quarta-feira, 24 de abril, 2024
32.1 C
Natal
quarta-feira, 24 de abril, 2024

Do lado de cá de Guaraíras

- Publicidade -

Eliade Pimentel – Repórter

O caminho é curto. Logo ali. A 50 km de Natal, ao sul, pela BR-101, com entrada à esquerda no trecho entre São José e Goianinha. Mas em vez do tradicional caminho praiano, um roteiro extenso e por uma natureza quase intocada. A equipe do caderno FIM DE SEMANA realizou um passeio diferente, a jornada de um dia em Georgino Avelino, o menor município do RN, com apenas 26 km de área de extensão. Para chegar ao destino, a viagem foi feita de carro. A trilha a que nos propusemos foi percorrida a pé, de canoa, balsa e lancha.
#ALBUM-3758#
Foi uma espécie de reconheci-mento de área para sugerir aos leitores que se permitam – neste feriado – fazer uma visitinha com a família ou amigos ao paraíso quase inexplorado, localizado bem próximo da Capital. Surpreenda-se com cada detalhe da trilha que apresentamos a seguir. O município é banhado pela Lagoa de Guaraíras e esconde um visual exuberante em meio a manguezais, dunas, coqueirais e nichos de mata atlântica. 

A lagoa é o sustento de muitos moradores, que exploram a riqueza proveniente das águas, que tem peixes e mariscos em abundância, e as margens para o comércio. Nesse contexto, fomos apresentados inicialmente à dona Jacira Januário, do bar e restaurante Pontal de Guaraíras. Ela nos serviu um petisco de camarões graúdos, com macaxeira, desculpando-se de que estava sem ingredientes para a salada, porque fora pega de surpresa.

Normalmente, a comerciante abre o bar bem cedinho e atende até o último cliente. Caso algum grupo planeje ir comer em seu estabelecimento, ela mantém o telefone sempre ligado e trabalha sob encomenda. À exemplo dos colegas comerciantes redondeza, ela também não recebe clientes com regularidade. No cardápio, além do camarão, vendido a R$ 15 a porção, ela serve caldos que variam entre R$ 3,50 a R$ 5 (dependendo do tamanho), de sururu, ostra e liliu (um marisco típico da região).

Os pratos de peixe são negociados, variando de acordo com o tamanho do pescado. “Já servi um robalo grande, que foi dividido para seis pessoas, a R$ 70”, explica. O preço do almoço é a partir de R$ 8 por pessoa. “As pessoas sempre elogiam que a cerveja aqui é muito gelada”, diz.  

Quando o cliente se senta à mesa de dona Jacira, também pode usufruir da pesca “ao vivo” de Adailma Alexandre de Almeida, que passa a maior parte do seu tempo na lagoa, pescando ostras que são servidas aos turistas. Quando os visitantes chegam, se ela não estiver no local, alguém manda chamá-la em casa ou via celular. Aos domingos, a pescadora marca presença com o marido, que vende bebidas, e já chegou a vender 150 ostras em dias de fluxo intenso.

Diante da equipe, ela mostrou toda sua habilidade de quem pesca desde os 9 anos de idade. Retirou ostras da lagoa, abriu-as, serviu todas numa bandeja, que foram degustadas com sal, limão, azeite e cominho. Na ocasião, ainda era um pouco cedo e ela perguntou se havia alguém em jejum, porque se trata de um alimento muito forte, para o qual recomendou cautela. Foi ela quem atravessou o grupo à outra margem da lagoa, remando uma pequena embarcação de madeira. 

A canoa é o meio de trans-porte de muitos moradores, que a utilizam para realizar seus diversos ofícios. O ar bucólico da paisagem nos remete realmente ao passado, aos primeiros moradores da região, os indígenas. 

