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Desentoca cinema!

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Isaac Lira – repórter

Se você quiser conhecer o cinema potiguar, veja a lista de selecionados para a mostra competitiva do Goiamum Audiovisual 2010. Num primeiro momento, a ausência de filmes produzidos no Estado pode fazer a frase acima parecer um contra-senso. Mas é isso mesmo. Não há nenhum filme potiguar no festival e ao mesmo tempo não poderia haver lista mais representativa do atual momento do cinema no Rio Grande do Norte. Sem condições de competir com a produção de outros estados pela falta de política para audiovisual, o cinema no Rio Grande do Norte tem na mostra competitiva do Goiamum um grande sintoma.

Os realizadores Buca Dantas e Mathieu Duvignaud, que participam do Goiamum como oficineiros: O fato de nenhum filme do Estado ter passado na seleção é revelador e  como está o nosso audiovisualEsse diagnóstico é compartilhado por alguns dos principais realizadores de cinema no Rio Grande do Norte, como Buca Dantas, pioneiro em seu Cinema-processo, e Mathieu Duvignaud, diretor de fotografia francês radicado em Natal. A mostra competitiva, que é realizada pela primeira vez dentro do Goiamum, selecionou 13 curtametragens entre 154 inscritos, sendo 30 deles de feitos no Rio Grande do Norte. Segundo Pedro Fiúza, um dos participantes da seleção, os curtas potiguares eram todos documentários e videoarte.

“Não é uma questão de considerar esses gêneros menos importantes, mas até mesmo dentro dos estilos apresentados houve falta de ousadia. Os filmes se mostraram engessados, ninguém ousou”, detalha Pedro o perfil dos filmes inscritos. A falta de representantes locais ensejou um lamento: será que o RN não merecia ao menos um representante na mostra? A decisão dos julgadores, não desprovida de coragem, foi não incluir nenhum filme cujo padrão de qualidade e estética fugisse do desejado. E o Rio Grande do Norte ficou de fora.

Para o cineasta Buca Dantas, um dos mais atuantes do Estado e que não participou da seleção do Goiamum, a ausência de filmes potiguares é “natural”. “Eu já inscrevi filmes em outros festivais. Às vezes, você consegue e outras não. O realizador pode até se sentir desprestigiado, mas isso é bom porque força a pesquisar mais e refletir: por que o meu filme não foi selecionado?”, aponta Buca. Mathieu Duvignaud vai na mesma linha. “O fato de nenhum filme do Estado ter passado na seleção é revelador de  como está o nosso audiovisual. Não temos como competir”, diz Mathieu.

Aqui é preciso voltar a falar sobre a falta de políticas públicas para cinema. É um assunto repetitivo até porque desde “Jesuíno, o Cangaceiro”, primeiro filme potiguar, rodado em 1972, pouca coisa mudou. Mas para fixar bem: não há política pública para fomentar uma produção sólida em audiovisual no Rio Grande do Norte. Cinema é uma arte cara. Buca Dantas estima o custo básico para produzir um curtametragem entre R$ 30 mil e R$ 40 mil. Em lugar nenhum, é possível fazer cinema sem apoio, público ou privado. No RN, não há nenhum dos dois, salvo exceções. Mas as exceções não contam. “O que precisamos é de uma política mesmo. Estamos falando de verba garantida para o setor”, avalia Buca Dantas. Sem esse apoio, há sérios problemas de produção. É nesse gargalo onde naufragam os filmes, antes mesmo de poder ser avaliados por suas qualidades ou defeitos artísticos. Antes de ser bom ou ruim, o cinema potiguar é praticamente inexistente.

Goiamum abre  inscrições para oficinas

Goiamum será realizado de 29 de novembro a 4 de dezembro na Pinacoteca do Estado. Haverá oficinas, mostras de filmes, palestras, encontros e o seminário Memória e Preservação – tema do evento este ano -, além de uma programação paralela. Todos os programas são gratuitos.

A formação é também um dos braços importantes do Goiamum Audiovisual. A partir desta sexta-feira (19), na sede da ZooN, começam as inscrições para as oficinas desta quarta edição.  Serão  oferecidas três oficinas — “Microdocs”, “Elaboração de projetos para leis de incentivo ao audiovisual” e “Direção de fotografia para cinema” — todas gratuitas. A ZooN está localizada no edifício 21 de Março, 4º andar, sala 410 – rua Vigário Bartolomeu, 635, Cidade Alta. Informações e inscrições no 3211 2921.

 Oficina de Microdocs terá como ministrantes Buca Dantas (RN) e Mathieu Duvignaud (RN), que dirigem a ONG Micro Mundo. A de elaboração de projetos para leis de incentivo ao audiovisual ficará a cargo de Izadora Fernandes (MG). A oficina de Direção de fotografia será ministrada pelo diretor de fotografia Alexandre Ramos (RJ). Experiente na direção de curtas e documentários, Alexandre tem em seu currículos longas como  “5 X Favela, agora por nós mesmos”,  (Hors Competition no Festival de Cannes, França; 7 prêmios em Paulínea, São Paulo – incluindo melhor filme e melhor filme juri popular; Prêmio Margarida de Prata da CNBB; Melhor filme juri popular no Festival de Biaritzz, França).

Audiovisual nascente

Os próprios cineastas irão discutir os rumos da produção local durante o Goiamum. De acordo com Buca Dantas, o objetivo é produzir uma carta de intenções para ser entregue aos gestores públicos. Na mesa, os que se arriscam a fazer cinema por aqui irão eleger prioridades e tentar dar o primeiro passo para a instauração de uma política para o setor. “O cinema é um patrimônio imaterial e em qualquer lugar do mundo recebe incentivo do Estado, até nos Estados Unidos. Não estou falando unicamente do cinema comercial, mas do cinema que fala sobre a cultura de uma comunidade”, explica Buca.

É importante ressaltar que a ausência na mostra competitiva não significa o alijamento completo do festival. Haverá cinema potiguar no Goiamum, em outras mostras, com programação ainda a ser divulgada, além de ser utilizados para exibição em cineclubes pelo país. Na mostra competitiva, os filmes irão concorrer a um prêmio de R$ 1,5 mil e inscrição mais hospedagem no Festival de Audiovisual de Atibaia.

Essa é a quarta edição do Goiamum Audiovisual, que é realizado pelo Cineclube Natal e pela Zoon Fotografia, com o apoio de diversos parceiros.

Filmes selecionados para a mostra competitiva:

1. Haruo Ohara – 16’ (PR; Ficção)
2. O Dia da Neve – 20’ (PR; Documentário)
3. Formigas – 18’ (SP; Ficção)
4. Direita é a Mão que Você Escreve – 15’ (RJ; Ficção)
5. A Verdadeira História da Bailarina de Vermelho – 8’50’’   (RJ;
Ficção)
6. Maresia – 8’50’’ (RS; Ficção)
7. Tebei – 20’ (PE; Documentário)
8. Ernesto no País do Futebol – 14’ (SP; Ficção)
9. Azul – 19’ (PE; Ficção)
10. Naiá e a Lua – 13’ (SP; Ficção)
11. Sofá Verde – 8’20’’ (SP; Ficção)
12. Ao Meu Pai com Carinho – 15’ (SP; Ficção)
13. A Casa da Praia – 14’ (SP; Ficção)

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