto exótico de cultura popular, no sentido mais pejorativo e subalterno do termo. Tem muita gente desconhecida produzindo por aí, e valorizar a voltagem estética e artística é fazer com que essas pessoas sejam respeitadas.

Uma das marcas de sua gestão anterior foi o mapeamento, os lançamentos de livros, CDs, a revista Brouhaha. Pretende retomar essas publicações?
Sem dúvida. Inclusive a retomada do projeto Mapeamento Sonoro de Natal está entre as prioridades. Gravamos os Congos (de Calçola, de Ponta Negra), o Araruna (das Rocas), as linhas de jurema, fizemos as trilhas de todos os Autos. Não eram apenas CDs, lançamos também coletânea com poemas de Zila Mamede, experimentos como o Poemúsica que uniu dança, poesia e música. Nossa linha editorial deve pensar menos em quantidade e mais em qualidade, considerar ações por gênero literário. A Brouhaha deve voltar como veículo disseminador das vozes que fazem a cultura da cidade.

Como fica seu envolvimento com o Festival Literário da Pipa? Vai dar para conciliar?
Evidentemente que o Flipipa deve continuar acontecendo, com menos influência e/ou participação minha. Quem me conhece sabe que quando eu entro em um projeto, entro de corpo e alma, em algo que acredito que seja um instrumento de transformação social. Nesse aspecto a utopia, pra mim, não acabou. Não vou trabalhar apenas como secretário, não bastam as boas intenções, vou estar junto, fazer com que nossa ação realmente seja um polo transformador e isso consome bastante. O Flipipa é uma realidade, está inserido em um contexto nacional e não é feito só por mim, tem toda uma equipe compromissada e vai levar o projeto pra frente.

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