Trilha até praia de Marlembá: beleza refletida em espelho d’água

Pouca gente conhece a trilha que começa na Lagoa de Guaraíras e vai até Marlembá (única praia de Georgino Avelino), que se comunica com Tibau do Sul pela balsa. Cerca de 3 km percorridos a pé, com o objetivo de alcançar a paradisíaca praia. O objetivo da trilha é caminhar sem medo de ser feliz, apreciando a paisagem – enquanto ainda está praticamente intacta, porque a área pertence a um grupo francês e não se sabe até quando permanecerá acessível à população.

Segundo o músico e ativista ambiental Leonardo Pinheiro, que acompanhou a equipe de reportagem na trilha, juntamente com o guia-mirim Naelson Germano, o Foguinho, existe um acordo entre os proprietário e o Ministério Público, estabelecido em audiência pública, para que o povo continue a usar a trilha como sempre fez. E claro, isso inclui os turistas.  

No meio do caminho, os trilheiros se deparam com cajueiros, araçazeiros, gravatazeiros e outras árvores nativas dos  tabuleiros costeiros de mata atlântica. As árvores oferecem frutos, cada qual em sua época, além de proporcionarem sombra para quem precisa descansar o trajeto. O espetáculo da natureza continua, com aves de vários tipos que sobrevoam ou pousam às margens da lagoa: carcarás, maçarico do bico torto, garças, marrecos e galinhas d’águas. A paisagem muda. Em um certo ponto, o solo é arenoso. Sinal de que a praia está próxima.

Subimos uma duna e olhamos para trás. Linda vista da lagoa, que forma um imenso espelho d’água a se perder de vista, e da cidade de Georgino, que nos observa do alto, com suas casinhas coloridas. No entanto, a imagem de alguns viveiros de camarão – ao longe – não é muito agradável. Mas, fazer o quê: o poder público durante muito tempo foi – e continua sendo – permissivo com os criadores, incentivando a produção em cativeiro. Infelizmente, não há muita fiscalização e a atividade acabou se tornando responsável pela degradação de boa parte dos manguezais potiguares.

Mais um pouco de caminhada, dentre subidas e descidas nas dunas, os aventureiros alcançam o objetivo. Mar à vista, um pouco à esquerda. A linda praia de Marlembar é um convite ao banho. Dá vontade de brincar feito criança: o último a chegar é a mulher do padre! A reportagem ainda tinha muito o que ver e mostrar e e não caiu naquela água límpida, mas foi difícil resistir à tentação.

Encantos no lado de Tibau

A travessia entre Marlembar e Tibau é realizada na balsa, que leva pessoas em veículos ou a pé para a outra margem. Lá, conhecemos o paulista Irvando Molina, conhecido como Farmácia, que explora o passeio de caiaques pelos manguezais. Sua empresa Bicho do Mangue começou com uma embarcação e  agora dispõe de várias, individuais e duplas. O passeio tem cerca de 2h30 de duração e é realizado uma vez por dia: sai com a maré enchendo e retorna com a maré secando. “Qualquer pessoa pode ir, não é necessário ter experiência, nem preparo físico excepcional para encarar o remo”, garante.

Na praia de Tibau, há algumas barracas para atender os turistas. Escolhemos a Pôr do Sol, há três anos administrada pela portuguesa Dina Sousa, por apresentar um cardápio versátil: comida brasileira praiana e portuguesa. Ciente de que só faria sucesso se oferecesse uma boa peixada típica do nosso litoral, a comerciante se reveza a cozinha com uma cozinheira nativa. A casadinha ficou perfeita. Enquanto conversávamos, um delicioso – e muito honesto – bolinho de bacalhau foi  preparado e servido.
Os preços da barraca são convidativos: bolinhos e croquetes, R$ 3; caldos a partir de R$ 8; saladas, R$ 12 em diante, polvo e bacalhau à lagareiro, por R$ 45; arroz de polvo e camarão, R$ 40; camarão grelhado com frutas e saladas, R$ 30, e peixe a R$ 35 (refeições para duas pessoas). O peixe inteiro é negociado de acordo com o tamanho. Duas comensais – residentes em Tibau – agiam com ares de habituês, aproveitando a tranquilidade da praia enquanto ainda não é verão.

