Vicente Serejo
Algumas vezes, Senhor Redator, e muito pretensamente, chego a pensar que sou mesmo um Paulo Francis do mangue, como diz um amigo gozador. No pior sentido. Não posso errar. Logo apontam, sôfregos e felizes, os longos e perfurantes espinhos de mandacaru. Depois, caem numa tola inutilidade. Não lembram que sou cronista mundano, apanhador de caranguejo no manguezal literário, sem o bafejo pedante que sopra da boca de alguns dos nossos intelectuais conterrâneos.
Digo do mangue, confesso, pela intimidade inegável. Fui menino perto dele, bem do outro das águas mais próximas do rio e do mar. Cresci comendo caranguejo, o que faço até hoje, se não posso quebrar outras carapaças mais nobres. De branco, como um sinal de pureza, só as garças que nas marés baixas vinham caçar pequenos peixes e moluscos que se mexiam na lama e aguçavam a fome daquelas aves que esvoaçavam sobre o negrume da lama até que o mar viesse cobri-los.
Gozo a mim mesmo e fico conformado. Melhor do que regurgitar as genialidades e aleijões que a falsa literatura nos impõe. Outro dia, entre um uísque e outro, ouvi de um amigo seu espanto diante de tanta coisa ruim e banal amontoada sobre uma mesinha do lado. Não guardo, respondi sem demora. Leio, fico vacinado, e faço doação para um sebista amigo. É só pra ter uma leve certeza de que muito raramente os poemas, os contos e romances deixam um gosto bom na boca.
Não perco tempo em comentar, pois é mais legitimo para quem compra os livros, enfrenta o destemor de trazê-los e lê-los, um a um. Algumas vezes, devo mesmo confessar, acabo feito um bruxo a gostar dos versos tiranos e medonhos que encontro por ai. Não representam, como diria Hannah Arendt, a banalidade do mal. No caso, são a banalidade do andrajoso, do poema mal feito de corpo, mas de gravata borboleta, a andar por ai esfaqueando o bom gosto feito faca-peixeira.
Pobre de nós, os do manguezal literário, a quem a glória negou o aplauso. O jeito mesmo é ficar por aqui, olhando a cidade de longe e suas luzes nervosas quando a noite vem. E não é tão ruim espiar o mundo. É verdade que sob o sol intenso e os seus raios fúlgidos as verdades ficam mais visíveis. É melhor vê-la à noite, suas luzes quando caem nos desvãos sombrios, acinzentados pelos mesmos falsos gênios, austeros, graves e empertigados, como as mais conspícuas nulidades.
Algumas noites, o manguezal se reúne aqui e faz a festa. Alguns, por puro gozo, dizem que encarnamos o espírito de Francis por deboche, na récita das obras ‘primas’ que azulam no céu do mangue. Os mais velhos, viajam em velhos poemas que fizeram a cidade de ontem, a vila calma e boa. E soltam versos perfumados, úmidos do uísque que acalmam em nós a hora agitada. É a vida, Senhor Redator. Quando vira pedra e quebra a vidraça como se fosse a rosa bruta do manguezal.
LUTA – É surda, mas intensa, a luta para entrar na lista da OAB para a vaga no Tribunal Eleitoral. Há quem avalie a posição do advogado Daniel Mariz Maia como o melhor posicionado até agora.
AVISO – No Tribunal de Justiça, protegidos pelas venda que fecha os olhos de Themis, ninguém arrisca dizer se seu plenário passa a 20 ou 21 desembargadores na sua ampliação que já é possível.
VINTE? – Um detalhe parece pesar nas mesas dos desembargadores: com 21 membros o quinto constitucional, a ser representado pelo MP, passa a ter cinco. E os juízes de carreira, gostariam?
BRILHO – A Companhia das Letras, a mais importante editora brasileira, decidiu investir no romance do seridoense Pedro Rhuas – “Enquanto eu não te encontro”. Será lançado só em julho.
OVAS – Já acondicionados em vidros lacrados e rótulos, as ovas frescas de curimatã processadas pelo chef Mano Targino que Macaíba, na sua grande tradição de pioneirismo, lança para o mundo.
TRIPLO – Hoje, 14 às 20h, em Drive thru, em lançamento triplo, Carlos Fialho, Pablo Capistrano e Marcelo de Cristo lançam seus novos livros no Colégio Cei do lado da Av. Prudente de Morais.
LIVROS – Fialho autografa ‘Não peça Nudes, papai’; Pablo Capistrano ‘Quando a História faz a Curva’ e Marcelo de Cristo ‘Tons de ver melhor’. É a geração nos Novos Escribas com seu brilho.
MILAGRE – De Nino, filósofo melancólico do Beco da Lama, olhando Natal do alto da sua mesa: “Nelson Rodrigues dizia que dinheiro compra até amor verdadeiro. Aqui inventa até intelectual”.
ÍCONE – O Colégio Cei-Romualdo mantém e consagra a sua tradição de liderança e emplaca 74 alunos aprovados em universidades públicas pelo SESU. Sete em medicina, além de quatro nos primeiros lugares da UFRN. O que atesta o elevado padrão de qualidade de um ícone da educação.
TRI – A performance do CEI vai além com a aprovação dos trigêmeos Cecília, Gabriel e Beatriz, todos Costa Lima Dantas, nos cursos, pela ordem, de Artes Visuais (6º UFRN), Tecnologia da Informação (10º UFRN) e Direito (3º lugar), esta última na Universidade Estadual do RN, UERN.
TRADIÇÃO – Mais: Beatriz crava o segundo lugar, na UFRN, a tradição em Pedagogia da família Cunha Lima. É neta do ex-reitor Diógenes da Cunha Lima e da pedagoga Moema Tinoco (falecida) e filha da educadora Cristine Cunha Lima. Ao escolher pedagogia, Beatriz seguiu o destino natural.
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