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Do carnaval na Ribeira

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Woden Madruga [ [email protected] ]

Vai haver carnaval na Ribeira. O bairro continua sofrendo. Como sofre! Não há nada mais sem graça do que o carnaval na Ribeira. Verdade que houve um tempo, começo dos anos vinte até início dos quarenta, que havia um corso pela avenida Tavares de  Lira, saindo da praça José da Penha até o cais, não mais de que 500 metros de extensão. Mas tinha sua animação, tinha a sua graça, era o tempo da lança-perfume, das rodouros metálicas, as moças casadoiras jogando serpentinas. O poeta Augusto Severo Neto, em seu livro Ontem, vestido de menino, conta:

“Na Tavares de Lyra, ‘les automobiles décapotées’, conduzidos por Manuel Josué, Carioca, Elviro Varela, Manoel Henrique, Raimundo Gomes, Pedro Pixoleta, Aniceto e outros, se interligavam de serpentinas coloridas, que, por vezes, deslizavam do teto luzido  do carrão preto, fechado, que levava a família do coronel Aureliano de Medeiros. O percurso era do obelisco, lá às margens do Potengi, até o coreto da praça José da Penha, que era contornado, para se começar tudo de novo.”

E mais adiante o poeta vai lembrando com saudades:

“Nosso carro, além de confetes coloridos colados e de mil acenos de arco-íris de serpentinas, carregava faixas que diziam assim: “Sempre Rainha! A TEUTÔNIA é a cerveja da actualidade!”(…) As filhas de Montano Emerenciano, pai do meu caro Zé já falecido no começo, apareceram com o primeiro carro alegórico que vi em minha vida. Primavera. Achei que esse era o nome. Flores. Flores e mais flores. Caramanchão ambulante e lindo. Lindas as ocupantes floridas.”

A cerveja Teutônia era vendida em Natal pela firma Severo, Gomes & Cia, do pai de Augusto, Sérgio Severo, localizada na Rua do Comércio, hoje rua Chile, representante da Cia Cervejaria Brahma. O anúncio ainda dizia: “Para o que sofre do fígado, do estômago e dos intestinos a Brahma apresenta a sua maravilhosa Água Tônica e o insuperável Guaraná Atleta.”

Lair Tinôco, no livro de suas memórias,  Tempo de Saudade, conta que o seu namoro com Rômulo Tinôco começou no carnaval da Tavares de Lira: “O carnaval de 1932 estava destinado a surgir aquele que seria o companheiro da minha vida, o meu grande amigo, o meu marido. Na última noite de carnaval estávamos a minha mãe, eu e minha irmã, além de umas amigas na esquina da Frei Miguelinho com a Tavares de Lira olhando o corso, por sinal muito animado, pois o carnaval daquele tempo era na Ribeira. Bem em frente ao nosso grupo para um carro de capota baixa, repleto de rapazes, todos eles vinham vestindo calças brancas e camisas pretas. Chamou a minha atenção um rapaz alto, moreno claro e simpático, olhando muito para mim.”

Além de ter um comércio robusto, a Ribeira era também um bairro residencial. Dona Lair Tinôco morava a duas quadras de onde ela via o corso e descobriu o namorado. Sua casa ficava na mesma rua Frei Miguelinho. esquina com a Ferreira Chaves. Hoje, naquela parte do bairro, cortada pela avenida Duque de Caxias, onde se  “inventou” fazer o  novo carnaval, não chegam a morar 100 pessoas. A Ribeira que reúne um rico patrimônio histórico e arquitetônico, é uma bairro decadente, abandonado, mau tratado. A  Duque de Caxias, sua principal avenida, onde escoa mais de 90% dos veículos que cortam o bairro, já sofre há muito tempo dessa doença incurável que é a “imobilidade urbana”. Agora será usada para um carnaval sem graça. Para onde vão desviar o tráfego pesado (passam até as carretas que vão ao porto inadequado)? Como eu vou chegar à redação da TN. Protesto com a carga pesada de quem  carrega no lombo 60 anos trabalhando neste bairro. Às vezes me acho mais velho do que a estátua de Augusto Severo, o avô do poeta aqui citado. Mereço todas as medalhas!

Saudades das meninas em flor, das serpentinas e dos confetes de Augusto Severo Neto em corso pela Tavares de Lira. Saudades das memórias de Lair Tinoco, cuja mãe tinha um armarinho na rua Doutor Barata, onde ela também morou. Eis aí dois livros que merecem ser reeditados. Já. A Ribeira merece.

De semente
O governo do Estado prometeu distribuir sementes aos agricultores, que já cortaram suas terras lavadas pelas últimas chuvas, mas não vai cumprir com a palavra. Não há sementes nos armazéns da Secretaria de Agricultura. Mais grave: o governo ainda não pagou as sementes que comprou no começo do ano passado. A empresa já fez todas as tentativas para receber o que o Estado lhe deve. Nada.

A conta passa dos três milhões de reais, sem contar os juros.

Chuva
O boletim de ontem da Emparn traz notícias de algumas chuvas pelo interior do Rio Grande do Norte, mais na região Oeste: Severiano Melo, 36 milímetros, Mossoró, 21, Umarizal, 16, Janduís e Patu, 8, Itaú, 7.  No Agreste: Barcelona (ribeiras do Potengi), 16, Serrinha, 11, Nova Cruz e São Bento do Trairi, 5. Fininhas pelo Litoral Sul.

Ticiano
Ticiano Duarte passou o fim da semana em Brasília, participando de uma reunião nacional da Maçonaria, gente de todas as partes do país. Chegou lá na quinta-feira. Na sexta, numa folga da pauta,  tentou  uma investida no cenário político.  Ninguém pelas esplanadas.

A coisa mais rara em Brasília é ver político por lá no final de semana.

Política
Ouço na CBN: “Insatisfeitos com o governo, partidos aliados se uniram em bloco informal para pressionar a presidente Dilma”. A informação completa: “O grupo da Câmara dos Deputados será integrado por parlamentares do PP, Prós, PMDB e até parte do PT”.

Tudo aconteceu depois de uma reunião, segunda-feira,  com o presidente em exercício Michel Temer,  no Palácio do Planalto. Foi preciso o vice-presidente Temer entrar em campo “para acalmar os ânimos dos partidos governistas”

Até Vicentinho, líder do PT na Câmara, enfileirou para Temer as insatisfações dos companheiros do partido.

Pagamento

Até ontem à tarde o governo do Estado não havia confirmado o início do pagamento de fevereiro ao funcionalismo estadual. E o carnaval já está nas ruas de Mossoró.

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