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Dez anos no terreno do cordel

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Grande responsável por dar fôlego novo no cordel potiguar, a Casa do Cordel tem se destacado pelo trabalho de valorização da cultura popular, se tornando ponto de referência para pesquisadores do Brasil e do exterior. Fundado pelo escritor e compositor Erivaldo Leite – o Abaeté do Cordel –, o espaço vai completar em janeiro de 2017 uma década em atividade.
Espaço importante para difusão da arte e literatura de cordel, Casa do Cordel vai completar dez anos e prepara várias atividadeS
Para comemorar o feito, Abaeté está preparando uma programação especial com lançamentos de livros, saraus poéticos, shows musicais, oficinas e exposições. Mas para realizar essa festa,  ele apostou na estratégia do financiamento coletivo pelo site Catarse. Quem colaborar, além de fazer com que a o evento aconteça, garante recompensas variadas (cordel comemorativo, camisa, ecobag, xilogravura).

“Recebo visitas de escolas, de turistas, gente de todo o Brasil, além de pesquisadores estrangeiros que vêm em busca dessa linguagem peculiar de contar histórias”, diz Abaeté. Ele lamenta as dificuldades para manter um espaço voltado para a cultura popular, mas independente disso, sabe que está fazendo o que gosta. “Posso não ter dinheiro, mas sou feliz com o que faço”.

Seu acervo de cordel é gigantesco. Alguns folhetos datam das décadas de 1940 e 50. Seu mais antigo cordel é de 1927. Mas ele também está focado em manter a produção atualizada. “O RN é hoje um dos lugares onde mais se produz cordel novo”, afirma.

“Antes existia a discriminação de achar que cordel era feito por analfabeto. Hoje já vemos juízes, engenheiros, professores. Todo mundo escreve, porque é prazeroso. Além disso, as pessoas perderam a vergonha de comprar e ler cordel. A aceitação melhorou”, avalia o escritor. Além de cordéis, nas paredes da Casa também podem ser encontrados instrumentos musicais, xilogravura, radiolas, livros e outras peças.

O espaço também promove saraus, apresentações de cantadores, oficina de xilogravura, de escrita e leitura de cordel. “Ler cordel é como uma cantoria, um teatro. A métrica dá o tempo de respiro, a melodia dá o ritmo, dependendo do caso, dá até pra se cantar como coco”, explica o cordelista, pernambucano de Sertânia, terra do cangaceiro Jararaca, morto em Mossoró.
Para isso, seu diretor, o poeta Abaeté, lançou uma estratégia do financiamento coletivo pelo site Catarse. O local é hoje um espaço de visitação e formação
Com 57 anos, há 30 Abaeté vive em Natal. Em sua trajetória, já foi serralheiro, segurança e chegou a ter um mercadinho. Mas viu que sua sina era mesmo contar histórias. “Quando jovem, no interior, eu via cantadores e cordelistas nas feiras. Via a luta deles, andando à pé sob o sol. Cheguei a escrever cordéis naquela época, mas não tive coragem de seguir como eles”, lembra. A decisão de mergulhar de cabeça na Casa do Cordel só veio depois de vender seus primeiros folhetos, numa das Bienal do Livro de Natal, no Midway Mall.

“Já fiz mais de mil cordéis. Faço por encomenda para casamentos, velórios, aniversários”, diz. Para ele, os temas hoje estão mais urbanos e globais, e questões como o do meio ambiente e do trânsito aparecem bastante. No entanto, reforça que o cenário melhor para se escrever ainda é longe da muvuca das cidades. “Acho que a gente escreve melhor no interior, ao som dos passarinhos. Na cidade a gente já acorda bombardeado”. Abaeté conta que professores também o procuram para resumir livros escolares em cordéis. “A ideia é usar o material para facilitar o aprendizado dos alunos sobre determinada disciplina”, diz.

Novo endereçoe itinerância

A Casa do Cordel sempre foi na rua Vigário Bartolomeu, nas adjacências do Beco da Lama, reduto boêmio e cultural da Cidade Alta. Hoje está na casa de número 605, quase esquina com a rua Câmara Cascudo. Durante sete anos a Casa funcionou vizinho a um mercadinho, próximo a rua Ulisses Caldas. Mas Abaeté pensa em mudar novamente de endereço. “Talvez eu vá para a avenida Rio Branco. O movimento lá é melhor, passa mais gente, inclusive do interior”, diz.

Abaeté comenta que além das visitas de estrangeiros para conhecer mais sobre a cultura popular nordestina, ele também recebe convites para falar sobre os assuntos em outros países. “Recebo os convites, mas não posso ir. Não dá para deixar a Casa fechada por muito tempo”, explica.

Isso tem feito ele pensar cada vez mais na ideia de tornar a Casa do Cordel itinerante. “Uma vez um professor reclamou que o cordel estava precisando voltar às feiras. Fiquei pensando muito nisso. E hoje tenho a ideia de fazer a Casa do Cordel em caravana. Botar tudo num carrinho e sair pelo interior e por outros estados”, comenta.

SERVIÇO
Casa do Cordel – 10 anos. Para colaborar acesse owww.catarse.me/casadocordel10anos Meta é arrecadar R$ 15 mil. Por enquanto, só foram captados R$ 530.

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