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Do lugar

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Vicente Serejo
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coluna

Foi coincidência, mas não nego que possa parecer artimanha de cronista sem assunto. Na leitura do novo e grandioso ensaio do antropólogo Antônio Risério – ‘A Casa no Brasil’, Topbooks, Rio, 2 919 – uma narrativa erudita, ágil e moderna, logo no terceiro capítulo, trata do conceito teórico e prático de ‘lugar’. Saí grifando lembrado dos que, na simplicidade atávica do seu amor à terra, chamam suas cidades de origem de ‘meu lugar’, sem precisar citar o nome.

Não foi à toa que Darcy Ribeiro defendeu que a cultura humana é como um pássaro. Para ele, seria tolice imaginar um saber superior e outro inferior, subordinados entre si, se as duas asas do conhecimento são essenciais ao voo.  Ainda que se separem sobre elas a cultura erudita e a popular, as duas se completam. Uma sendo a ancestralidade da outra, renascidas e reproduzidas na boca do povo pela força eterna e permanente da transmissão oral e coletiva.
No terceiro capítulo, antes de entrar na casa, Risério tem o cuidado erudito de fixar no título: “Leitura do Lugar”. Primeiro confessa ter pouco encantamento, até sentir um tédio, com a leitura dos filósofos modernos nos seus complicados enunciados, o que chama de “divagações filosóficas rebuscadas em excesso”. Depois, vai buscar no norueguês Christian Norberg-Schulz a base que precisa para expor a idéia sobre a importância “para cada pessoa”, de ter um ‘lugar’.

 Risério recorta uma pequena frase de Norberg-Schulz, perfeita como definição de lugar: “O mundo da vida cotidiana”. E de forma mais extensa: “Lugar é algo mais do que uma localização abstrata. É uma totalidade constituída de coisas concretas que possuem substância material, forma, textura e cor”. É algo que pode ser “uma cidade, um bairro, uma rua, uma casa”. E mais: pode ser uma paisagem natural ou assentamento construído pelo próprio homem.

É esse pertencimento, para usar a expressão muito em voga, esse sentir-se parte de um espaço físico definido, que define de forma intensa a ideia possessiva do ‘meu lugar’ como é usado quando é preciso informar de onde se é e de onde se veio. Todo mundo, pois, tem um lugar. Dai a beleza do sertanejo naquela visão estética de Oswaldo Lamartine quando diz que cada um carrega o sertão da infância pelo resto da vida, nem que seja o quintal de sua casa.

Todo mundo, pois, tem um lugar e a ele pertence. De Adão, que teve o Paraíso e, lá, de alguma forma, seu lugar e sua casa, aos imperadores, presidentes e favelados. Le Corbusier, na perfeição absoluta, definiu assim a casa, o chão do lugar que se escolhe para viver: “Um abrigo contra o calor, o frio, a chuva, os ladrões, os indiscretos”. O resto, afirma Le Corbusier, “são imensos telhados inúteis” e “raras janelas em forma de pequenos quadrados”. Genial, não?

NOVENTA – A Academia de Letras celebra os 90 anos da presença de Mário de Andrade no RN. A lança a biografia escrita por Jason Tércio e a exposição da pesquisa de Deífilo Gurgel.

REVISTA – Por falar em Academia: vai ser terça-feira próxima, às 17h, o lançamento da nova edição da Revista da ANL. Deste escrevinhador tem um texto que homenageia Lenine Pinto.

LUTA – O Movimento em Defesa da Liberdade de Expressão, liderado nacionalmente pela Associação Brasileira de Imprensa, reuniu, ontem, várias entidades no Sindicato de Jornalistas.

QUEM – Além dessas várias entidades sindicais, assinaram o manifesto no RN representantes da OAB, Associação de magistrados em defesa da liberdade, artistas, jornalistas e intelectuais.

EFEITO – O discurso do presidente Jair Bolsonaro na ONU foi coerente com o autoritarismo que marca seu estilo de governo, mas produziu uma repercussão negativa. Aqui e no exterior.

GESTÃO – O arcebispo de Mossoró, Dom Mariano Manzana, pode garantir autosustentação da Diocese de Santa Luzia. E já vem sendo considerada uma administração financeira exemplar.

GRAVE – Denúncia dos artistas na reunião do Sindicato de Jornalistas para a assinatura do manifesto pela liberdade de expressão: hoje os dois teatros públicos de Natal estão fechados.

SILÊNCIO – De Nino, o filósofo do Beco da Lama, entre uma e outra garfada de guisado, os olhos correndo pelo beco calmo e deserto: “O silêncio salva mais do que consagra um cristão”.

REPIQUE – Não era tão certa a convicção de que o quadro técnico da Secretaria de Tributação da Prefeitura de Natal não paralisaria as atividades. A greve foi aprovada e agora não há outro caminho a não ser negociar uma saída pactuada. Coisa que político deve saber fazer muito bem. 

ELES – Os amarelinhos, reluzentes e fagueiros, sequiosos e famélicos, estão outra vez à sombra do algodoeiro da Amintas Barros com a Xavier da Silveira. Empunhando seus talões e apontando olhos para os carros que passam. Mas nunca avistam os ônibus e suas infrações.

SERÁ? – O presidente da Câmara, vereador Paulinho Freire, segundo algumas almas falantes dos corredores do legislativo, quer discutir o Plano Diretor na próxima legislatura. Terá força?

Nem o mais sabido dos vereadores saber dizer se Paulinho resistirá às pressões. É observar.

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