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“Devolvi o dinheiro roubado para cumprir o meu dever”

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SOLDADO - Wagner Silva Cerqueira diz não temer ameaças

Soldado da Polícia Militar do Rio Grande do Norte há seis anos e meio, Wagner Silva Cerqueira, de 29 anos, recebe por mês R$ 1.055. Casado e pai de um garoto de cinco anos, ele surpreendeu a muitos, causou revolta a vários e orgulhou a poucos depois que agiu de acordo com os princípios de sua honestidade e do ofício que abraçou. O soldado Cerqueira foi o primeiro policial a chegar à casa da rua Praia Grande, no conjunto Santa Catarina, onde estavam escondidos os R$ 418 mil do roubo do Banco Central em Fortaleza.

Na manhã de ontem, Cerqueira recebeu da Polícia a medalha Profissional Coronel PM Bento Manoel de Medeiros, oferecida a profissionais que se destacam no exercício da segurança pública. Receberam a comenda também um policial rodoviário federal, um civil e um outro militar que impediram um assalto a um posto de combustíveis, há cerca de uma semana, em São Gonçalo. Na ocasião, Cerqueira se referiu à sua vida como em um inferno astral depois daquele 30 de julho em que um irmão mais novo pulou o muro da casa e encontrou o dinheiro. Mas conta também que não teme ameaças dos assaltantes e tampouco se arrepende de – mesmo em tempos de corrupção disseminada e o roubo como uma questão cultural – ter sido honesto e devolvido todo o dinheiro à polícia.

TRIBUNA DO NORTE : Como foi que tudo aconteceu, desde o início?
Soldado Cerqueira :  Eu estava de visita na casa da minha mãe e meu irmão (de 14 anos) chegou muito nervoso. Ele estava com um bolo de notas de 50 e como não quis me dizer o que era, saí perguntando na vizinhança. Como o portão da casa estava aberto, entrei para ver e encontrei a sacola. Depois, na delegacia, contamos o dinheiro e vimos que tinha R$ 78 mil. Meu irmão e cada amigo dele tinha pego R$ 5 mil, mas eu fiz devolver.

É verdade que você está com medo, depois do que aconteceu?
SC :  Tenho preocupação com minha família, não comigo. Eu sou policial e isso para mim é natural. Mas tenho medo por eles. Eu continuo minha vida normal. Quer dizer, agora tenho alguns cuidados, mas não tenho medo por mim. Cumpri com meu dever.

Chegou à imprensa que você estaria sendo ameaçado, ou que homens em um “carro preto” estariam rondando sua casa. Que cuidados você tem tomado?
SC :  Isso é mais invenção, fantasia do pessoal, dos populares. Continuo morando no mesmo local, não tenho recebido ameaças, nem existe isso do carro. Minha preocupação é natural pelo que aconteceu e pela minha profissão. Por isso hoje não ando em todo canto, pedi à minha família que não dê informações sobre mim por aí e redobrei as atenções.

Por que as precauções, então? Você acredita que os assaltantes do BC teriam interesse em te matar?
SC :  Não, não acredito. Não tem porque eles me pegarem. Talvez pela chateação de ter perdido o dinheiro. Mas apenas cumpri com meu papel. Não me preocupo com o que eles acham.

Em algum momento você pensou em ficar com o dinheiro?
SC: Em nenhum momento eu pensei em outra coisa a não ser devolver. Quando levei o dinheiro para casa, o povo, minha mãe, mandou eu jogar fora, me livrar, porque era dinheiro sujo e ia me dar problema. Mas me agarrei com a sacola e não deixei ninguém encostar. Fiquei com o dinheiro por mais ou menos uma hora até chegar uma viatura que pedi de apoio e dois delegados.

Como está sua cabeça hoje?
SC :  Posso dizer que estou vivendo um verdadeiro inferno-astral.

Por quê?
SC :  Tenho passado por muitas pressões. Da imprensa, que quer a todo momento falar comigo, de pessoas que desconfiam de mim, que acham que eu peguei uma parte do dinheiro pra mim, e de pessoas que discordam da minha atitude. Ficam dizendo que eu deveria pegar uma parte ou o dinheiro todo para mim. Mas tenho certeza que com o tempo, um dia isso passa. É natural que aos poucos eu vá relaxando. Não que eu vá me descuidar, mas vai melhorando.

Você se arrependeu de ter devolvido todo o dinheiro?
SC :  Não me arrependi dessa decisão de forma alguma. Algumas pessoas me aconselharam a fazer outra coisa e tal, mas não fiz. Tenho a consciência tranqüila. Espero que a honestidade prevaleça sempre, e quero que esse exemplo sirva para todos, do mais humilde ao mais poderoso.

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