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Diretor fez de ‘Brokeback Mountain’ um drama moralista

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RELAÇÃO - Segundo o crítico, “Brokeback Mountain” está longe de ser uma obra transgressora

Por  Roni Filgueiras

O que se fala aos quatro ventos é que Ang Lee teria empurrado goela abaixo de Hollywood uma história de amor gay com “O segredo de Brokeback Mountain”. O que as oito indicações ao Oscar poderiam sinalizar é que a refeição foi apreciada pelo comensal e não tragada a contragosto. Onde estaria, então, o tal ato transgressor do diretor de “Tempestade de gelo”? A fatia do mercado gay é uma baita fatia quando se fala de cifras. Para o mercado não importam a origem, a cor, a etnia ou a determinação biológica do objeto do desejo que paga a conta, desde que as caixas registradoras tilintem. Mas o sucesso de “Brokeback Mountain” não pode ser atribuído unicamente aos adeptos do amor que não ousa dizer seu nome. Foi a massa heterossexual que viu e aprovou o drama romântico de dois homens machos que se amam virilmente.

Então, o white anglo-saxon and protestant não é mais aquele? Ao contrário do que se pode imaginar, Ang Lee arma seu drama de forma mais do que convencional. Ele retrata seus heróis a léguas do estereótipo do homossexual efeminado. Mas caricatura o vaqueiro caipira tatibitate Ennis Del Mar (Heath Ledger), as mulheres — uma (Anne Hathaway) a devoradora de homens, morena e sem papas na língua que se torna devorada de dinheiro, loura e sem papas na língua; e outra (Michelle Williams) a ingênua e conformada dona de casa — e as situações de vida ao longo de 20 anos: os pais violentos ou omissos, as mães compreensivas e impotentes e os casamentos de conveniência.

Seus personagens são chapados, sem nuanças, com exceção de um algo combativo Jack Twist (Jake Gyllenhaal). Em termos estéticos, “Brokeback Mountain” é apenas correto. Restaria ao diretor explorar a potência dramática de dois homens rudes, que convivem estreitamente num isolamento auto-imposto, cercados de ovelhas e da imensidão verde e branca das montanhas do Meio-Oeste americano. Chega a alçar um pequeno vôo na seqüência do primeiro encontro sexual dos jovens vaqueiros. Mas a broxada é inevitável dentro do projeto fílmico de Ang Lee.

Ele cria uma obra preconceituosa na medida em que se envergonha da paixão homossexual. Ela aparece furtiva nos seus arrebatamentos, na sua carne pouco exposta e nos seus desejos mais sugeridos do que mostrados. O fim — para não estragar a surpresa de quem ainda não conferiu o filme mais fraco do autor de “O Tigre e o Dragão” — também corrobora a máxima das igrejas dos bispos-macedos de plantão sobre o castigo divino reservado aos sodomitas. A mensagem do “Pai” é punitiva, moralista e catequizante. A obra não é transgressora nem corajosa. Forma, como dizia o velho comunista, afinal é conteúdo.

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