A conversa rendeu um bocadinho mais, enquanto aguardávamos a lancha que nos levaria a Georgino Avelino. Zarpamos, de volta pela Lagoa de Guaraíras, rumo ao esperado almoço preparado por Tia Lúcia, esposa do chef francês Momô.
 

Um quintal encantador

A entrada original do restaurante Paraíso Tropical, do casal Dalva Lúcia e Maurice Fayard, é pelo quintal, muito bem cuidado, com plantas ornamentais e flores. Mesas coletivas com toalhas floridas compõem o ambiente. Normalmente, a casa trabalha com grupos, mediante reserva, e oferece o que tem disponível na despensa. Não há um cardápio específico. O serviço começa pela entrada, geralmente camarão ao uísque e curry e filé de tainha ao molho de limão. 

A refeição propriamente dita é farta: peixe em posta frito, galinha caipira, arroz ao curry e cenoura, batata frita, feijão (com vegetais). Outros tipos de fontes de proteínas variam, como a costela de boi, de porco e carneiro, porém, sempre há peixe e camarão. “Minha família é numerosa, somos muitas irmãs, por isso aprendi a cozinhar muito jovem. Mas aprendi as receitas especiais com Momô”. Ele brinca dizendo que a mulher, com que se casou há 9 anos, aprendeu todos os seus truques e segredinhos de chef.

Depois do almoço, ela serve sobremesa, digestivo – para quem aprecia – e o cafezinho. Com todos os membros da equipe saciados, mesmo sem participarmos do ritual como um todo, batemos em retirada. A vontade mesmo era esticar o corpo numa rede. Atenta aos detalhes, Tia Lúcia, como é carinhosamente conhecida na cidade, diz que em breve vai ampliar o restaurante e quem sabe, as redes serão incluídas. Uma boa desculpa para esperar o entardecer, à espera da revoada das garças azuis.

Serviço:

Georgino Avelino – Acesso pela rodovia BR 101, entrada à esquerda, depois de São José de Mipibu. De opcional (R$ 7,35), saindo da rodoviária “nova”  a partir das 6h.  Tel.: (84) 3205-6868.

Visual Bar (este não foi citado no texto, mas foi onde fizemos as primeiras fotos e vale pela vista incrível) – Funciona de terça a domingo, a partir das 10h. Tel.: (84) 9103-0907 (Cida/Raminho).

Pontal de Guaraíras – Destaque para o caldo de liliu. Abre todos os dias, a partir das 7h. Tel.: (84) 9169-2276 (D. Jacira).
Adailma (pescadora de ostras) – Tel.: (84) 9190-9361.

Paraíso Tropical – Funciona todos os dias (desde que haja clientes). Menu confiance, mas o camarão ao uísque está sempre presente. R. Santo Antônio, 31 (em frente à prefeitura). Tel.: (84) 9158-2343/3248-0090 (Lúcia e Momô). 
Balsa – R$ 13 (carro de passeio), R$ 10 (buggy) e R$ 2 (pedestres).

Tibau do Sul – Acesso pela BR 101, entrada em Goianinha, ou pela balsa, para quem segue pela praia. De ônibus (R$ 8), empresa Oceano (saindo da rodoviária “nova” a partir das 6h), ou opcionais em Goianinha (ponto final: igreja católica). 

Barraca Pôr do Sol (Dina Sousa) – Culinária Portuguesa e brasileira. Funciona de terça a domingo.

Bicho do Mangue – Expedição de caiaque pelo manguezal. R$ 30 por pessoa. Tel.: (84) 9928-1087 (Farmácia).

Passeio de lancha – Duração de 1h30 a 2h, com paradas em bancos de areia e banho e argila no manguezal. A lancha também pode servir apenas de transporte para o retorno a Georgino Avelino. Preço mínimo para saída: R$ 100. Tel.: (84) 9132-7116 (Ailson).

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas