terça-feira, 14 de maio, 2024
25.1 C
Natal
terça-feira, 14 de maio, 2024

Diário do Avoante – Ancorados em Camamú

- Publicidade -

PARAÍSO - A Baía de Camamú preserva muito da cultura local

Nelson Mattos FilhoVelejador/Cruzeirista ([email protected])

Hoje falaremos um pouco da Baia de Camamú, um lugar muito especial que supera as expectativas mais otimistas. Além de muito lindo, preserva ainda muito da cultura local e da boa receptividade baiana. São muitos povoados, diversas ilhas, muitas delas desabitadas, grandes áreas de mangue e muita paz e tranqüilidade. A comida na sua grande maioria à base de peixe, crustáceos, mandioca e feijão, tudo em forma de moqueca. Lá se faz moqueca de tudo, ovo, fruta pão, caju, banana, manga, pão, tudo cozido à base de muito dendê e leite de coco. As frutas são de uma fartura impressionante, manga, caju, goiaba, cajarana, cajá, jaca, banana (uma penca 1 real ), biri-biri, fruta pão, carambola e outras mais, tudo colhido na hora.

O transporte entre os povoados e ilhas é  feito através  de barcos, existem vários toque – toque, que fazem linhas a partir das 4 horas da manhã até o anoitecer. O lugar mais conhecido e já totalmente invadido pelo turismo e Barra Grande, que fica na entrada da baia, de quem vem pelo mar, fica localizado na península de Maraú, tudo que fica do lado leste pertence ao município de Maraú e tudo que fica do lado oeste pertence ao município de Camamú.

A cidade de Maraú fica localizada no fundo da baia, a quase 20 milhas rio adentro. É uma cidade pequena, mas bem aconchegante. A cidade de Camamú, que dá nome à baia, fundada em 1561 e já foi palco de grandes lutas e invasões, já foi a segunda economia do estado, mas teve um crescimento muito desordenado. Os holandeses e ingleses que estavam de olho em sua localização e em suas fontes econômicas, fizeram várias tentativas de invasões, sendo sempre rechaçados pelos colonos e índios da tribo Macamumu que obstruíam o canal de acesso à cidade com pedras, e dificultavam a entrada dos navios dos invasores, estas pedras até hoje estão no mesmo lugar, dando margem a varias estórias sobre o jeito baiano de ser.

A baia de Camamú é um desses lugares que deixam saudades, apesar dos beradeiros, que são aqueles que moram à beira do rio, já terem adquirido muitos hábitos da vida moderna, ainda assim vivem com os costumes dos ancestrais. Os lugarejos são de uma tranqüilidade ímpar, os veleiros que ali aportam são recebidos com um carinho especial por todos, sempre que se vai a terra volta-se com sacolas de frutas, peixes e crustáceos, ofertados com um sorriso que encanta.

Na ilha do Campinho, local de nossa primeira ancoragem, como de todos velejadores que entram nesse paraíso, somos recebidos por três figuras fantásticas, três senhoras que dão as boas vindas a todos os velejadores, com carinho tão grande que é difícil não se apaixonar, Aurora, Onilia e Aidil, a Onilia diz que já namorou até com o aviador e escritor Antoine de Saint-Exupery,  quando ele pousou na região vindo de uma de suas viagens, mostra até a casa onde ele dormiu e algumas lembranças por ele deixadas. As moquecas e cervejas servidas na casa da Aurora são puros caprichos, numa simplicidade que encanta. É difícil levantar âncora do Campinho.

A Ilha Grande de Camamú é um dos maiores povoados da região, tendo inclusive uma mineradora, que já foi uma das maiores empregadoras do município, mas hoje já tem sua produção bem reduzida. A ancoragem  na Ilha Grande também é muito boa.

A Ilha da Pedra Furada, seu nome vem da grande quantidade de pedras com furos arredondados inclusive umas enormes que servem de cartão postal, tem um banho de mar maravilhoso, mais a ancoragem fica um pouco difícil, sendo possível somente em pequeno ponto.

As Ilhas de Sapinho e Goió, entre as duas tem também outro excelente local para ancoragem, protegido dos ventos sul e sudeste, que às vezes castigam a região e com uma pequena população muito acolhedora.

Cajaíba do Sul, outro povoado que teve grande importância no período do Brasil colonial, quando as mercadorias eram transportadas pelos saveiros. Os estaleiros de Cajaíba produziram, e até hoje produzem, os melhores saveiros e escunas do sul da Bahia, recebendo encomendas do mundo todo. Todos os anos dezenas de barcos saem de seus estaleiros.

Tem as ilhas de Tubarões, Tatus e Germana, ilhas semidesertas que muitas vezes ancora-se uma semana e não se vê ninguém.

Na Cachoeira de Tremembé, no fundo da baia de camamú, a ancoragem é bem limitada, devido o espaço, mas em compensação o lugar é fantástico podendo chegar com o barco até embaixo da cachoeira que cai em meio à mata atlântica.

A região de Camamú é conhecida como costa do dendê, pois os melhores óleos de dendê do mundo saem de suas fábricas artesanais. É um lugar onde todo velejador tem por obrigação conhecê-lo e quem não quer ir de barco, mas gosta de lugares paradisíacos não pode deixar de visitá-lo. Dar adeus a camamú é muito difícil, mas precisamos suspender âncora e levantar as velas, pois ainda temos muito a conhecer, além de que  voltaremos, com certeza.  

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas