sexta-feira, 19 de abril, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Desemprego aumenta entre jovens

- Publicidade -

Nadjara Martins
repórter

São 9h da manhã de uma terça-feira (28) nublada quando Andressa e Bruno, de mãos dadas, começam a peregrinação pelo Alecrim, zona Leste de Natal. Ela carrega com cuidado, próximo ao peito, um envelope de papel pardo. É o rapaz de 17 anos quem vai a frente, indicando as lojas nas quais devem entrar. Andressa parece nervosa a cada “entrega ali no balcão” que ouve. As lojas aceitam o currículo, mas não há retorno.
Andressa deixou currículo em uma farmácia, lojas de revenda de tecidos e de doces. Nenhuma prometeu dar retorno para seleção
Desempregada desde dezembro de 2014, quando foi dispensada do primeiro emprego como auxiliar de estoque em uma fábrica de confecções potiguar, Andressa Freires Santos Nicácio, de 22 anos, já cortou despesas com saídas e gastos pessoais, mas o salário comercial faz falta em casa. É ela, o pai e os irmãos bancam as despesas comuns, além do recente financiamento da casa própria, em Cidade das Rosas, conjunto habitacional de São Gonçalo do Amarante. As parcelas mensais são superiores a R$ 600.

#SAIBAMAIS#Andressa e a família são de Rio do Fogo, município do litoral sul potiguar. Chegaram a Natal há cinco anos, sozinhos. O pai, que deixara o emprego de pescador, veio para ser empregado de moleiro no Moinho Potiguar. Era também uma oportunidade para que os filhos terminassem os estudos e buscassem um emprego fora da pesca. Moravam nas Rocas de aluguel, e apenas no ano passado começaram a morar na casa financiada.

#SAIBAMAIS#“Preciso me manter, tenho passagem de ônibus, livros. Minha renda faz falta porque é a gente quem pagava o aluguel. Logo depois que me mudei fiquei desempregada, e a gente dividida. Depois que acabou o seguro desemprego, são eles que estão bancando”, conta Andressa, estudante de psicologia em uma faculdade privada de Natal. O curso superior, que sempre foi um sonho, só permaneceu pelo financiamento de 100% adquirido via Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

A desaceleração econômica que impactou o mercado de trabalho em 2015 trouxe reflexos, principalmente, para a massa de jovens ocupados. Durante o primeiro semestre do ano, o saldo negativo de empregos chegou a 9.764 postos de trabalho no RN. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram 2,5 mil postos cortados a mais do que o mesmo período do ano passado – o pior desempenho dos últimos 12 anos. E, segundo a  Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua trimestral (Pnad Contínua), o crescimento de desocupados cresceu entre jovens de 14 a 24 anos. No primeiro trimestre de 2013, a taxa de desocupados entre 14 e 17 anos era de 26,7%. Neste ano, subiu para 32,5%.

Andressa acredita que o jovem tem mais prioridade
Andressa estuda psicologia há dois anos na faculdade Maurício de Nassau. Embora ainda não tenha se identificado com uma vertente do curso, começou a procurar estágios na área. Conseguiu uma entrevista para trabalhar no departamento de pessoal de uma empresa, mas não foi chamada. Até mesmo para fazer o curso superior, durante a noite, precisou se adequar no antigo emprego.

Em vez do trabalho das 7h30 às 17h, passou a trabalhar de segunda a sábado, das 7h30 às 14h. Somente os finais de semana ficavam livres para o casal. Para Andressa, a mudança era necessária para realizar uma aproximação antiga com a psicologia. “Sempre gostei de escutar as pessoas. Lá em casa tinham algumas enciclopédias de psicologia e acabei me interessando”, lembrou.
Na manhã de ontem, o casal bateu na porta de uma farmácia, lojas de revenda de tecidos e de doces: três delas receberam o currículo, uma pediu para encaminhar pela internet, a outra recusou. Nenhuma prometeu dar retorno para uma seleção. De acordo com os comerciantes, a desaceleração impactou a movimentação do comércio e, conseqüentemente, a necessidade de novas contratações.

Com o fim do período do seguro desemprego, Andressa se preocupa com o peso das contas em casa. “Tive que passar a gastar menos, sair menos (com o namorado), estou dando mais trabalho em vez de trabalhar”, brinca a moça de cabelos vermelhos, com um sorriso triste.

Ela acredita que, por ser jovem, pode ter prioridade dentro do mercado de trabalho – mas não tem direito a escolher muito. “Se fosse para preferir, queria trabalhar na minha área. Mas hoje não é que eu prefiro, mas que eu preciso trabalhar”, resume. “O jovem tem mais oportunidade, mais prioridade. O que aparecer eu aceito, desde que dê para conciliar (com a faculdade)”, acrescentou.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas