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Djavan e sua poesia

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Thiago Gonzaga
Escritor

Cantor, compositor, violonista e produtor musical, Djavan é autor de inúmeros sucessos da música popular brasileira.  Djavan Caetano Viana nasceu em Maceió, no ano de 1949. Dentre suas canções mais conhecidas estão “Seduzir”, “Flor de Lis”, “Lilás”, “Pétala”, “Sina”, “Açaí”, “Faltando um Pedaço”, “Oceano”, “Esquinas”, “Samurai”, e várias outras que embalaram gerações.

A seguir destacamos dois trechos de pequenas obras-primas de sua autoria, que mais nos despertam atenção em sua obra. O primeiro é de “Açaí”, música originalmente divulgada no disco “Luz”, quinto álbum de estúdio do cantor, lançado em 1982 pela Sony Music:

“Solidão de manhã/Poeira tomando assento/Rajada de vento/Som de assombração/Coração/Sangrando toda palavra sã/A paixão puro afã/Místico clã de sereia/Castelo de areia/Ira de tubarão, ilusão/O sol brilha por si…

Açaí, guardiã/Zum de besouro um ímã/ Branca é a tez da manhã…”

Compreendemos que é melhor sentir a poesia do que tentar entendê-la, mas esse trecho, particularmente o refrão, da letra de Açaí sempre foi uma incógnita pra nós, até assistirmos uma entrevista com o próprio músico, na TV em que ele desvendava tudo.  

“Açaí, guardiã” seria que a palmeira de açaí é que dá o sustento a muitas famílias. Cantando-a Djavan exalta   a natureza, a fruta, como se fosse sagrada, guardiã! “Zum de besouro um imã”, representaria uma espécie de som que gruda aos ouvidos, como de um besouro que zumbe na noite silenciosa e nos chama a atenção. “Branca é a tez da manhã”, também se explica. Como a colheita do açaí se dá muito cedo, a tez, no caso, parece ser  o orvalho matinal ou aquela branquitude que vemos  ao nascer do sol, sobretudo em lugares de clima mais frio. Pode ser, também, a alegria da manhã ao receber os primeiros raios solares, após uma noite escura. Além de tudo, essa branca manhã teria um sentido metafórico de solidão.

Outra letra interessantíssima está na canção “Faltando um Pedaço”, originalmente lançada no disco “Seduzir”, seu quarto álbum de estúdio lançado em 1981 pela EMI.

“O amor é um grande laço/Um passo pra uma armadilha/Um lobo correndo em círculo/Pra alimentar a matilha/Comparo sua chegada/Com a fuga de uma ilha/Tanto engorda quanto mata/Feito desgosto de filha.

O amor é como um raio/Galopando em desafio/Abre fendas, cobre vales/Revolta as águas dos rios/Quem tentar seguir seu rastro/Se perderá no caminho/Na pureza de um limão/Ou na solidão do espinho…”

Existe nessa composição uma perfeita harmonia entre letra e música, que pode contribuir para uma possível interpretação de suas antíteses. Nota-se que ao amor se concede movimento, ação, sempre comparado com as forças da natureza. Talvez tenha o compositor tentado dizer que o amor não prospera simplesmente baseado em contemplação sem as ações que dele se esperam.

Seria o amor um laço que nos prende; armadilha, que nos pega de repente, de surpresa. E esse raio chamado, simbolicamente, de amor, vem com toda força, queimando, ferindo, abrindo fendas, “revoltando” o ser humano por dentro. E, depois vai nos comandar, pelo caminho: é ele o coração, a emoção e não mais a razão. Ou escolhemos viver com ele, ou ficaremos, como um espinho, solitário no meio das rosas…

Curioso é que, apesar de muitas das letras de Djavan serem herméticas, ele declarou, em uma entrevista para o programa, “O Som do Vinil”, no Canal Brasil: “Não posso ser culpado pela ignorância e falta de conhecimento de algumas pessoas.”   Uma indireta para o jornalista Artur Xexéo, (à época colunista do jornal O Globo) que, considerou a letra de Açaí, nonsense.

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